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Porque o alcatrão não é o limite – Audi A4 Allroad à prova

Porque o alcatrão não é o limite – Audi A4 Allroad à prova
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“Allroad, all the time”

 

Estávamos em 1998, quando a Audi desvendou, no salão de Detroit, um concept car muito próximo da versão de produção: o Audi Allroad quattro concept, conceito que aliava a polivalência de uma carrinha (Avant) com a capacidade offroad (Allroad). Um ano depois deu-se início à produção do Audi A6 Allroad, com essa variante mais aventureira a “estender-se” também à sua “irmã” mais pequena, “nascendo” em 2009 o A4 Allroad. Será este o Audi mais polivalente que podemos comprar?

Em teste com o motor 40 TDI (204cv) e transmissão S tronic de sete velocidades.

Escolher um automóvel está longe de ser uma tarefa simples, já que existe uma enorme variável de necessidades que temos de cobrir. Muitas vezes temos mesmo de deixar algumas de parte para conseguir colmatar outras. O Audi A4 Allroad provou-me que muito pouco teria de “ficar para trás”.

Este Audi A4 Allroad é bastante fácil de diferenciar face a um Audi A4 Avant “convencional”, sobretudo graças à grande quantidade de plástico negro que reveste a parte inferior da sua carroçaria, que para além de a proteger quando os caminhos ficam mais difíceis, consegue garantir igualmente uma imagem mais aventureira a este familiar. Para além disso, encontramos uma altura ao solo mais generosa, 3,5cm mais elevada que um “normal” Audi A4 Avant.

As diferenças continuam na grelha dianteira “Singleframe” específica, com elementos verticais cromados, com essa mesma exclusividade a passar para o capítulo das jantes. Esta unidade contava com umas de 18’’ polegadas, que são a solução certa caso queiramos utilizar este Audi A4 Allroad na sua plenitude, já que as opcionais de 19’’ ou mesmo 20’’ polegadas irão limitar um pouco a capacidade aventureira desta proposta.

Neste exterior, mesmo com uma imagem claramente Allroad, a elegância continua patente nas suas linhas elegantes, assim como uma elevada sobriedade graças à pintura Preto Myhtos.



Se no exterior o Audi A4 Allroad está longe de afastar um potencial cliente, o interior oferece uma elevada sensação de qualidade, que se une a uma ergonomia (quase) perfeita dos comandos, onde ainda não contamos com uma digitalização “exagerada”.

A sensação de qualidade é percebida também ao toque, com plásticos macios e superfícies cuidadas, a que se une uma posição de condução correta (vamos baixos e com as pernas mais esticadas), que é uma mais-valia face aos SUV, “duplamente” concorrentes deste Audi A4 Allroad.

O painel de instrumentos 100% digital apresenta uma leitura simples, enquanto ao centro o sistema multimedia de 10,1’’ polegadas cumpre, graças a um funcionamento rápido e simples, podendo apenas ser melhor caso contasse com um comando físico na consola central, como outrora este modelo já teve. No entanto, este sistema MMI incorpora os sistemas Apple CarPlay e Android Auto sem fios, o que coaduna bem com a capacidade de carregar o smartphone na Audi Connect Box, colocada sob o apoio de braço central.

No que à habitabilidade diz respeito, para além dos passageiros dianteiros contarem com dois confortáveis assentos (aquecidos, elétricos e com memória nesta unidade), atrás o espaço é igualmente amplo, embora o túnel central roube algum espaço caso sentemos alguém no lugar central. A bagageira conta com uma forma regular e uma volumetria de 495l, o que é respeitável, no entanto fica abaixo de propostas do mesmo segmento, nomeadamente dentro do próprio Grupo Volkswagen…

“On road, Off road, Allroad…”

Sob o capot contávamos com a única mecânica disponível em Portugal para o Audi A4 Allroad, o que se traduz no 40 TDI. Ou seja, uma mecânica diesel com 1968cm³, com 204cv e 400Nm de binário disponíveis. Um bom presságio, que em conjunto com os números presentes na ficha técnica (7,3s dos 0-100km/h e 232km/h) mostra que para além de ser uma proposta elegante e espaçosa, promete para além da aventura, números mais do que suficientes no que diz respeito à dinâmica.

Mas é o sistema de tração integral Quattro que mais faz por esta proposta Allroad. Graças ao diferencial central Torsen, a repartição é de 40/60 em condições normais de condução, algo que pode variar até 70% de potência para o eixo dianteiro, ou uns mais expressivos 85% para o eixo traseiro. Isso, em conjunto com a altura ao solo mais elevada, torna esta proposta bem mais polivalente do que as suas rivais mais conservadoras.

Mas falemos de como se comporta no alcatrão, local sobre o qual vai invariavelmente passar a maior parte do seu tempo.

O seu pisar é mais sólido e firme do que estamos habituados num “normal” Audi A4 Avant, o que pode ser justificado pelas alterações feitas à suspensão. Ainda assim, o Audi A4 Allroad está bem longe de não ser confortável, sendo companhia ideal para largos quilómetros, algo que aproveitámos para fazer durante este teste.

Este conjunto 40 TDI com a transmissão S Tronic confere ao A4 Allroad uma grande capacidade de “rolar” sem esforço e com muita suavidade, principalmente no modo Efficiency, o que permite igualmente garantir consumos mais comedidos entre os 5,5 e os 6l/100km, em percurso misto.

Se em autoestrada o Allroad encontra um local onde bem sabe acumular quilómetros, quando as curvas se começam a suceder, a tração Quattro aumenta a confiança, bem como incrementa a agilidade. A aderência é elevada, sendo um caso de mais cedo os pneus “cederem” do que propriamente esta Audi A4 Allroad dizer “basta”. Isso aumenta a confiança, mesmo quando os pisos ou as condições climatéricas são mais desfavoráveis. Em termos dinâmicos, o Audi A4 Allroad consegue ainda oferecer um experiência que não está ao alcance da maior parte dos SUV, assim como o seu eixo traseiro, que aqui tem a tarefa de ser motriz, permitindo que “apertemos” mais as trajetórias.



Como nos dias de teste a chuva pouco apareceu, os caminhos de terra continuaram presentes e, tal como seria de esperar, a Audi A4 Allroad teve de pisar esses caminhos.

A suspensão, que se revela mais firme no asfalto, desculpa-se aqui com a capacidade em absorver melhor as irregularidades, que mesmo num ritmo mais elevado – em estradão de terra largo e maioritariamente liso – não exibiu quaisquer ruídos parasitas, revelando uma boa solidez global.

No entanto, as chuvas dos dias anteriores ainda deixaram alguns locais enlameados, algo que a Audi A4 Allroad debate sem problemas, apenas pedindo que nos lembremos que os pneus que aqui contamos não são dedicados ao fora de estrada, mas que a bem afinada capacidade do sistema de tração integral consegue colmatar. Em descidas com um grau de inclinação mais elevado, contamos com o Hill Descent Assist, o que ajuda a que essas sejam feitas com uma maior facilidade e segurança.

No entanto, aqui encontrámos uma falha, já que esta proposta que “abre a porta” à aventura não conta com pneu suplente, nem mesmo de emergência, o que pode tornar (bem) mais complicada alguma incursão fora de estrada que não corra tão bem…

Voltando ao alcatrão, e mais de 800km depois, a média no computador de bordo marcava 6,4l/100km, o que acaba por ser um excelente valor tendo em conta a potência e os percursos efetuados.

Disponível desde 62.516€, é inegável que o Audi A4 Allroad não seja uma proposta para “todas as bolsas”. No entanto, isso é justificado p0r ser uma proposta diferenciada, que conjuga as capacidades familiares e estradistas de um Audi A4, com um motor diesel com mais de 200cv, a tração integral Quattro e respetivas alterações que lhe conferem as capacidades offroad de um Allroad.

Em comparação com o Audi A6 Allroad, equipado com o mesmo motor 40 TDI de 204cv, este Audi A4 Allroad é 16 mil euros mais “barato”, o que o permite ser, muito provavelmente, o Allroad ideal.

Em jeito de conclusão, aqui de uma forma mais pessoal de quem sempre gostou de carrinhas, mas que nunca teve necessidade de ter uma, até há bem pouco tempo, a Audi A4 Allroad preenchia grande parte das “caixinhas” no que diz respeito às necessidades, como aquela aventureira que, por muito que não a usasse até ao limite, me deixaria bem mais tranquilo na eventualidade de encontrar um mau caminho… ou um clima mais agreste.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!