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Comparámos um “normal” Hyundai i30 com o i30N Performance

Comparámos um “normal” Hyundai i30 com o i30N Performance
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“Uma questão de poder”

Enquanto que, certo dia, surgiam ideias na cabeça de algum engenheiro, numa das muitas instalações da Hyundai à volta do mundo, a mim surgia-me uma claramente mais simples: um comparativo entre a versão mais básica de um modelo, e aquela que é a primeira de um desportivo, de uma marca que há 15 anos atrás, nem ela própria imaginaria isso. Nem nos seus melhores sonhos.

Idealizei então, juntar o Hyundai i30, aquele que em 2007 foi o primeiro modelo da marca a ser ‘batizado’ com este “i” à frente de um algarismo, que de forma crescente dá a conhecer o segmento onde se insere, e que nesta sua terceira geração está mais polivalente do que nunca, dando a hipótese ao cliente de escolher entre uma das três carroçarias diferentes.

Por outro lado, também foi uma hipótese de comemorar o Hyundai i30N, um automóvel que passou por cá no final do ano passado, e que, posso dizer: fiquei impressionado.

Sim, impressionado não é um exagero, estava à espera de algo novo, mas nada tão equilibrado. Foi um primeiro tiro, muito bem dado, diretamente no alvo. Ainda que o i30 tivesse conhecido um “ensaio geral de desportivo”, o i30 Turbo, que também tivemos por cá.

    “Vamos então começar.”

As diferenças entre ambos são mais do que muitas, mas importa referir que o Hyundai i30, está com linhas bem mais agradáveis que as do seu antecessor, já que Peter Scheyer quis criar um automóvel 100% ao gosto dos europeus, com linhas suaves, mas com uma forte imagem, e foi por isso que incorporou aquela que é agora uma importante distinção para todos os Hyundai: “Cascade Grill”, ou em bom português, grelha em cascata, uma grelha de grandes dimensões que apresenta diferentes acabamentos e que nos faz saber que estamos perante um modelo da marca coreana, que quer também ser a líder dos automóveis asiáticos na Europa muito em breve.

A versão sem “superpoderes” era a Confort e montava debaixo do capot o 1.0 T-GDi de 120cv a gasolina, um motor que apresenta um bom balanço entre o preço e as suas prestações, servindo perfeitamente para uma pequena família ou um cliente que não coloque as performances no ponto mais alto das suas prioridades. Este motor consegue mesmo, na gama i30, ser um verdadeiro oponente face ao diesel.

Abaixo podem ver as diferenças entre este i30 Confort e o i30N Performance, aquele que é o i30N mais potente:

     “Sim, existe um i30N menos potente. Mas podemos já dizer: não faça isso!”

O i30N Performance recebe 25cv extra, um diferencial autoblocante eletrónico, assim como jantes de 19’’ exclusivas, envoltos em pneus Pirelli P Zero, desenvolvidos a pensar neste modelo. Esteticamente, é bastante evidente a desportividade do “N”, com os para-choques mais agressivos e com detalhes vermelhos, que escondem as entradas e de ar, que direcionam os fluxos para os sítios mais essenciais, graças a muito tempo no túnel de vento e em extensos testes dinâmicos, tão importantes que dão origem a parte do N que está na frente do Hyundai i30: “Born in Namyang, developed in Nürburgring”

As dimensões são praticamente idênticas, sendo que o i30N é mais curto 5mm, assim como mais baixo em apenas 4mm, facto que engana quando olhamos para eles em conjunto. Isto porque a suspensão do i30N foi revista e faz com que esta versão fique mais perto do asfalto em 7mm. Para ver as diferenças, a traseira é a área mais evidente, com uma dupla saída de escape no fundo do para-choques, assim como um generoso spoiler que esconde uma terceira luz de stop triangular.

Entrando, podemos ver (e sentir) as diferenças. O habitáculo do i30 foi pensado para ser bastante ergonómico, com um desenho simples e eficaz. As alterações ocorrem em “pontos de toque”, ou seja: os bancos do i30 N oferecem um apoio muito superior, contando com regulação elétrica e podendo ser estendidos na parte inferior. A alavanca da caixa manual de seis velocidades também difere, assim como o volante. E esse último elemento, esconde umas diferenças muitos interessantes.

Aqui, no i30N, encontramos dois grandes botões: Drive Mode e uma bandeira axadrezada, que sabemos que “vai fazer estragos”. Estes dois botões são os que nos permitem alterar os modos de condução, e são três no lado esquerdo: ECO, Normal e Sport. E no da direita contamos com o Modo N, em que tudo fica afinado de forma mais agressiva.

    “Afinado? Então, mas não testaram tudo?”

Sim, testaram. Mas dão a hipótese ao condutor de colocar o i30N à sua maneira e pronto para qualquer desafio. Por isso, existe o modo “Custom”, que somando todas as possibilidades e variáveis, pode resultar em, prepare-se: 1944 perfis de condução diferentes!

No interior ainda podemos encontrar um painel de instrumentos diferente, com um computador de bordo que nos apresenta um maior controlo sobre as temperaturas, um medidor de acelerações laterais e longitudinais, assim como um cronómetro, muito útil para as “idas recorde ao supermercado”. Sim, porque qualquer que seja o i30 que escolha destes dois, o espaço interior e bagageira estão garantidos em qualquer um, com o desportivo a não ter penalização alguma nesta área.

É altura de falarmos mesmo de diferenças na condução. Mas, primeiro, mais uns números interessantes. A diferença em cavalos entre estes dois i30 era de mais 2.2x para o N, ou seja, 120cv vs 275cv. O binário também era bem mais do dobro, 172Nm vs 378Nm, entre dois motores com dimensões e arquiteturas bem distintas: 1.0L de 3 cilindros e 2.0 de 4 cilindros, o que faz com que as prestações também sejam completamente anacrónicas: com uma velocidade de ponta de 190km/h para o “mundano” i30 1.0 e os 250km/h para o “superpoderoso” i30N. Para acelerar, o tempo também é bem menor para este último, despachando os 0-100km/h em menos 5,0s que o seu irmão de 120cv!

     “No papel a diferença é brutal, e na prática confirma-se.”

Neste comparativo não há o caso de vencedor ou vencido, é antes um exercício para ver até onde um modelo pode ir. E se o i30 1.0 120cv Confort que passou comigo a semana, se mostrou um automóvel muito polivalente, sendo um bom aliado em cidade e autoestrada, com médias contidas (6,4l/100km), assim como um conforto sem mácula e uma dinâmica de condução neutra, que ainda assim em andamento mais rápido se nota ser uma boa base, foi no i30N que se notou isso em sobremaneira.

     “Um autêntico monstro!”

Como é possível? O i30 que eu deixei agora no estacionamento não era assim, este é totalmente diferente, começando no som estridente que sai pelo escape, a direção com um peso mais envolvente, o próprio pisar, e um acelerador bem mais reactivo. Se me fechassem os olhos, eu diria que não estava num i30.

Tive a sorte (ou o azar) de o ligar logo no Modo N, ou seja, estava no modo mais radical, e se é para experimentar, que assim seja. Percorri a mesma estrada que com o i30 1.0, e fi-lo várias vezes. A forma como este desportivo aborda as curvas e nos dá doses de confiança é perturbante, a travagem passa a ser “mais ali à frente”, ao mesmo tempo que chegamos lá bem mais rápido. O modo Custom é uma verdadeira mais valia, já que ao ajustar podemos meter alguns elementos menos radicais, como é o caso da direção e da suspensão, aconselhando metê-los mais brandos, de forma a tolerar melhor os pisos que encontramos nas nossas estradas.

      “Parece que nos metem um jalapeño na boca e nos dizem: desculpa, não temos água.” 

Isso é válido com tudo o resto, tudo pode ser personalizado, portanto, podemos usar este Hyundai i30N sem pareceremos uns Hooligans a cada túnel, ou a dar toques de acelerador cada vez que vamos fazer uma manobra.

Desculpem, mas é viciante!

Fiz outro desafio, testei com mais pessoas, e a reação é a mesma: isto é um Hyundai?

Sim, é. A marca realmente arriscou, e arrisca a cada lançamento, mas isso acontece cada vez menos, já que os produtos estão com uma qualidade ao nível dos melhores, e se faltava um desportivo, aqui está ele.

Qual escolheria? Isto não é um caso de vencedor. É obvio que eu, e muitos dos que estão a ler, queriam ter um i30N em vez de um i30 1.0, mas o certo é qualquer um deles seria uma boa escolha para o cliente certo. O mais comedido, como disse acima, não falhou em nada, conseguindo ser um rival para as propostas do segmento.

Mas o i30N é, sim, uma “ameaça” para a sua concorrência.

Se nenhum destes i30 for suficiente, podem ler os ensaios à carrinha, ou ao elegante Fastback, que também vai receber uma versão N.

E que, com muita pena minha (só que não), vou ter de testar… pode ser já amanhã, que não tenho nada combinado!

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!