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Teste Completo: Alfa Romeo Tonale Hybrid 160 TCT Veloce

Teste Completo: Alfa Romeo Tonale Hybrid 160 TCT Veloce
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“Um Bem-necessário”

 

A Alfa Romeo é uma marca emocional, quase como uma instituição, responsável por criações emblemáticas que perduram no tempo. É o caso do exclusivo T33 ou o Monreal, passando pelo verdadeiramente italiano Duetto Spider que fez muitos experienciarem a “Dolce vita” italiana, ou criações mais conhecidas, como o Alfasud nos anos 70, e o Giulia uma década antes. Sem esquecer, claro, os mais recentes 156 e 147, que tinham nas suas versões GTA os sonhos de muitos apaixonados por automóveis, com o 4C a ter sido o mais recente modelo especial a despedir-se. 

Até agora, a marca contava com uma gama de apenas dois modelos, o Giulia e o Stelvio – que contam com versões desportivas Quadrifoglio – que mesmo com muitas qualidades, não conseguiram garantir números de vendas globais favoráveis para a marca de Arese. O Tonale vem mudar tudo isso, como um “bem-necessário”, ao contrário do que muitos poderão achar…

Em teste, a versão Veloce com a motorização Hybrid de 160cv. 

 

Exterior

A Alfa Romeo provou que consegue conceber um SUV continuando com uma imagem sedutora: fê-lo com o Stelvio, e conseguiu fazer isso novamente com este novo Tonale, que para quem não sabe, tal como o primeiro, tem o seu nome inspirado por um “passo” nos Alpes. 

Este novo modelo continua com os códigos estilísticos necessários para ser um Alfa Romeo. Na dianteira, o “Scudetto” está bem integrado, com uma forma esculpida que garante maior dinamismo e robustez a esta secção, que em conjunto com as aberturas inferiores formam o “Trílobo”, que está presente tanto no Giulia como no Stelvio, mas que surgiu no Alfa 1900 de 1950. Os grupos óticos são agora mais esguios, apresentando a nova assinatura luminosa da marca, que se espera que seja cada vez mais reconhecível à noite.

A lateral conta com uma linha de cintura elevada, optando por um aspeto mais orgânico do que agressivo, sem vincos muito demarcados. As jantes de 20’’ polegadas, opcionais por 1600€, melhoram o visual do Tonale, e conferem-lhe uma maior herança, com o aspeto “Teledial”, idênticas às mostradas no concept, mas que nos remetem para modelos como o 8C Competizione ou 33 Stradale. 

Em torno das rodas e na base dos para-choques surge a cor de contraste em preto – ou não fosse o Tonale um SUV – mas com um acabamento brilhante, o que lhe confere o dinamismo típico das propostas da marca italiana. 

A traseira conta com um óculo mais arredondado, assim como toda uma forma desse tipo, criando uma reminiscência para o Alfa Romeo Disco Volante. A faixa luminosa numa única parte é ponto de destaque, criando o mesmo efeito visual dos grupos óticos dianteiros. A cor Azul Misano (1000€) é uma das escolhas certas a tomar para quem escolhe o Tonale.



Interior

Abrindo as portas, encontramos um ambiente agradável, com um desenho que não perde o “norte”, e que, tal como exterior, segue elementos reconhecidos para os fãs da marca. 

O volante é igual ao que encontramos nos Giulia e Stelvio, assim como as suas (magníficas) patilhas de seleção. Atrás, o painel de instrumentos é digital – chamado de “Cannocchial” – podendo mesmo dizer-se que é do melhor que encontramos no mercado, surgindo ainda com um tema vintage, emulando os velocímetros do passado, sendo configurável em três diferentes modos e personalizável com a informação desejada.

Orientado para o condutor, encontramos ao centro o sistema multimédia. Com 10,25’’ polegadas, é mais pequeno do que alguns dos seus concorrentes, mas é completo graças a uma nova geração de sistemas que permite a personalização do ecrã, o controlo por voz Alexa e a conexão com os smartphones (Apple CarPlay e Android Auto) sem fios. Os comandos da climatização são físicos, o que permite uma superior facilidade de utilização por parte do condutor e passageiro.

Abaixo encontramos uma plataforma de carregamento por indução para o nosso smartphone, assim como espaços de arrumação suficientes (aqui apenas ponto negativo para o porta-luvas não ser refrigerado). 

A decoração do tablier está bem conseguida, com a faixa decorativa a “transformar-se” quando chega a noite, podendo iluminar-se com uma das cinco cores disponíveis. A bandeira “tricolore” está presente junto ao comando da transmissão automática, que conta ainda com um comando “mecânico”, ao gosto de muitos e à prova de falhas. 

Atrás, o espaço impressiona mais do que o esperado, até porque o Tonale não é tão pequeno como podemos julgar (4.528mm). O espaço para as pernas é generoso, assim como para a cabeça e ombros (caso sejam apenas três passageiros atrás). Só a entrada exige mais atenção. Confortavelmente sentados, contamos com uma saída de ventilação, duas portas USB-C, assim como apoio de braços com passagem para esquis ou pranchas de snowboard, para quando for ao Passo del Tonale, praticar um pouco na neve. 

Quanto à bagageira, com abertura elétrica nesta versão mais equipada, contamos com 500l de capacidade, apenas menos 25l que o Stelvio, que está colocado no segmento acima.

Em termos de qualidade, o Alfa Romeo Tonale pode bater-se com os seus concorrentes, apresentando-se num bom patamar, com uma montagem sólida, ainda que inclua alguns plásticos mais rijos nas zonas inferiores, assim como no topo das portas traseiras. 

No interior, apenas gostaríamos que existisse uma maior capacidade de personalização para além da escolha entre Alcantara ou Pele Preta, assim como uma diferente solução para os encostos de cabeça, que quando não estão a ser usados “cortam” demasiado a visibilidade para o vidro traseiro.



Condução

A eletrificação é um futuro assumido pela marca, com o Tonale a ter a tarefa de iniciar esse percurso, de uma forma particularmente interessante para o cliente particular.

Denominado de Hybrid, o Alfa Romeo Tonale conta com um motor quatro cilindros com 1.5L, projetado para o uso híbrido, num ciclo Miller, atingindo uma elevada taxa de compressão (12,5:1). 

Nesta versão com 160cv (existe outra de 130cv), o turbocompressor de geometria variável garante uma maior capacidade de resposta quando as rotações são mais baixas, assim como uma superior performance quando exploramos melhor o propulsor. 

O “motor elétrico” P2, de 48 volts, garante um impulso de 15kW e 55Nm. Mas não é apenas um Mild-Hybrid “convencional”… 

Isto porque o Tonale conta com uns “truques na manga” que lhe permitem ser mais poupado: o Alfa Romeo liga-se (quase sempre) em modo silencioso, é possível manobrar, circular em filas de trânsito ou até a velocidades mais elevadas (quando o terreno é plano) em modo elétrico, desde que se toque apenas gentilmente no acelerador. 

Para além dessa poupança em termos de combustível, o modo “e-Boosting” aumenta o binário para as rodas, graças ao sistema elétrico, melhorando a capacidade de resposta em altura de ultrapassagens. 

Na prática, o sistema funciona bem, garantindo mesmo uma poupança visível em percursos citadinos (e não só). A comutação para o motor térmico corre – na maioria das vezes – de maneira suave, com as vezes em que isso não aconteceu a ter sido a muito baixa velocidade, fazendo-se notar. 

No entanto, este não é um Alfa Romeo desportivo, pelo que se deve abordar o Tonale Hybrid 160 de uma diferente maneira. Ainda assim, as performances são aceitáveis para um automóvel que, graças à micro-hibridização, não sofreu com o aumento de peso. 

Com isso, passamos para o comportamento. Tal como os outros modelos da sua gama, o Tonale conta também com o sistema DNA que permite alterar o comportamento dinâmico, tocando em parâmetros como a assistência da direção ou a resposta do motor. O “a” é o que nos permite consumos mais comedidos, limitando as performances, enquanto o “n” é o mais natural e que deverá ser o utilizado na maioria das vezes. 

A direção é mais rápida do que poderíamos esperar, algo que exige até alguma habituação inicialmente, sendo depois algo leve, o que não ajuda muito a “ler” o que se passa com as rodas dianteiras. Em termos de amortecimento, as jantes de 20’’ fazem-se notar, mas não prejudicam em demasia o conforto, recaindo a maior parte da culpa para o estado do pavimento, do que propriamente o trabalho feito pela Alfa Romeo. 

Passando para o modo “d”, o Tonale transforma-se mais num Alfa Romeo, passando a contar com uma resposta mais imediata. A transmissão passa a “alongar” mais cada relação e a direção ganha o peso que lhe falta no modo “n”, continuando a ser rápida na incisão em curva, mas com o peso extra a revelar-se mais “ligada” ao condutor. 

A transmissão automática conta com um modo manual, que é verdadeiramente isso, com as patilhas de seleção a passarem a ter uma verdadeira função em vez de apenas forma. Não é uma transmissão tão entusiasmante como as do Giulia ou Stelvio – algo que já era esperado – mas que serve para este conjunto híbrido. 

No modo mais desportivo, encontramos também a possibilidade de escolher entre dois níveis de amortecimento, um normal que a marca chama de “Soft”, e um mais desportivo, apenas disponível neste modo de condução. Tudo depende da estrada e da condição do piso, mas é mais uma maneira de demostrar que o Tonale tem os ingredientes Alfa Romeo. 

Os movimentos de carroçaria são controlados, com o adornar a não aparecer em demasia, mesmo quando o ritmo aumenta, algo que aliado a uma elevada dose de aderência consegue tornar este Tonale bastante dinâmico. No entanto, o motor não conta com um grande caráter, já que pela sua criação focada na eficiência, não é o mais prazeroso de explorar, assim como uma sonoridade que não é muito estimulante. Aqui já foi mais complicado cumprir a pesada herança…

O sistema de travagem cumpre, não exibindo falhas, contando com uma mordida forte. 

Em termos de consumos, ao longo de quase 800km ao volante deste Alfa Romeo, o valor apresentado no computador de bordo foi de 6,6l/100km, um bom valor tendo em conta que estamos perante um SUV de dimensões (já) generosas e um motor gasolina com 160cv. Num percurso mais calmo conseguimos mesmo fazer 100km com uma média de 5,6l/100km, mas as estradas retorcidas e a autoestrada durante vários quilómetros não permitiram menos. 

Resta ainda falar dos sistemas de ajuda à condução, algo de que este Alfa Romeo Tonale está bem-dotado. 

O Tonale contava com um sistema de cruise-control adaptativo, que funcionou corretamente, assim como pode contar com um Pack de assistência à condução autónoma L2 (1600€), que passa a contar com câmara 360º, deteção de ângulos mortos, espelhos exteriores eletrocromáticos, assim como sensores de estacionamento ao redor da carroçaria. 

O assistente de via ativo é possível de desligar apenas com dois toques na extremidade da manete dos piscas, o que facilita quando não queremos que o sistema perturbe a nossa condução em determinadas situações, mas que é útil em viagens mais longas. 



Conclusão

O Alfa Romeo Tonale revela-se, tal como dito no título, um “bem-necessário”. Era preciso ter um automóvel no segmento C-SUV, mesmo que muitos quisessem um sucessor do Giulietta. Capaz de se bater com os seus concorrentes premium graças à sua estética, o interior embora não pareça tão digitalizado é uma mais-valia para quem pretende facilidade de utilização, assim como um estilo desportivo. O engenhoso sistema Mild-Hybrid, mesmo não sendo perfeito, funciona, enquanto a sua dinâmica situa-se acima de muitos dos seus rivais. O preço inicia-se nos 38.343€, o que mostra bem o tipo de cliente a que se destina, com a unidade em teste – Veloce, a mais equipada e com opcionais – a pedir em troca 53.487€.

A verdade é que o “Efeito Tonale” já se faz sentir, com um gigante aumento de vendas tanto em Portugal… como na Europa. 

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!