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Estivemos com a Toyota Gazoo Racing no Rally de Portugal

Estivemos com a Toyota Gazoo Racing no Rally de Portugal
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“A magia dos ralis”

 

É verdade, já passou algum tempo desde que a poeira assentou nos troços onde uma lista de 87 pilotos (e co-pilotos) passaram durante a última edição do Rally de Portugal. As nossas roupas já não têm pó, os exageros feitos na alimentação já foram minimizados e o cansaço desses dias também já desapareceu, mas as memórias de mais um rali junto com um público entusiástico ficam. E essa é a magia dos ralis.

Tivemos o prazer de passar dois (dos três) dias de prova com a Toyota Gazoo Racing e acompanhar de perto vários momentos da competição, desde as passagens nos troços de Felgueiras e Fafe, bem como conhecer (alguns) segredos na área de assistência situada em plena Exponor.

 

Abrir a porta…

Todos os Rally de Portugal são diferentes: as condições são incertas, os perigos vários e estão sempre “à espreita”, portanto apontar um vencedor antes da prova começar é algo muito difícil (e irrealista) de se fazer. No entanto, a Toyota conta nas suas fileiras com uma jovem estrela, Kalle Rovanperä, filho do também piloto de ralis Harri Rovanperä, que com 22 anos (sim, já nasceu em 2000) conta com um campeonato do mundo “no bolso”. No entanto, o jovem piloto finlandês ainda não tinha nenhum triunfo nesta época, após as passagens por Monte Carlo, Suécia, México e Croácia.

Seria em Portugal, a vez do campeão em título “carimbar” a sua primeira vitória?

Foi com esse pensamento que abri a porta do Toyota Corolla Cross que me separou de Lisboa até à sede da Toyota Caetano Portugal, em Vila Nova de Gaia, onde esperavam por nós para dois dias de muita emoção, competição e ruídos ensurdecedores. Mas quanto a isso, já lá vamos.

O caminho

A A1 é a via que nos liga ao Porto, que em menos de três horas alcançamos. Eu e os meus colegas que partilharam o SUV compacto da marca nipónica comigo estão expectantes, nem mesmo o acordar cedo nos tira a motivação de ver o primeiro carro de Rally. O Corolla Cross – modelo que conhecemos na apresentação nacional –  é bem diferente da máquina de Rally1 da marca japonesa, baseada no Toyota GR Yaris (que por aqui já testámos de uma forma pouco convencional, ou talvez até demasiado). Equipado com o motor 2.0 Hybrid com 197cv, conseguiu imprimir um bom andamento e, mesmo num trajeto onde os híbridos menos gostam de andar (autoestrada), deixou no computador de bordo uma média ligeiramente acima dos 6l a cada cem quilómetros, conferindo ainda uma boa dose de conforto e espaço suficiente para estes três adultos, sedentos de competição.

Equipar e ir

Chegados à Toyota Caetano, “vestimos a camisola” para os troços, equipados a rigor para ir até à Exponor, local onde iriamos já conhecer a zona de assistência, assim como repor energias gastas no caminho. O Corolla Cross fica agora parado; o autocarro é o método ideal para nos transportar de zona em zona, benefícios que sabemos bem que temos, incomparável aos milhares de espectadores que vão ter de percorrer os troços com as cadeiras, geleiras e chapéus de sol às costas. Sei bem o que isso é, já o fiz e voltaria a fazer.

Comparativamente com o WEC, onde também estive presente, a zona de assistência do WRC tem semelhanças e disparidades. Por um lado, a zona de acolhimento é parecida à que encontrámos em Portimão, com vitória do GR010, dando a oportunidade aos pilotos e suas famílias, bem como convidados, de terem um local onde podem acompanhar a prova de forma mais tranquila (e sem pó).

Por outro lado, aqui não existem Box nem um Pit Lane. Tudo está bem marcado na Exponor, mas são as equipas que fazem a montagem da sua própria tenda. Uma oficina itinerante que dá a volta ao mundo, assim como os seus mecânicos.

Chapa amolgada, engenheiro (mais) liberto

Infelizmente, no dia antes da nossa chegada, na sexta-feira, o piloto Elfyn Evans e o seu co-piloto Martin Järveoja, tiveram uma violentíssima saída de estrada, na etapa de Mortágua. Ambos saíram ilesos, com o carro a cumprir bem a sua função, mostrando que são cada vez mais indestrutíveis. Esse acidente tirou uma hipótese de vitória para a dupla, mas “alivou” um pouco a carga de Rui Soares, o engenheiro português responsável pelo Toyota Yaris Rally1 do piloto inglês.

Com o número 33 tapado debaixo de uma lona (mas que permitia ver a extensão dos danos), o engenheiro contou-nos um pouco sobre o grande trabalho logístico feito pelas equipas, assim como a comunicação entre os pilotos que não escondem as suas afinações, partilhando sempre as suas sensações ao volante após cada etapa ou dia de prova. Ainda assim, há muita margem para cada um deixar as suas preferências, seja através da ampla regulação das maravilhosas suspensões dos Rally1 ou da entrega de potência do sistema hibrido, algo que também só existe nesta “primeira classe” do WRC.

Rui Soares, engenheiro na Toyota Gazoo Racing

A dança dos mecânicos

Desculpe Rui, queria muito continuar a ouvi-lo, mas as pistolas pneumáticas começaram com o seu ruído característico e os meus olhos não conseguem desviar-se dos mecânicos que desmontam o Toyota Yaris Rally1 de Takamoto Katsuta e Aaron Johnston, com o cronómetro a avançar quase de forma lenta, tal é a velocidade das mãos e dos movimentos feitos por toda uma equipa que rodeia o carro, quase como formigas de volta de um pedaço de mel.

As peças “saltam” rapidamente do pequeno Toyota, e “encaixam” de novo como se fossem de velcro ou uma peça de Lego. Obviamente tudo está feito para ser assim, para conseguir reverter um carro de rali “abusado” nos troços num automóvel novo quando volta a ter as rodas no chão, debaixo daquela tenda que já deu a volta ao mundo.

Aqui, mais uma vez priveligiados, conseguimos assistir à ação bem de perto, bem como centenas de pessoas que se amontoaram nas baias, a assistir a este verdadeiro espetáculo dentro do espetáculo. Crianças, senhoras, senhores, pessoas de terceira idade que provavelmente não sabem até que piloto é aquele, mas que ficam fascinados por todo este movimento. Novamente, a tal “Magia dos Ralis” que vos falei acima…

O negócio é na estrada

Sempre que vou ao Rally de Portugal, o momento de espera até passar o primeiro carro é algo, para mim, difícil de aguentar. O relógio não avança, o sol parece que fica mais quente. Chama-se “ansiedade de primeira passagem”.

Lá vem, o primeiro dos Rally1 passa e demonstra que a areia do troço pode voar bem alto; as passagens sucedem-se, com um intervalo de tempo que nos permite preparar e apreciar a passagem destas máquinas bastante velozes, mas que infelizmente são poucas. Em Rally1, apenas três marcas participam, com três carros cada uma. Assim, são menos de uma dezena dos mais velozes carros de rali, algo que deverá ser revisto de futuro…

O Rovanperä passa, conseguindo uma distância que lhe dá uma margem confortável. Mas como se disse, nos ralis não há certezas, essas só existem quando se chega à linha de meta.

Os WRC2 seguem-se, num campeonato tão interessante como o dos Rally1. O andamento nota-se diferente, mas, ainda assim, bastante interessante.

Worldwide Copyright: Toyota Gazoo Racing WRT

Jantar e voltar à “box”

Depois de duas horas onde os olhos não saíram da estrada, voltamos novamente à mesa, onde jornalistas, responsáveis da Toyota e convidados, trocam ideias e falam do que acabaram de ver. Estes momentos conseguem disfarçar o cansaço que todos nós sentimos, acredito que sim. O jantar prolonga-se, já que a gastronomia da região assim o pede. Saímos do restaurante para lá da meia-noite, com uma program que me diz que o despertar tem de ser feito antes das cinco da manhã. Destino? Fafe.

Passar pelas brasas, no hotel e fora dele

Sim, mais uma vez somos bafejados pelo privilégio de dormir numa cama, mesmo que por apenas umas três horas, na melhor das hipóteses. Já que muitos dos que vamos encontrar no troço de Fafe, estarão lá já há muitas horas, acampados.

O despertador toca, a emoção das corridas fala mais alto. O cansaço agora é evidente em todos nós, o silêncio é imperial no autocarro que nos transporta entre o centro de Braga e Fafe. As ventoinhas eólicas ao longe mostram o destino, onde o “Salto da Pedra Sentada” é o ex-libris.

O ambiente neste local é algo que deve ser verdadeiramente vivido a apreciado. Ao contrário de outros desportos, aqui não notamos uma rivalidade entre equipas ou pilotos, aqui tudo está unido por um único propósito, os ralis. O cheiro é de churrascos, a arte é feita por esculturas de garrafas de cerveja, a inspiração são os carros que desafiam as leis da lógica nos traçados de gravilha dos troços portugueses.

As frustrações e a glória

Neste mesmo ponto onde via os pilotos passarem pelo mítico troço de Fafe, onde Rovanperä, já com o rali praticamente em “seu nome”, atacou ainda a Powerstage para garantir mais um ponto extra para o campeonato. Essa glória contrastava com a frustração e desespero de Oliver Solberg que perdeu o rali por 1,2 segundos, mesmo recuperando muito do tempo tirado devido a uma comemoração após a super-especial de Lousada. O piloto norueguês foi reconfortado pelo vencedor em WRC2, Gus Greensmith, numa categoria decidida até ao último metro de classificativa.

O pódio, mesmo à minha frente, mostrou os três primeiros colocados, com Kalle Rovanperä e Jonne Halttunen a ocuparem o lugar mais alto do pódio; o espanhol Dani Sordo – Cándido Carrera (Hyundai) ficaram com o segundo lugar, enquanto o último lugar do pódio contou com Esapekka Lappi – Janne Ferm (Hyundai).

Worldwide Copyright: Toyota Gazoo Racing WRT

As memórias que ficam

As memórias ficam, como se pode ver nesta experiência que aqui vos contei. Este foi igualmente um rali com sentimentos agridoces, já que para além do clima de festa normal de uma competição, ainda pairavam nuvens negras, numa altura em que todo o público e equipas ainda recuperavam da perda do piloto irlandês Craig Breen, nos testes para o rali da croácia.

As homenagens foram feitas por todos, seja pelo público, pilotos ou equipas. Foi para ele que Dani Sordo, colega de equipa, dedicou o seu segundo lugar. E é igualmente para ele também que o MotorO2 dedica este texto, permanecendo na nossa memória as suas passagens pelos troços de asfalto, gravilha ou neve, num desporto que consegue ser tão emocionante, como cruel, tão fascinante como devastador, mas que é o desporto que todos nós gostamos e que amamos seguir.

Romain Thuillier / Hyundai Motorsport
Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!