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Ford Focus ST “Track Pack” à prova

Ford Focus ST “Track Pack” à prova
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“Faz a diferença”

O Ford Focus foi um modelo conhecido, desde a sua apresentação no ano 2000, como uma referência no que diz respeito ao comportamento dinâmico. Agora, na sua 4ª geração, o modelo da marca oval azul continua a ser conhecido por isso, embora o seu fim já esteja (infelizmente) traçado. No entanto ainda há tempo para um “volta rápida” com o renovado Focus ST, que tem como principal novidade o Track Pack.

Como já puderam conhecer por aqui, o Ford Focus foi alvo de um restyling em 2021, não muito extenso, mas que lhe conferiu uma “lavagem de cara” necessária para se manter atual, assim como mais alguns equipamentos tecnológicos no seu interior. Essa alterações foram igualmente feitas ao ST, a versão mais desportiva do modelo, que desde a 3ª geração deixou de contar com o RS, aquela que estava “um degrau acima” deste (já picante) ST.

Esteticamente já é fácil identificar um Focus ST face a um Focus “convencional” ou mesmo ST-Line. Contudo, com o Track Pack, as diferenças tornam-se ainda mais evidentes.

Para começar, contamos com vários elementos em Agate Black, como a grelha dianteira com um acabamento brilhante, tejadilho, spoiler e capas dos espelhos, que fazem contraste com a pintura Frozen White desta unidade em ensaio. Depois, destacam-se claramente as jantes de 19’’ polegadas, forjadas e especificas desta versão, que se traduzem igualmente numa redução de 10% de peso face às utilizadas no Focus ST sem este Track Pack, atrás destas esconde-se o sistema de travagem Brembo, de maiores dimensões (330mm na frente) e uma generosa pinça de quatro pistões, que será um dos elementos importantes quando falarmos da dinâmica.



Mas antes disso há que falar do interior. Para além das diferenças efetuadas no ecrã central, que é agora de maiores dimensões (12,3’’) e que incorpora os comandos da climatização, encontramos uma posição de condução correta, muito graças à principal novidade no “mundo ST”, os bancos Ford Performance, que garantem um excelente apoio e elevado conforto, contando mesmo com a norma AGR. Para além da vantagem prática, a estética do interior também sai a ganhar, contando agora com um ambiente bem mais desportivo.

De resto, as diferenças são de pormenor, num habitáculo sóbrio, mas bem construído.

Atrás, mesmo sendo um ST com preocupação de bater tempos em pista, nada se perdeu. Com isto queremos dizer que há espaço para três ocupantes, com destaque para o espaço disponível para as pernas, assim como contamos com a mesma bagageira que encontraríamos num qualquer outro Ford Focus, ou seja, 358l de capacidade possíveis de aumentar através de rebatimento dos bancos (1320l).

Portanto, há desculpa para explicar algumas coisas “lá em casa” caso vos digam que só pensam em vocês…

No que diz respeito ao motor, contamos com o mesmo 2.3 EcoBoost com 280cv que já conhecíamos, com um binário máximo de 420Nm disponível entre as 3000 e as 4000rpm. Tudo isto é gerido por uma transmissão manual de 6 velocidades e um diferencial autoblocante eletrónico (eLSD), que promete um comportamento exemplar.

O teste começa numa Lisboa chuvosa, que é um verdadeiro “postal” de Outono, com o modo Normal a ser o eleito. Ao ligar o motor ouvimos o seu som gutural, mais encorpado, como um verdadeiro hot-hatch desportivo deve apresentar. Este Focus não conta com qualquer eletrificação, sendo uma proposta daquelas cada vez mais raras, com a dupla saída de escape a demonstrar isso mesmo, com o som deste quatro cilindros a fazer-se ouvir quando passamos entre paredes ou em túneis, mas nos primeiros quilómetros é a firmeza da suspensão que sobressai.

Isso é também fruto deste Track Pack, com uma suspensão que se apresenta aqui revigorada, graças a um sistema fornecido pela KW, com coilovers que permitem regulação. Na posição “standard” é 10mm mais baixo que no ST “convencional”, podendo descer ainda mais 5mm, através de uma regulação manual em 12 ‘clicks’ para a compressão e 16 ‘clicks’ na extensão. Um “spec” de pista que graças à sua afinação pode ser o aliado ideal para conseguir tirar aquele “tempo extra” que queremos. No entanto o ajuste é manual e exige alguns dotes de contorcionista.

Chegando a uma estrada mais conhecida, a chuva dá-nos tréguas e permite eleger o modo Sport. Aqui, a resposta do acelerador torna-se mais imediata e a direcção fica mais “pesada”, com o som artificial das colunas a sobrepor-se em demasiada à sonoridade agradável do 2.3 EcoBoost. Uma pena a Ford não permitir desligar esse sistema artificial, que curiosamente não conhecemos alguém que aprecie.



Mas é preciso muito para estragar a experiência que tivemos nos quilómetros que se seguiram. O Focus ST equipado com este Track Pack justifica plenamente o investimento por todos estes elementos, que o transformam e elevam a um outro patamar.

A suspensão, que na cidade e nos inúmeros buracos e mau piso que apanhámos e que nos fizeram sentir todos eles, aqui funciona de forma exemplar, com movimentos de carroçaria bastante controlados e a trabalhar em perfeita colaboração com os pneus Pirelli PZero Corsa (235/35 R19) de forma a oferecer a melhor aderência em qualquer situação, algo que foi conseguido. É muito rápido ganhar confiança neste Focus, muito graças a uma direcção de tato preciso que nos ajuda a “ler” o que se passa lá na frente.

Essa dose é ainda amplificada pelo sistema de travagem, que precisa de muito para exibir fadiga, sendo fácil de dosear, mas que apresenta uma mordida forte quando lhe é pedido.

O motor é um poço de força que conta com um resposta linear, ou seja, com o seu binário máximo a estar disponível durante uma faixa de 1000rpm, seguindo-se depois a sua potência máxima às 5000rpm, sendo agradável de explorar até às 7000rpm, altura em que temos de subir uma relação recorrendo à transmissão manual bem escalonada e de tato mecânico. No entanto e tal como constatei na última vez que estive aos comandos do Focus ST, a alavanca deveria estar numa posição mais elevada.

Se falarmos de números, os 0 aos 100km/h são cumpridos em 6 segundos, enquanto a velocidade máxima fixa-se em 250km/h.

No entanto, mesmo com o brilhantismo deste motor, é difícil ter mais destaque do que a ligação ao solo. O nível bastante elevado de aderência destaca-se cada vez mais, com o Focus ST a estar mais composto e não tão “brincalhão”. Aqui o objetivo são os tempos, algo que só em pista poderíamos aferir, onde isso ficaria a cargo do modo “Pista de Corrida” (sim, está assim traduzido) que desativa o controlo de tração e eleva tudo para os níveis máximos de eficiência. E sim, também contamos aqui com o som sintetizado…

Em termos de consumos, em percurso misto e modo Normal, conseguimos um valor de 8,5l/100km, o que não é de todo um mau valor. Obviamente, se o ritmo aumentar, o valor facilmente duplica, oferecendo em troca muita eficácia…

Portanto, por 51.026€ podemos abrir a porta da nossa garagem para lá deixar entrar um Ford Focus ST, mas os 3.609€ pedidos por este novo Pack Track fazem totalmente a diferença e voltam a colocar este desportivo americano (mas muito europeu) no top de ofertas neste segmento. Vamos ter saudades de propostas como esta, mas antes de ficarmos saudosistas é hora de aproveitar…enquanto ainda é tempo.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!