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“O choque do escorpião” – Teste ao Abarth 500e Cabrio

“O choque do escorpião” – Teste ao Abarth 500e Cabrio
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“Aceita-lo tal como ele é”

 

Com a transição energética cada vez mais presente, entramos naturalmente na altura do aparecimento de desportivos “zero emissões”. O Abarth 500e pode ser mesmo o primeiro pocket rocket alimentado a kilowatts, tendo aos seus ombros o peso de uma história com mais de 70 anos de existência. Preparados para algo novo?

Sim, algo novo. É normal que surjam comparações entre este Abarth 500e e os seus “irmãos” a combustão 595 e 695. No entanto, esta nova proposta é totalmente diferente, mas com o mesmo propósito: o de oferecer emoções fortes.

No entanto, até a própria Abarth pareceu ter algumas dificuldades nisso, já que o 500e utiliza uma coluna de som para emular, segundo a marca italiana, o “rugido” típico das propostas da marca. Mas quanto a isso, já lá iremos.

Vamos primeiro descobrir as diferenças entre o Abarth 500e face a um Fiat 500e.

Existem poucas no que toca às suas dimensões, com este 500e mais desportivo a ser 41mm mais comprido e 9mm mais baixo. Mas as dissemelhanças encontram-se na componente estética, com este Abarth a ter uma veia bem mais desportiva. Na frente, a dianteira conta com um para-choques exclusivo, com o nome Abarth bem presente em negro, contrastando com o Verde Acid, exclusivo desta proposta. Abaixo, o elemento em branco aproxima este pequeno desportivo do solo, enquanto os grupos óticos surgem aqui mais “zangados”, com a parte superior a não ser iluminada.

Na lateral, destacam-se as jantes de 18’’ polegadas de série nesta versão Turismo, que preenchem bem as cavas das rodas e que conferem uma postura mais atlética ao modelo, com o escorpião específico desta proposta a estar igualmente em destaque.

Atrás, na variante Cabrio em teste, contamos com o spoiler na capota em lona. Aqui, por razões lógicas, não encontramos ponteiras ou sistemas de escape desportivos, numa secção mais “clean”, mas que igualmente se difere graças ao seu difusor inferior.



Abrindo a porta, encontramos um interior idêntico ao que já conhecemos do pequeno citadino italiano, mas aqui com detalhes mais distintos. Alcantara e pele, adornados por pespontos em verde e azul, este é o tema de um interior que adota um ambiente mais desportivo. Os bancos com encosto integral, do tipo bacquet, estão aptos para suportar o nosso corpo em condução dinâmica, contando ainda com um padrão específico da imagem do escorpião. O volante específico, com o “ponto zero” em azul e com o logo eletrificado da marca ao centro, apresenta uma pega mais espessa.

Abrindo uma exceção a comparações com os outros Abarth, a posição de condução, embora continue a ser elevada, conta com mais espaço e vamos mais bem sentados, com as pernas ligeiramente mais esticadas e o volante na posição que pretendemos, graças a contarmos pela primeira vez com ajustes em alcance e altura.

O painel de instrumentos é outro dos elementos que conta com uma diferente apresentação, mudando consoante o modo de condução eleito. O mesmo acontece no sistema multimédia, que é bastante completo e que passa a contar com páginas de performance: uma dedicada aos medidores técnicos e outra ao modo de launch-control…

Atrás, o espaço é apenas para dois, onde se revelou difícil colocar uma cadeira de bebé, sendo salvo por três pontos Isofix (2 atrás e um à frente). A bagageira não é para “grandes aventuras”, já que conta com apenas 185l, bem como um acesso mais limitado nesta variante cabrio.



Ao Volante

Para animar este primeiro 100% elétrico da Abarth, a marca recorreu a um motor elétrico de 113kW, o que equivale a algo como 154cv, com um binário de 235Nm. No cronómetro, este Abarth 500e necessita de apenas 7,0s para cumprir a medição dos 0-100km/h, enquanto a velocidade máxima está limitada aos 155km/h.

O seu peso fica ligeiramente acima dos 1500kg, o que nunca é bom. Mas, vendo o “copo meio cheio”, as baterias colocadas no solo ajudam a garantir um centro de gravidade mais baixo, o que vai ajudar onde mais interessa: na condução mais inspirada.

Portanto começamos já por aí. O Abarth 500e tem um arranque explosivo, é rápido e isso nota-se, principalmente até aos 110km/h, mas é nas saídas de curva que vence face aos seus irmãos térmicos, aproveitando uma vez mais para os comparar. A sua aderência é evidente, pedindo apenas alguma cautela extra na entrada de curvas mais lentas, com a frente a ter alguma vontade de alargar a trajetória. Por outro lado, em curvas mais rápidas (e abertas), o peso extra e o centro de gravidade mais baixo conferem uma maior confiança a quem vai ao volante. A suspensão, com uma afinação específica, ajuda igualmente a oferecer uma boa sensação, disfarçando o peso e permitindo que tudo siga nos eixos, absorvendo bem as irregularidades e fazendo-nos sentir que estamos num Abarth, mesmo que ele seja elétrico.

No entanto, tal como dito no título, devemos aceitar este Abarth como ele é. Ou seja, mesmo que a marca ofereça a possibilidade de ligar o som artificial exterior que imita o som do 1.4 Turbo (opcional por 500€ em conjunto com o sistema de som premium), a verdade é que este está exagerado em termos de ruído e acaba por incomodar quem vai a bordo, principalmente em autoestrada ou trajetos mais longos.

Para além disso, só pode ser ativado ou desativado quando estamos parados, no menu do painel de instrumentos. Seria mais fácil colocar um botão específico. Existe um “em branco” do lado esquerdo do volante que estaria perfeitamente disponível para o receber…

Este Abarth tem que ser entendido como um automóvel elétrico com vontade de ser “algo mais”. Continuando na estrada de montanha, o equilíbrio está bem presente, com uma direção mais precisa que nos ajuda a garantir confiança. No modo Scorpion Track (um dos três disponíveis) contamos com uma regeneração mínima, ajudando a tornar a condução mais “solta” e convencional. Os travões de disco às quatro rodas (no Fiat são apenas à frente, com a solução de tambores atrás) garantem travagens seguras, não sofrendo do efeito de fadiga muito rapidamente, pedindo apenas a regra básica de “travar a direito”. Ainda aqui, lamentamos o facto de não contar com patilhas de regeneração para preparar ainda melhor as curvas e poupar os discos…

Em andamento vivo, como aquele que descrevemos acima, o melhor é ter um posto de carregamento perto, já que é complicado fazer mais de 150km… a vantagem é que em descida recuperamos alguns quilómetros extra.



Agora, em condução normal, é possível conviver de forma fácil com este pequeno citadino elétrico endiabrado. O seu consumo não é muito elevado, embora as jantes e pneus de maiores dimensões não ajudem. Em cidade é fácil garantir valores em torno dos 15,5kWh/100km, o que daria para 240km graças à bateria com uma capacidade útil de 37,3kWh. Em circuito combinado, é melhor contar com um pouco mais, em redor dos 16,7kWh/100km.

A suspensão, que trabalhou bem num ritmo mais elevado, não é incomodativa no dia-a-dia, enquanto os modos Scorpion Street e Turismo ajudam a conseguir os valores de consumo mais baixos, igualmente graças ao modo “One Pedal”, que regenera bastante energia de volta para a bateria.

Em termos de preço, o Abarth 500e Cabrio está disponível desde 41.030€, com esta versão Turismo a pedir em troca 45.030€. É barato? Não, mas é um elétrico diferente do habitual com performances já aceitáveis e um comportamento que pode impressionar mesmo os mais céticos. Isso, em conjunto com um exterior distinto e um interior mais premium, pode fazer com que esta seja a primeira vez que olham (com outros olhos) para as ofertas da Abarth.

Para os mais tradicionais, o melhor é mesmo aceitar este Abarth eletrificado tal como ele é, com a marca a prometer que a diversão estará sempre presente. O próximo capítulo está já ao virar da esquina, com o Abarth 600e…

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!