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Exclusivo: Testámos o Toyota GR Yaris “fora do seu habitat”

Exclusivo: Testámos o Toyota GR Yaris “fora do seu habitat”
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“98% do tempo”

 

Existem, desde a última vez que vi, 10.457 ensaios ao Toyota GR Yaris. Todos eles enaltecem a sua capacidade dinâmica e a coragem da Toyota em desenvolver um automóvel deste género numa altura tão asséptica como esta que estamos a viver, de plena transição enérgica. Também, em todos eles, é testada a sua eficácia ou mesmo destacado o facto de ter nascido como um modelo de homologação.

Praticamente todas essas opiniões são positivas. No entanto, em tantos ensaios, ninguém se lembrou de responder à seguinte questão: “E no resto do tempo, em que não estamos a explorar tudo isso?”

Assim, de forma a comemorar os 10 anos do MotorO2, resolvemos fazer um exclusivo mundial e utilizar apenas o GR Yaris como um automóvel normal, porque, na verdade, nos intervalos de explorar tudo o que Akio Toyoda idealizou, há muita vida…

É uma tarefa complicada, mas alguém tinha de a fazer… ou talvez não.

Bem, aguentem e fiquem connosco.

 

Exterior

Não é preciso ser um conhecedor para entender que este GR Yaris tem muito pouco de Yaris. Ou seja, de lá apenas foram “reciclados” os faróis e farolins, os espelhos exteriores, a antena e os mesmos 2.560mm da distância entre eixos. Mas mesmo que este seja um “Yaris”, não assenta na mesma plataforma do utilitário que já conhecemos; aqui surge de uma fusão entre esse chassis e o utilizado pelo Corolla e CH-R na traseira, para garantir as vias mais largas.

A sua silhueta três portas é inédita e está disponível apenas nesta versão hardcore do modelo japonês, tudo de forma a maximizar o desempenho do modelo de competição em termos aerodinâmicos. Tommi Makkinen, responsável máximo pela equipa no WRC na altura, quis que o tejadilho fosse o mais baixo possível para conseguir incluir uma asa de maiores dimensões na traseira, já que este GR Yaris foi dar forma ao modelo que percorre etapas em torno do globo, na luta contra o tempo.

Portanto, a dianteira é mais agressiva, com um para-choques que permite um maior fluxo de ar de refrigeração, tanto da mecânica, como do sistema de travagem. O capot é um dos elementos construídos de materiais leves, como o alumínio, que em conjunto com as portas reduz 24kg ao peso total. O mesmo se passa com o tejadilho, que é construído em fibra de carbono, que retira mais 3,5kg do pior local possível de ter peso num desportivo.

Este exterior conta ainda com umas jantes forjadas de 18’’ polegadas, cortesia do nível Extreme Rally, que esconde também um sistema de travagem sobredimensionado, que não vai, de todo, ser explorado ao limite durante este ensaio.

Em termos de cores, é um festejo para os indecisos, já que existem apenas três: Branco Pérola (como a unidade em ensaio), Vermelho metalizado e Preto metalizado. As cores de “guerra” da TGR (Toyota Gazoo Racing).



Interior

Quem conhece o interior do atual Toyota Yaris, não se vai sentir perdido no habitáculo do GR Yaris, já que é muito idêntico ao modelo de cinco portas. As maiores diferenças encontram-se no volante, com uma pega mais desportiva, nos manómetros, analógicos e muito simples no que ao aspeto diz respeito, mas que também, graças a essa simplicidade, facilitam a leitura.

Mas, também para quem conhece o Yaris Hybrid, está aqui um “ser estranho”, uma manete que comanda a transmissão manual de seis velocidades. Colocada numa posição mais subida, facilita a ergonomia e a facilidade das “passagens de caixa”. Ainda nesta consola central, encontramos um travão de mão manual e uma chapa que nos indica que estamos a bordo de um automóvel de homologação.

Os bancos são iguais aos que encontramos no Corolla GR Sports, com um bom apoio, e que até se podem chamar de confortáveis. A posição de condução é elevada, mas estamos bem colocados face aos restantes comandos (pedaleira e volante).

Já atrás, este Yaris não se preocupa tanto com os ocupantes. Só existem dois lugares, com um espaço limitado para a cabeça. A bagageira também é (bem) mais pequena, com 174l de capacidade, menor em 96l face a um Yaris “normal” a combustão. Isto é devido à configuração de tração integral e igualmente pela colocação da bateria por baixo do piso da mala.

Em termos de equipamento, o Extreme Rally é muito completo, contando com uma ampla oferta de sistemas de ajuda ao condutor e de segurança ativa, como por exemplo leitura de sinais de trânsito, luzes de máximos automáticos, assistente ativo de via ou cruise-control adaptativo. No que toca ao sistema multimedia, não é o mais avançado do seu segmento. Algo que os “puristas” não vão ficar minimamente preocupados, mas se o estamos a usar de uma forma dita “normal”, importa referir.

Em termos de visibilidade, existem dois pontos negativos. O espelho retrovisor interior rouba muita visibilidade para a frente, enquanto a traseira baixa, ao gosto de Makkinen, faz com que o vidro traseiro seja muito diminuto, o que também limita a visibilidade. Para colmatar isso, contamos com câmara de ajuda ao estacionamento.



Condução

Este ensaio, a que chamei de “ligação”, ou seja, andei calmamente entre “etapas”, deixou-me entender, de outra forma, outro ponto importante deste GR Yaris, que me impressionou de uma maneira que estava longe de esperar.

Estamos numa altura em que um desportivo que nos ofereça prestações bem acima da média tem de, “obrigatoriamente”, castigar-nos com uma suspensão demasiado rija, ótima para a “curva 6” de um circuito, ou um motor mais difícil de conviver das “9 às 5”.

No caso deste Toyota GR Yaris, isso não acontece, para meu espanto…

O motor é bastante redondo, com um funcionamento impecável mesmo em regimes mais baixos, sendo igualmente “cheio” graças a um turbo que nos promete andamentos alucinantes, ainda que isso aqui só foi sentido no acesso à autoestrada. A transmissão é um verdadeira pérola neste conjunto, com um manuseamento mecânico, peso ideal e bem escalonada, não sendo aborrecido andar com o GR Yaris a velocidade estabilizada. A suspensão foi outro ponto positivo, que mesmo em mau piso apresenta um pisar onde não temos nada a apontar. Talvez seja a “escola dos ralis”?

A verdade é que, por vezes, o GR Yaris pareceu-me até ser mais confortável do que outros automóveis ditos “normais”, sem qualquer tipo de pretensão, o que nos mostra que há esperança para ter de novo um desportivo que não nos obrigue a ir ao quiroprata a cada 10 mil quilómetros.

Aqui, temos de falar também da sua tração integral, que faz com que a aderência seja sempre “ponto assente”, com três modos que diferem entre eles a entrega de potência a cada um dos eixos: Normal (60:40), Sport (30:70) e Track (50:50). Desta forma, conseguimos ter três propostas diferentes, num único automóvel. Claro que, ao ritmo de um condutor normal, nunca conseguimos provocar nenhuma reação adversa deste GR, já que os níveis de grip são imensos, o que dá uma confiança extra ao condutor, mesmo que seja apenas a caminho do supermercado, durante uma enorme tormenta.

Quanto a “voltas normais”, o consumo é ajustado tendo em conta a potência de 261cv, vindo de um pequeno motor 1.6l de três cilindros. Em circuito misto, o consumo presente no computador de bordo apresentou 7,6l/100km, com percursos em AE a descer para pouco acima dos 7l/100km, enquanto em cidade devemos contar com 9 litros para percorrer 100km.



Conclusão

Não foi tarefa fácil, testar este GR Yaris “sem abusos”, de forma normal. Mas, posso garantir que possivelmente me impressionou tanto quanto se andasse em modo “etapa de Rally”. O seu conforto é bem mais tolerável do que imaginava, o motor não é tão gastador como podia esperar e a transmissão, um dos elos fortes deste automóvel, é bastante mecânica, mas não nos prejudica numa condução tranquila. Um desportivo super, num formato mini, a um preço justo (48.170€ versão ensaiada) face ao que oferece. Foi mais um ensaio positivo para o GR Yaris, mas da forma que não estavam à espera…

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!