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“Os sonhos de criança são (sempre) os melhores”

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“O Spider que eu imaginei”

 

A minha infância, resumidamente foi recheada de automóveis, de todo o tipo, mas alguns marcaram-me mais do que outros, este, foi um deles. O Renault Spider foi um verdadeiro “OVNI” lançado em 1995, e é ainda uma das criações mais radicais com assinatura Renault. Um verdadeiro objeto de coleção, assim que as suas quatro rodas “rolavam” para fora da sua linha de montagem.

E para mim, foi diretamente para o “baú das memórias” que agora abro.
Mas antes, um pouco de historia para reavivar a nossa memória.

Se houvesse um “exemplo de sucesso” para uma marca, a Renault seria esse exemplo no inicio dos anos 90. Na sua gama, o Twingo, Clio, Laguna e Espace vendiam como “pãezinhos quentes”, com o Mégane a preparar-se para se juntar “à festa” com uma gama também ela completa, assim como uma nova proposta familiar, a Scénic. Uma gama vencedora, comercialmente falando.

Mas para vender na segunda, era preciso vencer ao domingo, e para isso a Renault, também na competição, fazia algumas façanhas interessantes, como o caso dos Clio Kit Car que alegravam os campeonatos nacionais de rali, o que também foi caso do nosso, como podem ver neste vídeo. O mesmo acontecia na Formula 1, com a Williams Renault a vencer campeonatos com Alain Prost, Damon Hill, Nigel Mansell, ou mesmo Michael Schumacher, pela Benetton. A marca até tinha um “halo car”, a Espace F1, respondendo a algo que ninguém tinha pedido: um monovolume com motor de F1.

Quem não se lembra dele?

Mas a marca preenchia ainda outro campo importante, o dos concept cars. E se hoje são peças importantes, naquela época eram indispensáveis. No caso da Renault, mostravam sem muita dificuldade para onde se dirigia o estilo, e o Laguna Concept de 1990 era exemplo disso, e inacreditavelmente fazia um “rendez-vous” das primeiras “linhas” deste exclusivo Renault Spider, e não do Laguna que foi lançado em 1993.

Na “cadeira do poder” da Renault, estava Louis Schewitzer, e foi ele quem em 1993 deu “luz verde” para a produção de um desportivo leve, com motor central e tração traseira.  Obrigado Louis. Pouco tempo depois, em Maio de 1994, rolava o primeiro protótipo. O projeto era corajoso, mas simples, já que o motor vinha diretamente do Clio Williams (ou do Mégane Coupé IDE), o 2.0L quatro cilindros 16v com 150cv, era montado numa estrutura em alumínio e painéis em fibra de vidro. O peso? Apenas 930kg, que na verdade, não são assim tão leves hoje em dia. A construção tinha lugar no “santuário” de Dieppe.

Santuário? Sim, era a “casa da Alpine”.

Este foi o ultimo Alpine, que no final de contas não era um Alpine, há quem diga que o seu nome poderia ter tido o prefixo de Alpine, mas essa “ressurreição” ficou guardada para o século XXI, como podem ler aqui.

Sendo assim, no Salão de Genebra de 1995, a Renault colocava o Spider no seu stand, o primeiro Renault Sport, com um design bem da época e que ainda fazia uma homenagem ao Alpine A220, dos anos 60. O que poderia falhar?

A gama era até compreendida por alguém com uma idade tão tenra como a que tinha na altura, havia duas versões: com ou sem para-brisas A versão mais “resguardada” via o peso aumentar na balança em 50kg, chegando assim aos 980kg. O preço começava, em frança, nos 195.000 francos, algo que hoje iria equivaler a pouco menos de 30.000€. Quem nos dera que houvesse algo deste tipo agora…

Depois de decidir qual a versão, ao futuro proprietário só faltava escolher a cor, desde que fosse vermelho, azul ou amarelo. Pelo menos na altura do seu lançamento, já que o prateado se juntou a essas cores, mais perto do seu final de carreira.

O que esse proprietário não ia encontrar era conforto, obviamente, se quisesse teria o Safrane, por exemplo, que era o topo de gama da marca. O Spider não contava com direção assistida, nem ABS, o airbag podia ser um opcional para o condutor, assim como o rádio. O conforto era dado por umas bacquets Recaro, e pelos pedais ajustáveis, para que o condutor estivesse em perfeita harmonia com o pequeno desportivo francês.

O Renault Sport Spider era feito para conduzir, pilotar, ou apenas para… colecionar.

As prestações eram bastante respeitáveis para a época, com uma aceleração dos 0 aos 100km/h a ser cumprida em menos de sete segundos, e uma velocidade máxima que passava dos 210km/h.

A sua carreira foi muito curta, apenas quatro anos, o que aumentou ainda mais o interesse para os colecionadores (eu seria um deles, podem ter a absoluta certeza. Ainda não perdi a esperança). Ao longo da sua carreira, o Spider foi reproduzido 1726 vezes, em que cada unidade demorava 90 horas a construir, completamente à mão. De todas as unidades, apenas um quarto delas contava com para-brisas, isso demonstra bem o que o “cliente Spider” procurava.

Quanto à sua carreira desportiva essa passou por um muito competitivo Renault Trophy Cup, com um total de 90 unidades a serem produzidas. Essas contavam com rollcage em redor do habitáculo, assim como um motor que viu a sua potência aumentar até aos 180cv. A diversão era garantida. Uma versão com motor V6 tentou integrar as 24h de Le Mans em 1998, tentou, porque não competiu, depois de não ter passado nas verificações técnicas…

O Renault Sport Spider, é mais do que um devaneio de uma marca que queria comemorar o seu sucesso, é mais do que um automóvel sem regras, é um automóvel que embora tenha vindo na altura errada (o Lotus Elise foi lançado no ano seguinte), marca o inicio de uma importante submarca: a Renault Sport. Aquela que hoje todos conhecemos e ligamos automaticamente aos seus “hot-hatches”, como o Clio R.S., ou “recordistas de Nürbugring” com o Mégane R.S.

Em criança tinha um Spider amarelo igual ao da foto, com que brinquei horas a fio, não sei se ainda existe, ou se acabei por o “gastar”. Por isso, por preencheres os meus sonhos de criança, e por seres um dos meus brinquedos preferidos, Obrigado Spider.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!