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Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio MY20: “Confinamento em boa companhia”

Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio MY20: “Confinamento em boa companhia”
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“Uma prova de superação.”

 

Este ensaio não é normal, nem nunca poderia ser. Talvez nem lhe deva chamar isso.

O Alfa Romeo Giulia Quadrifoglio demonstra que as máquinas podem ter emoção; são mais do que uma junção entre ligas de metal, pedaços moldados de plástico ou centenas de metros de cabos elétricos. Toda essa junção forma um corpo que não se pode chamar inanimado, também não é humano, mas mexe com humanos como nós, que amamos automóveis. Máquinas vivas, que nos transmitem sensações fortes, principalmente a quem tem o prazer de os conduzir. Este espécime que aqui se apresenta é um dos melhores exemplos disso.

Felizmente, já tive a possibilidade de guiar as sensuais e tão italianas formas do Giulia por diversas vezes, mas provei a mim mesmo, uma vez mais, que mais uma “volta” de Quadrifoglio nunca é demais. Nem mesmo assim, o entusiasmo e a escalada de emoções pareceram acalmar, no regresso aos comandos deste velho amigo, que parece tornar-se cada vez mais especial. Portanto, se querem um ensaio mais “clínico” está aqui.

Regressei porque a gama Giulia foi renovada, sendo apresentada durante uma pandemia desconhecida por todos, e que a nós europeus tanto impactou, mas onde Itália foi uma das infelizes protagonistas. Ainda assim, fiz uma ligação entre este modelo e a tenacidade e superação do povo italiano. Vou contar-vos o que passei durante as centenas de quilómetros em que me confinei (de forma voluntária) no seu habitáculo, onde imediatamente à minha frente, os 510cv encontram lugar num estábulo V6 com 2.9L de capacidade, e que têm como “telhado” um capot integralmente feito em carbono.

Mas antes de tudo isso, convém explicar as mudanças de detalhe, mas certeiras, feitas pela marca ao Giulia.



No seu exterior apenas se notam os farolins traseiros escurecidos, continuando a ser atual e belo. Já no interior, as novidades vão para o atualizado sistema multimedia com ecrã tátil, o volante e a consola central revistos e com maior sensação de qualidade, como pontos de destaque. No campo da segurança ativa, o Alfa Romeo Giulia, e também este Quadrifoglio, passam a contar com sistemas ADAS, que permitem uma condução autónoma nível 2, sem impactar no tão importante prazer de conduzir.

A coragem de desvendar um renovado modelo durante uma pandemia, demostra também a coragem que a marca teve em criar um automóvel como este, capaz de ter o melhor de dois mundos: uma berlina que nos permite uma viagem confortável ou um uso normal de dia-a-dia, enquanto no outro extremo consegue ser um verdadeiro monstro, com performances alucinantes.

Quando recolhi a chave do Giulia, o dia começava a escurecer, com o sol a desaparecer para só reaparecer no início do dia seguinte. O trânsito ficou para trás logo após os primeiros quilómetros, já a pele de galinha começa a aparecer quando seleciono o modo desportivo e faço eu próprio as trocas, utilizando as generosas patilhas colocadas atrás do volante, com a banda sonora grave do escape e o típico som de troca de relações a ecoarem no ar.  Já a “golden hour” tratou de oferecer a luz certa, para este momento, quase cinematográfico, que se repetiu vezes sem conta.

Após esse entusiasmo inicial, volto a constatar de imediato a já conhecida agilidade e o feeling perfeito dado por este Alfa Romeo, que mesmo sendo um “bonito monstro” com mais de meio milhar de cavalos, consegue ser bastante domesticado. Mas é certo que o sítio dele não é aqui na cidade. Bem, pode ser, mas não para mim. Conheço locais bem mais bonitos e que lhe agradam mais, também conhecidos com um “serpentear de asfalto” que me permite, uma vez mais, testar parte do que este Giulia tem para oferecer.

Parte? Sim, explorar 100% de um Giulia Quadrifoglio na via pública, para além de praticamente impossível, é altamente arriscado.



Mesmo sem chegar a esses 100% que certamente nos testam, o Giulia Quadrifoglio continua a divertir o condutor, e a fazer com que tudo chegue mais rápido. Para que tudo corra bem, continuamos a contar com um respeitável sistema de travagem, que nos ampara sem fadiga, e oferece um excelente tato de travão, possibilitando um jogo a “dois pés”, com o direito a ficar apenas encarregue de gerir o acelerador.

O binário máximo de 600nm, que parece capaz de meter o planeta a rodar de novo caso ele decida parar, está disponível logo às 2500rpm, oferecendo muito pulmão e tração à saída das curvas.

O segundo dia, ainda totalmente seco, permitiu algum uso do modo Race, que tem de ser gerido com muito mais cuidado, mas que permite uma sonoridade ainda mais inebriante, assim como passagens de caixa em apenas 150 milissegundos.

Basta um piscar de olho, e o Giulia já trocou de mudança; esperamos menos de quatro segundos e passámos dos 0 aos 100km/h…

O “problema” começa no sábado. Primeiro dia de confinamento, e aqui começo a notar uma nova patologia, ainda sem nome, mas que já vão entender.

As regras são simples, mas injustas: proibição de sair do concelho, com hora de recolher entre as 23 horas e as 5h do dia seguinte.

Quão grande é um concelho para um carro tão “enorme” como o Giulia?

“Pequeno, é muito pequeno este concelho para nós dois, Giulia.”

Cada quilómetro tem outro sabor, cada curva é feita de forma diferente. No regresso a casa, a minha nova patologia intensifica-se, com uma vontade enorme de não “abandonar” este Giulia.

Qualquer hipótese de sair de casa é aproveitada. Se fosse possível, compraria tudo à unidade para ir e voltar mais vezes, tudo é desculpa para carregar no botão pintado de vermelho no volante uma vez mais. Tudo é desculpa para dançar sobre as poças que a chuva cria no asfalto que está agora brilhante, mas que nunca desequilibra este Alfa Romeo, que nunca se parece afetar. Já eu, não posso dizer o mesmo.

Isto porque, no dia seguinte, Domingo, começo a pensar que seria possível viver para sempre com este automóvel. Não, não é síndrome de Estocolmo por estar apenas e só aqui fechado, até porque o Giulia não me fez mal algum. Mas essa sua “personalidade camaleónica” faz com que preencha todos os campos que pretenderia num automóvel, “apenas” 112.500 euros nos separam. Um pequeno pormenor.



Os quilómetros somam-se, o serpentear das curvas começa a ser cada vez mais memorizado, estamos no mesmo ritmo. Já o combustível, grita por mais, com a ida às bombas a acontecer de forma mais frequente, com um computador de bordo a marcar 13,3L/100km de média. A culpa não é dele, é minha. Já que é possível fazer menos, usando o modo Advanced Efficiency, atingindo números como 8,5L/100km. Algo muito positivo, tendo em conta a potência.

A impossibilidade de sair até muito longe faz-me querer lavar o Giulia que já esteve bem mais limpo do que agora. A sujidade dos quilómetros das nossas aventuras está bem presente, quase como se de um troféu se tratasse. Tudo parece ser uma desculpa, mas antes olho de novo para a serra, que está ali ao lado, e vejo a sorte, tanto minha, como do Quadrifoglio, a darem-me mais um sinal…

Vamos lá, só uma vez mais…

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!