“Adaptada a nova realidade”
Desaparecida do panorama automóvel europeu desde 2005, e adquirida posteriormente pela SAIC Motors, a MG está de regresso ao mercado nacional. Com uma forte herança onde se destacam os seus pequenos roadsters, a MG conta agora com uma gama adaptada às novas realidades, onde a eletrificação é a palavra-chave. Para primeiro ensaio com a “nova” MG, escolhemos o Marvel R, o topo de gama que é a montra do que podemos esperar deste renascido construtor.
O Marvel R é um SUV de segmento D, o que significa que conta com um número elevado de concorrentes. Sabendo que o exterior importa e é fator decisor ou conquistador para muitos, a marca britânica, agora com “sangue chinês”, recorreu a linhas elegantes para cativar o exigente consumidor europeu. Esta proposta, que se pode chamar de elegante, tem linhas cuidadas e fáceis de agradar, bem como um ar desportivo que se une a uma sensação de estarmos perante um automóvel premium, graças a vários elementos cromados (sem ser em demasia), bem como pelas jantes de maiores dimensões.
Nos seus 4,67m de comprimento, há vários elementos de destaque. Na dianteira é o elemento LED contínuo que mais salta à vista, tornando este MG Marvel R bastante reconhecível na estrada; já na lateral é a linha de cintura bem demarcada e os puxadores embutidos na carroçaria, de forma a melhorarem a aerodinâmica, que lhe dão a elegância que a MG procurou. Na traseira contamos com uma outra secção bem resolvida, no que diz respeito ao design, com um pilar C mais inclinado, o que lhe confere um aspeto dinâmico, assim como uma receita idêntica à encontrada na dianteira no que diz respeito à iluminação, que nos recebe com um jogo de luzes, bem ao género de outras referências europeias…
A MG parece ter estudado bem a matéria, conseguindo fazer com que o Marvel R agrade no exterior, conseguindo fazer o mesmo jogo no interior.
Não se pode dizer que não se fique impressionado quando entramos no MG Marvel R, tanto pela originalidade, mas principalmente pelo enorme ecrã do sistema multimédia, que se apresenta de forma vertical, mas bastante inclinada, com uma dimensão de 19,4″. Com um design moderno no seu interior, graças igualmente ao completo painel de instrumentos 100% digital, os materiais também são, na sua maioria, cuidados. No entanto, o apoio de braço, que por vezes “roça” com o banco do condutor, faz alguns ruídos menos agradáveis.
A posição de condução é elevada, o que nos permite ter uma boa visibilidade para a estrada e uma posição SUV, devido também à posição das baterias. Os bancos em pele oferecem ajuste elétrico (ainda que pudessem ter um que permitisse inclinar a base dianteira do assento) e memória, assim como aquecimento ou arrefecimento, faltando, no entanto, a possibilidade de regular o enchimento lombar.
No que à ergonomia e facilidade de utilização diz respeito, o ecrã de grandes dimensões obriga a que os olhos se desviem da estrada mais do que deveriam, com um funcionamento que não é o mais rápido e fluído. No entanto a apresentação é boa, com bons grafismos.
Quanto ao espaço a bordo, o Marvel R não é a proposta mais espaçosa comparando com outras soluções 100% elétricas do seu segmento, no entanto, não chega a ser uma proposta desconfortável nesse campo. Porém, na capacidade da bagageira não há milagres, com os 357l a serem curtos, ainda que nesta versão Luxury conte com uma outra bagageira dianteira de 150l, que oferece, no seu conjunto, uns mais aceitáveis 507l.
Mesmo com estes pequenos detalhes, o MG Marvel R continua a agradar, sobretudo devido a um equipamento de série muito completo, onde nem algumas propostas premium conseguem acompanhar. Mas vamos passar para a estrada…
A gama Marvel R tem dois níveis de potência, este Luxury com 179cv (132kW) com tração traseira ou os 288cv (212kW) do nível Performance, de tração integral. Numa base de utilização diária, estes 179cv parecem ser mais do que suficientes, isto se a condução for suave, que é a melhor (e mais indicada) maneira de apreciar este MG Marvel R.
O seu isolamento acústico está num bom nível, com uma suspensão branda (mas que tal como os cromados, não em demasia), assim como uns comandos leves, o que nos “empurra” para essa tal condução mais suave. As suas prestações são honestas, com a aceleração dos 0 aos 100km/h a ser cumprida em 7,9s e uma velocidade máxima de 200km/h, acima de muitos dos seus concorrentes.
Se puxarmos pela sua parte dinâmica, o Marvel R demonstra-nos que a suspensão mais preocupada com o conforto, bem como um peso que ultrapassa os 1800kg, preferem uma toada mais calma, mesmo que exista um modo Sport, um dos três disponíveis, mas que foi muito pouco utilizado.
Qualquer que seja a versão escolhida, o MG Marvel R conta com uma bateira de 70kWh de capacidade, o que segundo a marca lhe garante uma autonomia de 402km, algo que foi difícil de atingir no nosso teste. Em cidade conseguimos valores que variaram entre os 15,8 e os 16,6kWh/100, enquanto em autoestrada os valores situaram-se entre os 18,6 e os 23kWh/100km. A média final ficou em 21,3kWh/100km, um valor elevado face às suas prestações, o que significaria cerca de 320km de autonomia com uma carga completa.
De destacar que existem três níveis de regeneração, ainda que o comando para os selecionar não esteja na posição mais ergonómica possível (na base do ecrã multimédia), não existindo a possibilidade de contar igualmente com uma condução One-Pedal Drive, tudo fatores que não ajudam a que os consumos possam ser mais positivos. No que diz respeito aos sistemas de ajuda à condução, contamos com praticamente todos os que estão disponíveis nas propostas mais recheadas no mercado, no entanto, o assistente ativo de manutenção de via é demasiado agressivo nas suas reações.
Para carregar, o MG Marvel R pode atingir até 90kW em corrente contínua, o que não lhe permite aproveitar na plenitude carregadores mais rápidos que encontramos no nosso país, enquanto o carregamento alternado permite ir até aos 11kW. Basicamente, se optarmos por carregar totalmente este Marvel R numa Wallbox com essa potência, poderá demorar em torno de 6h30, enquanto o carregamento rápido reduz para pouco menos de uma hora. Isto coloca-o uma vez mais um pouco atrás dos seus concorrentes que já permitem velocidades de carregamento mais rápidas. No entanto, o MG Marvel R permite V2L (Vehicle to Load) podendo carregar ou fornecer energia a outros dispositivos elétricos.
No final, seriamos injustos se não achássemos que o MG Marvel R é um automóvel com qualidades. É verdade que ainda tem várias “arestas a limar”, mas grande parte do caminho está feito. O seu exterior é apelativo e o interior conta com uma imagem moderna, sendo igualmente superequipado, enquanto a condução prima pelo conforto, sobretudo em autoestrada.
Por outro lado, alguns ruídos durante a condução, ergonomia perfectível e a bagageira “curta” na versão Performance (por não existir um espaço na dianteira), bem como os carregamentos poderiam ser mais rápidos, para colmatar uma autonomia que não é líder, o que acaba por manchar uma prestação que poderia ser melhor. Contudo, o MG Marvel R conta com um preço atrativo face ao que oferece, sendo um SUV com imagem e conteúdo premium, por pouco mais de 51 mil euros nesta versão Luxury, sendo mais interessante no já bem equipado nível Comfort, disponível por 43.577€, que deverá ser o que irá atrair mais consumidores.
Portanto, neste primeiro contacto conseguimos comprovar que esta “nova MG” está viva e promete, graças a uma ampla gama de novos modelos, que vai crescer e que deverá evoluir bastante nos próximos anos. Nos seus planos, inclui-se mesmo um roadster, o Cyberster, que quer trilhar o mesmo caminho feito pelos míticos MGA e MGB, na altura em que a marca cumpre este ano o seu centésimo aniversário.
