“Emocionalmente corretos”
Nem sempre é fácil encontrar uma proposta que faça um equilíbrio entre a emoção e a razão. Se a Cupra é sinónimo de emoção, os seus motores mais desportivos (com preços e custos de utilização mais elevados) afastavam a parte da razão. A mudança começou com a chegada da opção híbrida Plug-in, mas só agora o cliente particular tem razões para sorrir, com a chegada dos motores 1.5 eTSI de 150cv à gama Cupra Leon. Uma solução que conjuga esses dois elementos que parecem teimar em estar sempre distantes.
Em teste estiveram as duas variantes do modelo de segmento C da marca espanhola, ambas equipadas com a transmissão DSG, a única disponível caso se escolha este eTSI, que conta com a ajuda da eletrificação leve. A transmissão manual fica “só” para o 1.5 TSI também de 150cv.
Esteticamente, a emoção está presente no design deste Leon, que só um olhar atento o consegue distinguir das variantes VZ. A dianteira, baixa, conta com os para-choques desportivos, com elementos que contrastam com a pintura (Preto Midnight no Leon 5 portas e Cinzento Graphene no Sportstourer); as jantes de 18’’ polegadas de série contam com um desenho mais convencional, que assentam bem em qualquer uma das variantes. O dinamismo passa igualmente para a secção traseira, mais no caso da versão de 5 portas, com um para-choques mais desportivo, onde se destacam mais (ainda que o Sportstourer também conte) as quatro ponteiras de escape, que têm intenção de o ser, mas que não tem a função que aparentam.
O interior também pretende conectar a emoção com a razão. Se por um lado contamos com vários elementos que nos ligam ao mundo da competição, com pormenores mais exclusivos e desportivos, como é o caso dos pespontos, acabamentos e pontos de contacto, o seu espaço habitável e geral ergonomia e facilidade de utilização compensam a balança no lado racional.
A digitalização do interior também assume a faceta tecnológica do modelo, seja através do cockpit digital, que apresenta as informações de forma prática e é possível de personalizar, seja através do ecrã central, que ainda que conte com alguma margem de melhoria, cumpre bem com a função e é bastante completo. Abaixo, o carregamento por indução permite uma total associação com o sistema Full Link que permite a ligação dos smartphones (Apple CarPlay e Android Auto) sem fios.
Ainda no interior, contamos com uns bancos de série, que misturam a pele e o tecido, oferecendo um bom apoio e conforto. Para quem procura mais exclusividade, por 1602 euros é possível eleger as bacquets integralmente em pele, com ajuste elétrico e memória para o condutor. Um investimento que coloca o interior deste Cupra Leon num outro patamar.
Passando para os lugares traseiros, embora o comprimento total seja 259mm superior no Cupra Leon Sportstourer face ao “hatchback”, a distância entre eixos é igual em ambas as silhuetas do modelo, o que significa que não existe diferença como ao início poderíamos esperar. Em termos de espaço para as pernas, o Leon é uma das soluções mais espaçosas do seu segmento, superior até a propostas de segmento superior. Em largura é um pouco mais estreito, sendo ideal a dois adultos, com o lugar central a ser aconselhado como de recurso, devido ao túnel central. O espaço para a cabeça também não merece reparos, sendo igual também nas duas variantes, mesmo que a variante ST, mais familiar, seja 20mm mais alta.
A grande diferença está nas bagageiras. Ainda que ambos apresentem boas volumetrias, o Cupra Leon Sportstourer com 620l é uma verdadeira solução para quem a mala importa, com uma superfície de carga plana e espaços laterais de arrumação, o que prova ser, uma vez mais, uma solução (também) racional. No caso da variante de 5 portas, os 380l de capacidade também o colocam bem posicionado no seu segmento, ainda que não conte com um acesso tão fácil quanto o Cupra Leon Sportstourer. Qualquer uma destas vastas bagageiras podem contar com roda suplente, por 76 euros.
Ao volante
A animar estas duas unidades estava o mesmo conjunto motor/caixa. O 1.5 eTSI é um motor gasolina com uma ajuda eletrificada, graças a um sistema mild-hybrid de 48V, que desenvolve 150cv de potência e 2500Nm de binário (entre as 1500 e as 3500 rpm), o que parece bem equilibrado para um peso de 1395kg para o 5 portas ou 1441kg para a Sportstourer, uma diferença de apenas 46kg.
Graças a esse bom binómio, as prestações não são nada “aborrecidas”, com o cronómetro a precisar de 8,7s dos 0-100km/h (mais 0,2s para a Sportstourer) e uma velocidade máxima que ascende aos 214km/h (mais 2km/h na Sportstourer).
Mas, como sempre, mais do que a “folha dos tempos”, o que importa são as sensações, e essas são bem positivas. Provando uma vez mais que nem sempre a razão, neste Cupra, é sinónimo de ficar a perder alguma coisa.
Este motor eTSI funciona muito corretamente, com um sistema elétrico suave que nos permite “rolar” suavemente, com o motor a entrar muitas vezes em modo “roda livre” quando circulamos em plano ou descidas, o que faz com que o consumo reduza. Esse aumento de eficácia também incrementa o conforto, graças a um sistema start/stop que funciona bem mais rápido, agindo de forma quase imperceptível.
A energia para o alternador é garantida através das travagens, que converte esse momento em energia, em vez de a desperdiçar. Com este sistema, estima-se uma poupança global de 10%.
Em vários momentos é ainda possível verificar que circulamos em “modo 2 cilindros”, com este motor a ser igualmente capaz de fazer isso, uma vez mais, com uma grande suavidade. Isto acontece muito em autoestrada, em velocidades mais comedidas, onde os consumos, efetivamente reduzem.
E podemos falar já disso, da parte racional, antes de passar para a emocional. Em mais de 1000km feitos com estas duas unidades, os consumos mistos (em condução normal e percursos verdadeiramente mistos), ficaram muito idênticos. O Cupra Leon 5 portas teve uma ligeira vantagem, acabando o teste com uma média de 6,3l/100km. A mais familiar Sportstourer terminou com 6,5l/100km.
Convém, no entanto, reforçar que em vários trajetos é possível fazer médias de “cinco baixos”, o que torna estes Leon(s) em propostas verdadeiramente racionais.
Agora emocionalmente falando, estes dois automóveis são igualmente divertidos de explorar. A direção rápida e direta está bem calibrada, assim como o tato do travão fácil de modular e um motor que permite ser explorado. A transmissão DSG, com comandos atrás do volante é suficientemente rápida, mas, tal como já constatámos em outros casos, ainda continua algo teimosa nas reduções. Pode colocar-se em modo S (sport) e deixar a DSG gerir sozinha, sendo provavelmente a melhor solução.
A suspensão é um pouco mais firme, mas com isso recebemos um elevado nível de aderência e contacto com o solo, com o comportamento dinâmico a ganhar muito com isso. A dianteira insere-se muito bem em curva, com confiança e, no caso do 5 portas, somos ainda brindados com uma traseira que deriva quando provocada, uma sensação agradável numa altura em que os automóveis estão cada vez mais pesados.
Estes Cupra Leon são verdadeiramente exemplos de que ainda é possível ter um automóvel lógico, sem deixar o condutor de fora da equação. O seu estilo exterior irá agradar a quem pretende uma imagem mais exclusiva, com o interior a contar com elementos distintos que o tiram do “cinzentismo”. O motor 1.5 eTSI é uma excelente mostra de equilíbrio, enquanto o comportamento devido a uma maior leveza e afinação, oferecem bons momentos de condução.
O Cupra Leon equipado com o motor 1.5 eTSI está disponível desde 36.282 euros, com a diferença entre o 5 portas e a variante Sportstourer a ser de, sensivelmente, 1.440 euros. É só uma questão de ver qual necessita, com a certeza de que qualquer um deles vai “encher as medidas” para quem pretende, o que cada vez é mais difícil, equilíbrio entre a razão e a emoção.
