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Nissan 370Z Nismo

Nissan 370Z Nismo
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“Velha escola Japonesa”

Podia assumir vários estilos neste ensaio, no momento em que escrevo nem sei muito bem qual vai ser o usado, mas poderia ser este: “Há muito tempo que te espero…”

Talvez as coisas tenham a sua própria maneira de acontecer, na altura certa. Há três anos que ando atrás de um ensaio ao Nissan 370Z, por diversas situações, que nunca se conseguiu concretizar. Até agora. Durante uns dias, o “meu único volante” será o do Nissan 370Z Nismo. E agora paremos e pensemos numa coisa: “O que será que muda em três anos de indústria automóvel?”

Eu posso responder: muita coisa. Ainda para mais, num automóvel que já conta com mais de 9 anos de mercado, o que me leva à questão: Será uma espécie em vias de extinção?

Os anos que esperei por este ensaio valeram a pena, acho que tornaram tudo mais romântico, mais dramático e interessante, ver o que mudou na indústria e constatar até que ponto o tradicional vence face ao cada vez mais tecnológico, que é, na maioria das vezes, mais veloz e eficaz.

Aqui, a tradição respira-se, basta ver que este modelo conta como seu “Avô” o saudoso Datsun 240Z, lançado em 1970, e que mostrou que os japoneses conseguiam fazer desportivos divertidos, para além de conseguir fazer sucesso no continente norte-americano. Depois disso, surgiram varias iterações com Z (260Z e 280Z, evoluções do primeiro), sendo que a marca só voltou a lançar um “verdadeiro ‘Z’”, três décadas depois, em 2002, com o 350Z, o “pai” deste modelo. A sua carreira foi bem-sucedida, e com um design muito futurista, mas que não assustou e se tornou numa base para o 370Z, com este último a ter apenas “limado arestas”, continuando, visto do exterior, ainda atual.

No exterior, o Nissan 370Z Nismo conta com algumas diferenças face ao 370Z “normal”, contando com elementos vermelhos de contraste, inseridos nos para-choques dianteiro, mais agressivo. Na lateral, onde podemos ver as proporções inconfundíveis deste modelo (capot longo e traseira descendente), contamos com as exclusivas e generosas jantes de 19’’, que envolvem os largos pneus traseiros (285/35 R19), e que escondem o sistema de travagem de maiores dimensões. A traseira é ainda mais memorável, muito larga, que se destaca pelo grupo ótico com formato ‘boomerang’, e pelo spoiler perfeitamente integrado na porta traseira. O para-choques, tal como na dianteira, é também mais agressivo onde integra, nas pontas extremas do seu difusor, duas generosas saídas de escape, relembrando que estamos perante um automóvel muito especial…

 

“…este modelo conta como seu “Avô” o saudoso Datsun 240Z”

 

Abrindo a porta, através dos seus puxadores que são também uma imagem de marca, entramos numa outra realidade. Atenção, não tem uma má apresentação, muito pelo contrário, graças a detalhes deliciosos, como é o caso das (muito boas) bacquets Recaro vermelhas com a inscrição Nismo no topo, volante em pele e alcantara e ponto ‘zero’ no topo, assim como o painel de instrumentos, de fácil leitura, totalmente analógico e que segue o ajuste do volante, que infelizmente só acontece em altura, e não em profundidade. E sim, é aqui que as coisas se notam algo datadas. O habitáculo é bem construído e os materiais não são ‘soft-touch’, mas acabam por ser de boa qualidade. A sua idade é visível ainda em outros aspetos, como o sistema multimédia completamente “do século passado”, e a imensidão de botões, em que cada um tem uma função, tirando o do Ar Condicionado, que para selecionar para onde queremos que o vento siga, tendo de carregar varias vezes até encontrar o desejado…

Mas isso, sinceramente, acabam por ser pormenores, já que quem procura um automóvel como o Nissan 370Z Nismo não está à procura de conectividade com o seu iPhone, uns bancos com massagem ou head-up display. Quem procura este automóvel, quer emoção atrás do volante, e ter um dos últimos desta espécie!

E que espécie é esta?

Este Nissan não conta com injeção direta, e muito menos turbos. Aqui é tudo “tradicional”, à moda antiga, onde a potência só é entregue quando se quer muito que ela assim o seja, e avisamos, quando chega, é de forma mais brutal.

São 344cv vindos de um “enorme” bloco 3.7L V6 montado longitudinalmente, ligado a uma, imagine-se, transmissão manual de seis velocidades, que mais mecânica era complicado. Porque é que disse “enorme”? Porque o ‘downsizing’ está na ordem do dia, e o que é que a Nissan fez quanto a isso? Nada. E fez muito bem!

Ao volante…

Para começar, tecnologias à primeira vista, temos três. A chave mãos-livres, o que significa que ligamos este Japonês através de um botão; temos o botão do ESP, que pode ser desligado; e temos um outro botão junto ao comando da caixa de velocidades, o S-Mode, que faz os “ponta-tacão” por nós.

 

“Quem procura este automóvel, quer emoção atrás do volante…”

 

Ligando-o, o som é diferente, um V6 a gasolina desportivo que começa a ser raro, portanto sabe sempre bem sentir aquele “trepidar” quando o ligamos. O som de escape não é exagerado, e acaba por estar amestrado, prometendo pela sua dimensão que se faça ouvir ainda mais quando as rotações sobem, já que o redline só começa às 7500rpm…

Vamos lá! A direção é pesada, é assistida, mas mecânica, a transmissão também pede algum esforço extra, com um engrenamento muito mecânico e decidido, e nota-se desde logo que não é tão rápida como desejaríamos, mas com o andamento essa sensação começa a desaparecer. O motor, até às 3000rpm, é muito ‘calminho’, conseguindo rolar muito bem. A suavidade não é bem o seu forte, portanto trânsito de sexta-feira para a ponte, é sempre divertido. Aconselhamos, neste caso, a arrancar em 2ª, já que a primeira é demasiado curta.

Mas, uma vez mais, o 370Z Nismo não é feito para isto, portanto, numa estrada mais conhecida e sinuosa, conseguimos ver o material do qual este modelo é feito. Para conseguir todo o seu potencial, a sua rotação tem de subir bem, acima das 5000rpm. Aí, “respira melhor” e as coisas acontecem bem mais rápido, a direção pesada passa a fazer sentido, a barra estabilizadora traseira, que poderia parecer exagerada e qua está exposta no interior, compreende-se e dá uma grande rigidez em curva. Aqui, a psicologia tem de mudar, a entrada de curva deve ser feita em uma mudança mais abaixo do que normalmente entraríamos, de forma a garantir essa potência quando saímos no final da curva.

A frente aponta bem à entrada das curvas, e impressiona com a sua aderência e comunicação com o condutor, mais do que poderíamos esperar inicialmente, já que a sua distribuição de peso nos leva a pensar que o 370Z Nismo seria num automóvel com um carácter subvirador. A meio da curva, ainda com a rotação alta, é fácil de entender os ajustes de suspensão com maior rigidez, o que se mostrou essencial para conseguir uma boa aderência, e que não são desconfortáveis em circuito normal. A saída de curva é onde se pode sentir um pouco mais da traseira, sendo fácil de controlar, sem “esticar” demasiado a trajetória, empurrando bem os 1610kg deste modelo em direção às próximas curvas.

A caixa de velocidades, com o S-Mode ligado, é uma delícia, conseguindo fazer de forma exímia as reduções, tornando um normal condutor, num piloto. Ainda assim, é fácil fazer o “ponta-tacão” de forma tradicional, sem problemas. Os travões contam com uma boa mordida e são fáceis de tolerar.

Quanto a performances, o 370Z Nismo, por vezes, não parece tão rápido como na realidade é, muito graças ao tal tradicionalismo que falámos acima. A ausência de turbo tem esse efeito, mas na realidade, abrindo bem o “pulmão”, consegue uma aceleração em pouco mais de 5 segundos, até atingir uma velocidade máxima de 250km/h. O tal som que vos falámos, torna-se mais evidente no tal patamar preferido deste automóvel, ou seja 5000 às 7500rpm.

 

“A caixa de velocidades, com o S-Mode ligado, é uma delícia…”

 

Mas há ainda o reverso da medalha. Os números apresentados de consumo e emissões de CO2 tornam ainda mais provável que este modelo se torne mesmo uma história do passado, ou seja, a marca anuncia mais de 11l/100km, e uma emissão de CO2 que ultrapassa os 240g/km, o que por pouco não o coloca no escalão mais elevado de IUC, não se livrando ainda assim de pagar uns respeitáveis 707,35€ por ano.

O preço não é culpa do modelo, mas sim dos mesmos senhores que taxam o IUC, já que o preço base deste 370Z Nismo nem é nada exagerado (29.106€), pior é quando somamos todos os impostos (42.3945€), o resultado são uns 71.500€.

Posto isto, só existem duas maneiras de pensar num Nismo. Se gosta de fazer contas, e se preocupa muito com o dinheiro gasto num automóvel, o 370Z Nismo não é para si, vai sempre lembrar-se que pagou quase o dobro do automóvel em impostos, e que é “roubado” no selo e que a gasolina está cara.

Por outro lado, o cliente deste 370Z Nismo não quer saber disso, mas sim “sorrisos por quilómetro”, “marcas de borracha no asfalto” e uma sensação de condução praticamente sem filtros. Para nós, que tentámos fazer aqui uma ponte, achamos que o preço é elevado, mas temos sempre de nos lembrar que esta proposta é muito diferente do resto, e a sua exclusividade bate aos pontos marcas com modelos do triplo do seu preço.

Nissan 370Z Nismo

Especificações:
Potência – 344cv às 7400rpm
Binário – 371Nm às 5200rpm
Aceleração dos 0-100 (oficial): 5,2s
Velocidade Máxima (oficial): 250km/h
Consumo Combinado Anunciado (Medido) – 10,6l/100km (12,3l/100km)

Preços:
Nissan 370Z desde: 60.100€
Preço da versão ensaiada: 72.500€

Carrega nas fotos e vê este Nissan 370Z Nismo em detalhe:

Fotos: Rodrigo Inocêncio

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!