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Teste Completo: Ford Ranger Raptor V6 3.0 EcoBoost

Teste Completo: Ford Ranger Raptor V6 3.0 EcoBoost
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“Depressa e bem, há quem”

Quando vamos a um concerto, muitas vezes temos um outro artista menos conhecido que abre o espetáculo, que serve tanto para entreter o público, como para se dar a conhecer nos grandes palcos. Desta vez, a Ford lançou a variante Raptor da Ranger, antes da chegada das renovadas versões da nova geração da pick-up de trabalho da marca americana. Isto quer dizer que a Raptor “roubou o protagonismo” à Ranger, com esta versão a ser mais do que apenas isso. 

Testámos ao limite a nova geração da única pick-up desportiva do mercado, com o seu novo “coração” V6 a gasolina com quase 300cv. 

Exterior

Grande e exuberante. Se fossemos curtos na descrição poderíamos apenas descrever a proposta radical da Ford com esses dois adjetivos. Mas há mais do que isso. A Ford Ranger Raptor é a “nossa” F-150 europeia, uma versão à escala do que o mercado doméstico da Ford tem na terra do “Uncle Sam”. Ainda assim, as suas dimensões generosas (5,36m comprimento, 1,93m de altura e 2,21m de largura) metem muito respeito, seja para nós que vamos ao volante quando encontramos uma rua apertada, ou para quem se cruze connosco numa dessas ruas estreitas. 

A dianteira assume agora um estilo ainda mais desportivo, com o nome Ford a estar bem presente na grelha dianteira, que tem como objetivo sugar todo o ar possível para arrefecer o generoso motor que se encontra debaixo do alto capot. Os novos faróis LED têm um novo desenho em forma de “C”, numa dianteira que está mais vertical face à sua antecessora, que na altura já nos impressionou sobremaneira. Ainda na dianteira, conseguimos ver as proteções inferiores, bem como os reforços feitos pela Ford Performance de forma que esta Ranger Raptor “aguente pancada” fora do asfalto. 

Na lateral, destacam-se claramente as suas rodas, compostas por umas jantes de 17’’ com um acabamento acetinado, assim como uns pneus off-road BF Goodrich verdadeiramente pensados para andar por maus caminhos (285/70 R17). Este conjunto revela-se igualmente muito importante no capítulo da condução. De perfil, espaço ainda para destacar os estribos verdadeiramente resistentes, assim como os stickers decorativos, opcionais por 744€, que tratam de lhe dar essa imagem exuberante. 

A traseira destaca-se pelo portão de carga com a inscrição Ranger em destaque, embora todos lhe chamem apenas “Raptor”, com o sticker a ter também aqui algum protagonismo. Os farolins são novos, com tecnologia LED, mas os olhos vão diretamente para as duas generosas saídas de escape, que muito fazem pela vertente emocional na altura de conduzir esta Pick-up. Aqui, encontramos mais um de três opcionais presentes: a cobertura elétrica da cabine de carga 1860€. Para além disso, a bola de reboque, é encarregue, em conjunto com esta Ford Ranger Raptor, de puxar até 2500kg, compensando uma capacidade de carga mais reduzida face a outras Pick-up de trabalho, apenas 652kg… 

Quanto a cores, existem 8 à escolha, onde se inclui este sóbrio Aluminium Metallic. Mas, se puder, faça-me um favor e escolha uma cor mais viva, já que dá outra “alma” a esta Raptor, como por exemplo as novas cores Code Orange e Sedona Orange, ou a já conhecida Blue Lightning. 



Interior

Aqui começa a revolução. O interior deu um “salto” enorme face à anterior geração, com uma melhoria em todos os campos. Os plásticos, ainda que muitos deles rijos, são notoriamente bem montados, com acabamentos interessantes no topo das portas e no tablier, com um material que está pronto a sujar-se (e a ser limpo, obviamente). Os elementos em laranja, são exclusivos da Ranger Raptor e dão outra alegria a este interior, elementos que também encontramos nos (muito) bem conseguidos bancos dianteiros, com um bom suporte e elevado conforto, seja para longas viagens em autoestrada ou a criar caminhos fora de estrada. 

Neste interior, totalmente redesenhado, o destaque vai para o novo sistema multimedia, semelhante ao que encontramos no “certinho” Mustang Mach-E, com uma dimensão de 12,4’’, colocado numa posição vertical. Ainda assim, a Ford lembrou-se que a ergonomia não pode ser um opcional num automóvel deste género, pelo que dotou o modelo com atalhos físicos, tanto para a climatização, quer para o sistema áudio, que tem assinatura Bang & Olufsen. 

Este sistema é muito completo, e é lá onde podemos ver as câmaras 360º que nos permitem “jogar” com os obstáculos que vamos encontrando no caminho. Para além disso, o seu funcionamento é isento de críticas, sendo ainda muito completo. 

Para além de espaços de arrumação lógicos e de bom volume, atrás encontramos três verdadeiros lugares, fazendo deste um perfeito automóvel familiar. (Sim, esta foi a parte para convencerem a vossa cara-metade aí em casa).

Debaixo do banco traseiro encontramos ainda um espaço de arrumação. A bagageira é a caixa de carga, que tem uma dimensão de 1,56m de comprimento, por uma largura de 1,22 e uma altura de 53cm. Portanto, haja espaço imaginativo para preencher todo este espaço com compras… ou o que quer que lhe apeteça transportar. Aqui, ainda existe uma tomada convencional.



Condução

É aqui que a magia verdadeiramente acontece. A anterior geração da Ranger Raptor é daqueles testes que ficam na memória, e isso quer dizer muito. No entanto, a única crítica que fiz ao modelo foi o seu motor. Não é que fosse mau, ele cumpria e tinha andamento suficiente para essa Ford, no entanto, no meio de tanta diversão faltava caráter e, de preferência, o som de uma mecânica nobre a gasolina.

A Ford ouviu-me (a mim e a tantos outros) e lançou a Ranger Raptor com um motor 3.0 EcoBoost com arquitetura de seis cilindros em V. Uma verdadeira pérola, num mercado cada vez mais asséptico e cheio de regras como o nosso. A Ranger Raptor pegou nas regras, colocou debaixo das suas rodas traseiras e acelerou a fundo. Bem, na verdade fez algumas concessões. Este motor debita 292cv e 491Nm, o que é verdadeiramente inferior aos 400cv que oferece no mercado australiano, local onde foi desenvolvida. Mas teve de ser, devido às normas de antipoluição Euro6. Ainda assim emite uns (brutais) 316g cO2/km. Portanto, não passem de Ranger Raptor perto de uma manifestação de apoiantes climáticos… 

A gerir este nobre motor está uma transmissão automática de dez relações, tal como a anterior geração, possível de ser comandada em modo manual, graças a patilhas (em magnésio) montadas atrás do volante, que digamos de passagem, tem uma excelente pega. 

Modos de condução? Sim. São sete os disponíveis para colocarmos a Ranger Raptor no modo certo. Normal/Sport/Molhado/Lama/Areia e Baja. Existe ainda um botão R no volante para configurar um modo à nossa medida. No seletor dos modos de condução, encontramos ainda o seletor dos modos de tração: 2H (tração traseira), 4A(com a gestão a ser feita automaticamente), 4H (tração integral permanente em altas) e 4L (tração integral permanente em baixas). O botão para aceder ao modo off-road está disponível logo abaixo, onde podemos bloquear ou desbloquear os diferenciais, assim como também desligar o controlo de tração para uma maior liberdade. 

Ainda no capítulo da personalização, e para aceder mais rápido às varias facetas que esta Ford pode oferecer, no volante encontramos três botões que nos permitem ajudar a reatividade da suspensão (Normal/Sport/Off-road), a direção nos mesmos níveis da suspensão, assim como um para o ruído de escape: silencioso, normal, desportivo ou baja, independentemente do modo de condução escolhido. 

Começando a andar, é logo sentido que o motor deu uma nova alma à Ranger Raptor, um propulsor cheio de força, raro na nossa atualidade, com uma melodia que nos faz sentir ao volante de algo muito poderoso (o que não é mentira). O regime sobe com facilidade, com a transmissão de dez velocidades a ter um trabalho frenético na mudança de velocidades, sendo muitas das vezes completamente impercetível. 

A direção mostra-se bem calibrada, muito mais do que na anterior geração, mesmo aqui para o asfalto, onde é agora mais fácil entender o que se passa no eixo dianteiro. Também sentimos menos movimentos de carroçaria, típico deste tipo de veículos, o que é ajudado por um chassis mais rígido do que anteriormente. Os pneus com filosofia aventureira não deixam margem para milagres no dinamismo, mas também não prejudicam o conforto, que numa tirada de autoestrada mais faz parecer que cruzar um continente é uma tarefa simples nesta Ford. 

Aqui, podemos falar já dos consumos, pelo menos em estrada, com os primeiros 100km a exibirem uma média de 15,6l/100km (um pouco acima do anunciado pela marca) e que podem assustar aqueles que não estão habituados. Contudo, relembro que é um V6 com 3.0L de cilindrada, mais de 2454kg de peso com pneus fora de estrada. Não há bela sem senão… 

Para quem gosta de números, aqui vão os das acelerações. Embora este seja um Ford Performance, a equipa de desenvolvimento não criou a Ranger Raptor a pensar apenas nas acelerações, ainda assim, são 7,9s que demora entre estar parado até chegar aos 100km/h. Mais do que suficiente. 

Mas o fascínio chega quando tiramos os pneus do alcatrão e passam para areia. Aqui é todo um novo mundo. Quem brilha ainda mais que este motor é a suspensão, um verdadeiro “Game Changer”. 

O sistema da Fox, baseado na competição, surpreende em cada metro que percorremos fora de estrada e, quanto mais rápido, melhor funciona. Agora, contam com a função “Live Valve”, ou seja, alteram o seu comportamento dependendo do que está a acontecer no momento, tornando mais mole (ou rijo) o seu amortecimento, para evitar tocar nos “topos”. Assim, atravessar um terreno acidentado a velocidades bem mais elevadas que o normal, não é, de todo, um problema para esta Ford, que suprime todas as irregularidades, mesmo após as muitas passagens feitas, que foram “escavando” cada vez mais o terreno.

O motor V6 volta ao de cima quando usamos o modo Baja; é complicado “portamo-nos bem” com o som de escape a ficar bem audível, aumentando a sensação desportiva, mas também a capacidade de arrepiar caminho, mostrando que esta Pick-up foi feita para isto, sem queixas. O sistema de telemetria mostra-nos todas as temperaturas no painel de instrumentos, que por sinal é muito completo, ajudando-nos a controlar os nossos ímpetos. 

Para terminar, só para que este Teste Completo não passe a ser uma obra literária, tenho que referir que mesmo tendo sido submetida a todo o tipo de testes fora da estrada, nem um ranger nesta Ranger. Entenderam? Esta Ranger, não “range”. 

Pronto, vou parar com a comédia. 

Mas isto para afirmar que é verdadeiramente impressionante a rigidez desta Ford em terreno tão irregular, num andamento em que muitas outras Pick-up, que por não terem uma suspensão tão evoluída só nos daria duas saídas: ou elas sofriam danos ou fariam danos a quem vai dentro delas… 

Falar de consumos fora de estrada, bastante rápido, é algo contraproducente.
Mas, posso dizer-vos que triplicou o valor feito em estrada…



Conclusão

Com um preço que ultrapassa os 80 mil euros, há duas maneiras de ver esta Ranger Raptor. É cara se for vista como uma pick-up de trabalho com menor capacidade de carga, ou então é uma verdadeira “pechincha” caso queira aproveitar a performance e qualidade desta proposta nascida da competição. Aí, vale cada cêntimo gasto. 

A versão a gasolina dá outra vida a esta proposta, sendo ainda mais barata que a versão diesel menos potente. No entanto, é compreensível se algum tipo de cliente optar por essa, já que terá consumos mais simpáticos. 

Só nos resta agradecer à Ford por, em 2023 oferecer uma loucura como esta. Uma verdadeira despedida, que vai deixar saudades, mas que, tal como a anterior Raptor, vai ser mais um dos testes que ficará guardado na memória de quem viveu quilómetros nesta verdadeira “espécie em vias de extinção”. 


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Teste Completo – Ford Mustang Mach-E AWD

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!