Home Ensaios Inebriante: Testámos o KIA EV6 GT

Inebriante: Testámos o KIA EV6 GT

Inebriante: Testámos o KIA EV6 GT
0
0

“Silêncio furtivo”

Pode não ter um som de escape melodioso ou um motor com uma mecânica nobre de outros tempos, mas é inegável que o KIA EV6 GT é um automóvel que deve ser respeitado. Certamente continuará a haver resistência por parte de muitos sobre os automóveis elétricos desportivos, mas este KIA aceita a missão de “converter” alguns céticos de que o futuro não será assim tão aborrecido.

Já passaram mais de dois anos desde a primeira vez que o KIA EV6 por aqui passou e, já na altura, o GT era a versão que queríamos testar. Sim, não é mais lógica ou racional, mas se a vida fosse apenas isso, a nossa aventura por aqui não tinha a mesma piada, não é verdade?

Pelo que os seus 585cv faziam suspirar, ao mesmo que escondiam a questão: “será que se sentirá como um desportivo?”

É sempre complicado antecipar algo desconhecido. Na altura em que testámos o EV6, pareceu-nos um produto sólido, com um comportamento com foco no conforto, onde se sentia o seu peso. Nada nos preparou para que o GT não fosse apenas (e só) mais rápido.

Mas vamos começar pela estética, para mantermos aqui alguma ordem neste teste.

No exterior moderno e futurista do KIA EV6, o GT destaca-se por detalhes que lhe conferem uma imagem mais dinâmica e exclusiva. Para começar, os para-choques são distintos, mais desportivos, com a fina grelha que une os faróis a contar igualmente com um diferente padrão. Depois, reparamos que os elementos de contraste desaparecem, tomando a mesma cor da restante carroçaria, algo que nesta unidade é difícil de entender devido à sua cor Aurora Black Pearl.

Na lateral, o maior destaque vai para as jantes de 21’’ polegadas, que dão uma outra “vida” ao modelo e que nos avisam que estamos perante um elétrico que não está preocupado apenas com ser mais “verde”. As bombas de travão apresentam a cor “de guerra” do modelo mais potente de sempre da KIA.



Na secção posterior é uma vez mais o para-choques que diferencia, numa traseira que se destaca pelo elemento luminoso muito generoso, que não nos permite confundir este EV6 com qualquer outro automóvel quando anoitece.

Abrindo as portas através dos seus puxadores integrados, encontramos um habitáculo que conta com detalhes igualmente específicos, mas sem chegar a extremos. Os bancos, do tipo Bacquet, são um duplo motivo de interesse, já que tanto nos agradam visualmente, como na prática são ideais para este KIA EV6 GT, sendo suficientemente confortáveis e garantindo um suporte excelente quando a velocidade aumenta… o que pode acontecer muito rapidamente. E acreditem, vai acontecer!

Encontramos ainda revestimentos específicos, assim como muitos pespontos com o verde (ou amarelo, como preferirem) que marca esta versão, nomeadamente no volante, que continua a ser de dois braços e que exibe um botão sugestivo “GT”, que liberta todo o potencial deste BEV furtivo. Os dois ecrãs de 12,3’’ polegadas estão responsáveis por informar o condutor, assim como entreter os passageiros. Aqui, reparo para este futurista modelo não contar com Apple CarPlay e Android Auto sem fios, mesmo contando com um carregador por indução para smartphones.



A posição de condução é boa, mas não é excelente. A KIA deveria ter dado a hipótese de regular o volante para uma posição mais baixa, já que fica um a dois dedos mais elevado do que poderíamos achar ideal. Mas, ainda assim, pode-se considerar confortável e pronta para muitos quilómetros de emoções.

Atrás, é um KIA EV6, ou seja, é muito generoso no que diz respeito ao espaço habitável, tanto que dá para sentar até três adultos sem problemas, com a possibilidade ainda de cruzarem as pernas. A bagageira conta com 480l de capacidade, com a abertura ao estilo hatchback, facilitando o acesso. Existe ainda uma bagageira debaixo do capot dianteiro, com 20l de capacidade, ideal para guardar os cabos de carregamento.

Condução

O botão Start está no mesmo local, mas daqui para a frente muito será diferente. Para começar, logo após os primeiros metros nota-se que o EV6 GT é mais firme, com uma pegada 255/40 R21 e pneus com preocupação desportiva, em vez de estarem preocupados com pouca resistência ao rolamento.

Mesmo sendo um desportivo de 585cv, acima de tudo é um automóvel elétrico, pelo que o modo ECO é o ideal para circular pela cidade (e não só), mas mesmo aí se nota uma direção mais pesada, neste KIA mais focado. Normal e Sport são os outros modos disponíveis, com o Sport a acordar (e bem) os nossos sentidos.

Mas é no modo GT que a verdadeira magia acontece, onde todos os 585cv “despertam” e nos fazem sentir (literalmente) a sua fúria. Este nível de potência é oferecido graças a dois motores, um no eixo dianteiro com 218cv (160kW) e um outro montado no eixo traseiro, com 367cv (270kW). Assim, este KIA EV6 GT conta com tração às quatro rodas, algo que é muito bem-vindo, quando no conjunto dos dois motores contamos com 740Nm de binário constante.

Com o modo GT selecionado, experienciamos uma aceleração dos 0 aos 100km/h em apenas 3,6s e recuperações explosivas, das quais tenho uma preferida: 80 a 120km/h em 2,0s. Sim, dois segundos!

Mas, mais importante do que tudo isso, é como se comporta nas curvas, porque atrás de nós, sempre que falamos de um automóvel elétrico, está uma “nuvem negra” que nos relembra sempre que temos um peso elevado, que neste caso é de 2200kg. Mas, quase como que num ato de magia, esse valor parece desvanecer nas curvas, onde o EV6 GT demonstra uma compostura inebriante.

A regra é lembrarmo-nos que esse peso está lá na mesma, como por exemplo na travagem. Aqui a KIA fez igualmente um bom trabalho, não só na resistência à fadiga – ajudado também pelas patilhas que permitem regular a regeneração – mas igualmente pelo tato do pedal, que é fácil de modular. Portanto, travar ligeiramente mais cedo e ser mais suave a descrever as curvas, estando sempre preparados para quando “esmagarmos” o acelerador termos uma reação bastante rápida até chegar a próxima curva.

Nas curvas notamos o funcionamento do diferencial de deslizamento limitado (e-LSD), que pode ser personalizado no modo de condução individual (o outro possível além do GT), que permite uma maior capacidade de tração, fazendo uma melhor gestão da potência do motor entre as rodas traseiras.



Para além de tudo isso, nota-se que os engenheiros da marca fizeram um bom trabalho na suspensão e na forma como este EV6 GT reage, sem movimentos demasiado bruscos e difíceis de prever, com uma boa capacidade em tolerar momentos de piso não tão perfeito. A direção, menos desmultiplicada, evidencia uma vez mais um bom peso, tornando-se mais comunicativa do que o esperado, assim como, uma vez mais, um tato do travão que nos dá confiança para andar depressa.

Tudo está em sintonia, permitindo explorar mais deste KIA, sentados nas bacquets que confirmam serem boas aliadas em deixar todos os nossos órgãos vitais nas posições corretas.

Para quem gosta de saber velocidades de ponta, importa referir a do KIA EV6 GT: 260km/h, um valor bastante generoso para um automóvel elétrico.

Mas como a vida não é só diversão, qual é o consumo que podemos esperar do EV6 GT?

Em modo Normal, após um trajeto misto de 100km, o valor apresentado foi de 19,1kWh/100km, o que é um valor simpático tendo em conta a capacidade deste modelo, assim como a escolha de pneumáticos. Desta forma, é possível fazer 405km com uma única carga, graças a uma bateria com 77,4kWh de capacidade. A grande vantagem é a capacidade de carregamento em corrente contínua de até 240kW, o que permite 0 a 80% em apenas 18 minutos.

Obviamente, com um uso mais extensivo no modo GT, os valores de consumo disparam, com a desculpa de oferecer um nível de andamento verdadeiramente veloz.

Conclusão

O EV6 GT é um automóvel que é um verdadeiro “statement” para a KIA, assim como para a generalidade dos automóveis elétricos. Por um lado, mostra o que a marca consegue fazer, assim como prova que o futuro poderá ser diferente, mas não necessariamente aborrecido. É verdade que não temos locais onde se possa explorar todo o potencial deste KIA EV6 GT, mas nunca ninguém se queixou de ter potência a mais, não é verdade?

A somar a isso, temos um habitáculo espaçoso e um consumo que, em andamento normal, é ajustado. Por fim, temos aqui um automóvel familiar, com um preço de executivo, mas com performances de supercarro. Por menos de 80 mil euros, conseguimos oferecer a cinco ocupantes as sensações de um automóvel, no mínimo, com o dobro do preço.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!