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Teste Completo: Mercedes-AMG SL 63 4Matic+

Teste Completo: Mercedes-AMG SL 63 4Matic+
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“Trovão de Estugarda”

 

Estamos em pleno mês de Agosto, o mercúrio do termómetro não para de aumentar, os números aproximam-se dos 40 graus celsius, o céu está azul e limpo, sem uma única nuvem no céu. Mas um estranho som de trovejar invade este cenário perfeito, um som que aumenta à medida que a rotação no painel de instrumentos ascende em direção ao “vermelho” e existe uma troca de mudança. Este é o Mercedes-AMG SL 63, o mítico roadster da marca de Estugarda, equipado com um exótico motor V8 que, para além de muitas outras coisas, faz com que seja normal trovejar em pleno dia de verão.

Junte-se a nós num “Teste Completo” ao SL, modelo que faz parte da história da marca alemã desde 1954, mas que é agora um produto AMG, juntando as capacidades de estradista pelas quais já era conhecido, ao dinamismo e desportividade das propostas desta insígnia desportiva.

 

Exterior

É inegável a beleza do novo Mercedes-AMG SL. Este é um automóvel que chama a atenção aquando da sua passagem, cumprindo com os ingredientes necessários para a conceção de um automóvel desportivo. Longo, baixo, esguio, com um capot comprido e bem demarcado, bem como uma largura generosa, uma espécie de regra de três simples de como cativar um amante por automóveis. Mas, ao contrário da matemática, aqui é tudo muito mais difícil, já que esta não é uma ciência exata.

Este novo SL, nesta sua nova vida como membro da família AMG, tem uma imagem mais aproximada à do GT, o modelo desportivo da marca que irá surgir ainda este ano. Na verdade, a Mercedes fez do SL uma espécie de novo AMG GT Roadster, algo que o futuro modelo não terá, conseguindo assim ocupar dois lugares com um único modelo.

A dianteira destaca-se pela sua grelha específica da AMG, evoca o mais ancestral de todos os SL, enquanto os faróis rasgados que surgem a seu lado criam uma sensação de ainda maior largura. O para-choques é distinto nesta versão mais exótica equipada com o motor V8, com maiores entradas de ar para arrefecer o verdadeiro “powerhouse” que se encontra debaixo do tal longo capot falado acima, com duas nervuras que conferem igualmente a imagem desportiva que este Mercedes-AMG SL não pretende negar.

Na lateral destaca-se a simplicidade das linhas, evidenciada pelos puxadores dissimulados, que se une às proporções perfeitas de um roadster destas dimensões. Não existem vincos muito proeminentes, mas há jogos de luz, assim como as rodas bem nos extremos da carroçaria, que em conjunto com o elemento negro na parte inferior o fazem parecer mais esguio. As jantes de 20’’ polegadas, com preocupações aerodinâmicas são, a título pessoal de quem vos escreve, as mais elegantes para esta proposta, escondendo o opcional sistema de travagem carbo-cerâmico que, em condução, oferece uma verdadeira sensação de segurança.

Mas o verdadeiro motivo de destaque é o regresso da capota “em lona” ao SL, algo que desde 2001 não estava presente, desde que o R230 introduziu a capota rígida retrátil que o destacou, mas que agora chega agora ao fim nesta nova geração (R232), conferindo mais elegância ao modelo, assim como uma redução de peso… para incluir umas quantas outras coisas que falaremos mais à frente.

A secção traseira é onde poderemos achar mais parecenças com o futuro AMG GT, o que está bem longe de ser algo negativo. Aqui a desportividade está bem evidente, pelas quatro saídas de escape quadrangulares, escurecidas, que são verdadeiros tenores quando o ritmo aumenta, incluídas num para-choques que teve uma verdadeira preocupação com a componente aerodinâmica. No topo, os farolins em LED são rasgados, incrementando, tal como na dianteira, a sensação de largura do modelo, numa superfície clean, sem exageros. Mesmo a asa traseira está dissimulada no topo da bagageira, abrindo acima dos 80km/h, em cinco diferentes ângulos, ou “manualmente”, se selecionado pelo condutor através de um botão.

A cor Vermelho Patagonia Bright destaca bem as linhas deste elegante roadster germânico, que tem ainda uma ampla escolha de outros tons (17), nomeadamente Manufaktur, como já por aqui foi referido, para que o SL continue (ainda mais) a ser uma proposta exclusiva.


 


 

Interior

No cockpit contamos com uma inspiração claramente desportiva, mas aliada a uma elevada digitalização, uma montra tecnológica que não camuflou a vertente de “driver’s car” que o Mercedes-AMG SL 63 apresenta.

Tal como no exterior a capota em lona regressou ao SL, esta nova geração do modelo também marcou o retorno dos lugares traseiros, sendo agora um 2+2, embora esses dois lugares traseiros sejam mais de recurso, limitados a passageiros com uma estatura de até 1,50m, o que aumenta a funcionalidade do modelo.

Este interior conta então com diversos elementos desportivos, como é o caso das saídas de ventilação do tipo turbina, que para além da componente estética são igualmente bastante eficazes, assim com uma elevada profusão de elementos em fibra de carbono (opcional) que nos remetem para o mundo da competição. A maioria dos materiais empregues neste interior é de uma qualidade elevada, mesmo em zonas mais escondidas onde os olhos e as mãos raramente irão atingir, sempre com um bom acabamento. Porém, apenas o plafonier destoa num interior com uma sensação de qualidade tão elevada quanto a deste SL 63.

A posição de condução é possível de ser amplamente regulada, graças aos bancos multicontorno desportivos, que quando estão “afinados” ao nosso corpo nos conectam da melhor maneira a este Mercedes-AMG, com uma perfeita posição de condução. Os bancos contam ainda com aquecimento, arrefecimento, massagem, assim como o Airscarf, que emite ar quente proveniente do encosto de cabeça, em redor do pescoço, para que os dias a céu aberto não se limitem apenas ao verão.

Passando para o tablier, praticamente integralmente revestido a pele, encontramos a inspiração “hyperanalogue”, como a marca chamou ao seu painel de instrumentos, que pretende unir o analógico ao digital. Este painel de instrumentos está posicionado de uma forma mais convencional, mas conta com diversas decorações, sendo possível de personalizar ao gosto do condutor, ou dependendo do momento de condução. Estão disponíveis oito temas, desde o Subtil, que nos “limpa” grande parte da informação, ao Track Pace, para quando o objetivo é aproveitar tudo o que este Mercedes-AMG SL 63 tem para nos oferecer em pista.

Ao centro, outra grande novidade. O ecrã tátil do sistema multimédia, para além de contar com uma dimensão bastante generosa e fácil funcionamento, graças aos comandos essenciais ficarem sempre no mesmo sítio, é capaz de ser ajustado eletricamente em inclinação entre os 12 e os 32 graus, de forma a que o sol não incida diretamente quando circulamos com a capota aberta. É igualmente aqui onde comandamos a abertura da capota, que demora 15 segundos a abrir (ou fechar), numa operação que pode ser feita até aos 60km/h.

Em condução noturna, o ambiente interior ilumina-se, criando um ambiente mais interessante a bordo, sendo capaz de ser personalizado dependendo do gosto ou disposição do condutor.

Quanto à bagageira, com abertura e fecho elétrico, essa apresenta 240l de capacidade com a capota fechada, ou 213l quando a capota está recolhida, mais pequena que o seu antecessor (só de dois lugares) mas que é um valor suficiente face ao uso mais aspiracional que este modelo terá durante a sua vida útil.

Quanto ao saco de golfe, o ideal é ir nos lugares traseiros…



 

Condução

Aqui chegamos à parte que mais interessa, e tudo começa com um toque no botão Start, altura em que acordamos o tal “trovão” que estava adormecido. O motor V8 tem 3982 cm3, uma mecânica verdadeiramente nobre, que debita nesta versão 63 4Matic+ uma potência de 585cv e um binário de 800Nm, números generosos que oferecem ainda outros bastante chamativos, como a aceleração dos 0 aos 100km/h em 3,6s e uma velocidade de ponta de 315km/h.

Com uma ficha técnica assim, fica esclarecido o tom “zangado” que este motor debita quando o ligamos, mas principalmente quando o exploramos, mas que acima de tudo nos faz querer cruzar várias centenas de quilómetros no lugar que mais interessa, o do condutor.

O modo Confort, é um dos 6 disponíveis, selecionado por defeito quando iniciamos a marcha. Aqui notamos desde logo a sua disponibilidade, mas com tudo a ser oferecido com uma elevada dose de suavidade. O motor nota o seu pulmão, emanando um som típico, mas mais contido; a transmissão é suave nas passagens, enquanto a suspensão absorve bem as irregularidades, apresentando um nível elevado de conforto, tendo em conta o que é capaz de fazer quando começamos a jogar com a roda que está à direita no volante e que permite escolher os modos.

Este novo SL63 4Matic+ conta com a inovadora suspensão AMG Active Ride Control, que conta com nada mais nada menos do que um sistema de estabilização hidráulica ativa, que substituem as normais barras mecânicas, compensando assim os movimentos de adornamento. Este sistema permite então uma resposta rápida de forma a evitar esses movimentos, sem prejudicar em situações de condução mais tranquila. Para além disso, o 4Matic+ no seu nome indica que o SL é agora, pela primeira vez, um “quatro rodas motrizes”, o que é bem-vindo quando contamos com 585cv de potência.

Juntando a isso, o SL passa igualmente a contar com direção ativa no eixo traseiro, o que lhe quer oferecer agilidade a baixa velocidade, direcionando as rodas para o lado oposto das dianteiras até aos 100km/h, assim como oferecer mais estabilidade, tomando a direção semelhante às dianteiras a uma velocidade superior aos 100km/h.

Passando para a prática, estes sistemas fazem com que o SL pese agora 1970kg, o que não o torna leve, mas que ao mesmo tempo o conseguem tornar rápido, senão vejamos: A tração 4Matic+ faz com que as saídas de curva (e o percurso) sejam mais rápidos, com uma maior confiança nas saídas e na abordagem, uma sensação “efortless” que sentimos em vários momentos com este SL, como se por vezes, se a “Mercedes” do MBUX falasse, dissesse: “só isso?”. A direção no eixo traseiro, requer sempre alguma habituação, mas passado esse tempo oferece uma agilidade superior, fazendo esquecer um comprimento de 4705mm.

Agora, para aguentar melhor a fadiga de travar constantemente estas quase duas (muito rápidas) toneladas, contávamos com os préstimos dos travões carbo-cerâmicos, que eram igualmente a opção mais dispendiosa presente nesta unidade (7520 euros), que são mais leves que os da geração precedente.

Mas é selecionando o modo Sport+ que começamos realmente a entender do que este automóvel é capaz. O som de escape assume outro tom, e o comando do volante do lado esquerdo, onde podemos selecionar vários pontos de personalização, “bloqueia” o modo manual da transmissão 9G-Tronic, de forma a ser controlada apenas pelas patilhas. A sua reação nem parece a mesma: se era suave no modo Comfort, aqui é rápida, selvagem e muito, muito eficaz. A vontade com que este SL 63 aumenta a velocidade é exponencial, os números rodam e tudo chega mais rápido, a sensação de segurança é sempre um dado adquirido. O som é o melhor tempero para a emoção, com os sons de passagem a ecoarem no ar, enquanto as reduções fazem com que os pássaros no espaço de 3km voem dos cabos de eletricidade e os alarmes dos carros comecem a apitar. É todo um teatro que se forma, juntando a eficácia deste automóvel ao riso de criança quando ouvimos o seu som que poderemos, no futuro, vir a sentir falta.

O modo Race desbloqueia ainda mais um pouco do que este motor tem para dar, com o pormenor de quando selecionado não desligar o controlo de estabilidade, com esse a ter de ser desligado por nós mesmos, um compromisso que é mais sensato se for feito em percurso fechado.

Claro que os sorrisos de criança, a banda sonora das quatro ponteiras de escape a ecoar e o calor vindo do V8 Biturbo têm um preço a pagar. Mas, antes disso, permitam-me dizer que fiz uma viagem longa, como um verdadeiro SL gosta de fazer. A velocidade controlada, por estrada nacionais e autoestradas, no final de 250km, a média estava fixada nos 9,9l/100km, um valor que impressionou tendo em conta todo o conjunto. No entanto, se o ritmo aumentar, é um pouco como quando estamos de capota aberta, o céu é o limite no que toca a esse valor.

O ensaio terminou com uma média final de 13,2l/100km, o que está longe de ser um valor assustador tendo em conta o verdadeiro “powerhouse” que se esconde debaixo do enorme capot, mas que é igualmente justificado pela viagem feita em total tranquilidade.



 

Conclusão

Essa viagem pode parecer o ponto menos interessante deste Teste Completo, mas prova um ponto importante. Prova que o SL mudou radicalmente, que pode estar muito mais desportivo, mas que durante uma viagem com tudo selecionado num modo mais tranquilo, continua a ser a mesma proposta da marca que poderia muito bem cruzar vários países num curto espaço de tempo e chegar até uma marginal distante com a capota aberta. O SL continua a ser um automóvel cheio de qualidades, seja no seu interior, na sua tecnologia, e agora, também, na sua desportividade, fazendo por muitas vezes a “magia” de ignorar o seu peso generoso.

E sim, o SL começou por isso mesmo, por ser um desportivo. A história deste modelo tem início nas pistas de corrida, uma herança que agora, 70 anos depois, volta a estar presente, com muita eficácia e elegância. O preço desta unidade atingia os 279 mil euros, um valor que não é verdadeiramente para todas as bolsas, mas é o preço a pagar pela exclusividade de contar com um SL equipado com um motor V8 feito à mão.

Este é um daqueles testes memoráveis de um modelo que se revolucionou, que é capaz de ter uma personalidade do tipo Dr. Jekill & Mr. Hyde, e que só daqui a algum tempo entenderemos se a Mercedes fez a escolha certa.

Por enquanto, parece-nos que sim.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!