Home Ensaios Teste Completo – Ford Mustang Mach-E AWD

Teste Completo – Ford Mustang Mach-E AWD

Teste Completo – Ford Mustang Mach-E AWD
0
0

“Nome forte”

 

Usar o nome Mustang para catalogar o seu primeiro elétrico – se esquecermos o Focus elétrico feito em quantidades limitadas – pode parecer uma jogada demasiado arriscada por parte da Ford.

A verdade é que a utilização deste nome forte não se revelou um “back-fire”, ou seja, não correu mal, e provou mesmo ter sido uma decisão acertada, já que consegue ser um motivo de destaque e de uma curiosidade maior por parte dos outros condutores, algo que “apenas” um Ford, não teria.

Teste completo ao modelo, equipado com a bateria de maiores dimensões, dois motores (351cv) e tração integral.

 

Exterior 

Se me dissessem que existiria um SUV elétrico chamado Mustang, acharia uma heresia e que não teria “nada” de Mustang em termos estilísticos. Quanto à primeira, explicarei mais à frente porque não acho isso totalmente, quanto à segunda questão, este Mach-E tem vários elementos dignos de Mustang.

Para começar, embora seja um SUV de grandes dimensões (4,71m de comprimento), podemos ver logo na sua lateral, graças a um bom trabalho de “enganar” a nossa vista, um tejadilho em preto que cria a sensação de uma silhueta reconhecível como a de um Mustang, criando um efeito fastback bem conseguido. As ancas mais delineadas e umas superfícies desportivas fazem o resto.

Na dianteira, as arestas e nervuras conferem-lhe o dinamismo necessário para “aguentar” com um nome tão forte quanto este, assim como o capot longo e os grupos óticos de formato reconhecível. Atrás, os farolins com três barras, principalmente durante a noite, fazem com que este seja um “verdadeiro” Mustang. Ou seja, o ADN está cá, embora seja bem diferente do que estamos habituados. A cor Lucid Red (opcional por 1321€) faz muito por garantir um estilo cativante e elegante ao modelo americano.

Outro ponto importante é que podemos andar em torno deste novo Ford, que só vemos o “Cavalo Mustang galopante”; seja na frente, na traseira ou nas jantes de 19’’ polegadas, nem sinal do símbolo da Ford.

Só o encontramos em dois locais: no topo do para-brisas e nos “carimbos” nos vidros laterais…



Interior

O interior é minimalista, algo que é visível pelas fotos, com uma disposição simples dos elementos. Um volante de três braços de boas dimensões (com o logo Mustang, como é óbvio), um pequeno mas bastante útil painel de instrumentos, e um gigante (15,5”) ecrã central que é o verdadeiro centro de operações desta proposta 100% elétrica. E é basicamente isso.

Claramente, desses três, o que mais se destaca é o generoso ecrã. O Sync da Ford “cresceu” e assume aqui uma dimensão até agora nunca vista num modelo da marca e, para ser sincero, em poucas outras propostas no mercado.

Colocado em posição vertical, ao contrário da outra solução americana que todos conhecem, o Mustang Mach-E apresenta tudo bem organizado. Pode ser demasiado intrusivo para uns, demasiado genérico para outros, mas a verdade é que o seu funcionamento é fácil graças a essas grandes dimensões. A climatização está “sempre lá”, com a possibilidade de ir personalizado o ecrã ao nosso gosto, para acessos mais fáceis. Apresentação clara e fácil, mesmo sem botões, graças a uma boa qualidade de imagem e um bom touch. Bem, na verdade há um botão, que também divide opiniões, o do volume, colocado no próprio ecrã.

A consola central apresenta poucos botões, onde se destaca porém o comando rotativo da “caixa de velocidades”, que exige alguma habituação até ganharmos memória de qual a posição certa para o que queremos (P,R,N,D e L).

A posição de condução é correta e pode mesmo ser mais baixa do que poderíamos esperar, o que nos ajuda a criar alguma ligação extra com este elétrico. Os bancos, porém, possuem pouco apoio como pude comprovar nos quilómetros que estive ao volante deste Mustang.

Mas o que não é visível pelas fotos é a elevada qualidade de materiais e de montagem empregues nesta proposta da marca oval azul. Acabamentos macios, boa união entre o tejadilho e o para-brisas e uma capacidade em não apresentar barulhos parasitas. Pode parecer exagero, mas a ausência desses ruídos é de ressalvar, já que este Ford foi o automóvel que por aqui passou em 10 anos, com mais quilómetros no odómetro, mais de 25 mil quilómetros de testes com os mais variados condutores.

Aqui ainda encontramos pontos típicos de “Mustang”, ou seja, o formato da parte superior do tablier, assim como a inscrição “Ground Speed” no painel de instrumentos…

Passando para os bancos traseiros, tirando o cuidado a entrar, o espaço é razoável em altura, mas bom para as pernas. Com tudo o que necessitamos para o conforto, o Mustang Mach-E aproveita aqui a sua distância entre eixos de quase três (!) metros para garantir dotes extra de familiar, algo de que nenhum Mustang se pode gabar. A bagageira de 401L não é tão grande como poderíamos esperar, mas conta com um espaço extra debaixo do piso para arrumações, assim como um “frunk” de 100L para guardar aquilo que menos acedemos normalmente. Portanto, 501L se somarmos as duas bagageiras.

Em termos de equipamento, o Ford Mustang Mach-E está muito bem equipado, com faróis LED adaptativos com máximos automáticos anti encadeamento, um grande lote de ajudas à condução e cruise-control adaptativo. Mas, o pack opcional Tech+ aumenta ainda mais o equipamento, trazendo mais conforto de utilização, graças ao sistema de áudio Bang&Olufsen, abertura e fecho da bagageira mãos livres, sistema de reconhecimento de sinais de trânsito, câmara 360º, sistema automático de estacionamento, ajuste elétrico dos bancos com memória, teto panorâmico fixo e estofos em pele. Tudo isto por 2856€.



Condução

Podemos abordar este capítulo de duas maneiras. Se entrarmos a pensar que é um “verdadeiro Mustang”, podemos ficar desiludidos. Bem, vamos certamente ficar. Mas se pensarem que é um “Mach-E”, ou seja, um elétrico, ficamos agradados e entendemos que a Ford entrou muito bem neste mercado, criando umas das referências no seu segmento.

Portanto, vamos ver dessa segunda maneira, porque também não tinha muita lógica comparar um desportivo de quatro lugares equipado com um motor 5.0L V8 com um SUV elétrico.

Aqui temos antes dois motores elétricos que perfazem 351cv de potência (258kW) e 580Nm de binário, números que não envergonham este elétrico, com um arranque que demora apenas 5,1s até chegar aos 100km/h, o que é “obra” com 2200kg de peso.

A bateria em iões de lítio, com 98,7kWh de capacidade, permite carregamentos de até 150kW. Supostamente, fará 540km com uma só carga.

Esta versão com dois motores garante igualmente a tracção integral, o que fica apenas um “furo abaixo” do mais desportivo Mach-E GT com 487cv. Mas, sem experimentar o GT, achamos que este pode ser o melhor equilíbrio de todos os Mach-E.

Lembrando que é um automóvel com mais de duas toneladas, podemos dizer que o seu comportamento impressiona, ou seja, continua a ser um Ford e a exibir um dinamismo que, também nesta realidade elétrica, continua bem presente.

A Ford optou por dotar este Mach-E com jantes de 19’’ polegadas e ainda muita “parede” de pneu, ou seja, não caiu no erro de colocar umas jantes de 22’’ polegadas como outras soluções. Desta forma, mesmo em mau piso, este Ford não é demasiado firme, mesmo que a suspensão tenha de o ser, de forma a garantir esse dinamismo que falarei já de seguida.

Primeiro, notamos na agilidade. A tração integral não é demasiado “dianteira”, preferindo entregar a maioria da potência à traseira, o que com um golpe de volante e acelerador, faz a traseira surgir mais do esperaríamos, o que tira “peso” à dianteira, conseguindo inserir-se de forma mais eficaz, mesmo com estes pneus não tão focados para condução desportiva.

Por outro lado, a direção é demasiado leve, ao mesmo tempo que até nos informa o que está debaixo das rodas, uma sensação estranha que requer habituação e que muda consoante o modo utilizado: “Whisper” (o mais suave), “Active” (o normal) ou “Untamed” (aquele que é o mais desportivo).

O que muda? Peso da direção, que vai aumentando consoante o modo, a resposta do acelerador e a iluminação interior. Pela primeira vez, o “som digital” criado pela marca conseguiu entusiasmar-me no modo “Untamed”.

A travagem é suficiente, mas não para muitos abusos, conseguindo até apresentar um tato não muito diferente dos modelos Plug-in, ou seja, mais “normal”.

Em condução normal, este Ford Mustang Mach-E agrada igualmente, com um funcionamento simples e fácil de conduzir, mesmo tendo em conta as dimensões. Conta com o “One-Pedal”, mas não conta com patilhas que nos permitam regular a regeneração, apenas um “L” no comando da transmissão, que funciona, mas que merecia ser revisto na atualização ao modelo.

Aqui, altura de referir os consumos, que ficaram em mais de 650km nos 21,0kWh, o que não cumpre os 540km que a marca anuncia, mas que consegue fazer mais de 450km, o que está longe de ser um mau valor.



Conclusão

O Ford Mustang Mach-E foi uma boa ideia por parte dos responsáveis da marca, que, tal como dito ao início, virou os holofotes para esta proposta da Ford, valorizando-a ainda mais no segmento da moda.

Mas este modelo tem mais conteúdo do que apenas um nome mítico. O exterior junta a desportividade à elegância, com um interior espaçoso (na maior parte das direções) e de elevada qualidade. Apenas o ecrã pode não agradar a todos, mas cumpre muito bem o seu propósito.

O seu comportamento dinâmico é um ponto a favor, sendo um verdadeiro Ford, se comparado com outros automóveis deste género, sem impactar em demasia os consumos. Esta escolha com bateria de maior dimensão e 351cv parece ser a mais acertada, caso os 77.351€ não o façam afastar.

A gama começa abaixo dos 70 mil euros para a versão de tração traseira e 269cv.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!