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Teste completo: Mais de 600km no novo Honda e!

Teste completo: Mais de 600km no novo Honda e!
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“Carga (e)mocional”

 

Por vezes, uma das tarefas mais complicadas que encontro é ser frio e pouco emocional com certos automóveis. Sejam eles desportivos e que “puxem” mais por mim, ou em propostas como este Honda e, um corte tão grande com as “regras” que se torna (quase) impossível não trespassar um pouco de emoção para o texto. Prometo que vou tentar que isso aconteça o mínimo possível, até porque não há fórmulas perfeitas… 

 

Estética Exterior.

Usei uma diferente métrica aqui. A atenção. Já faço isto que adoro há algum tempo, e depois de centenas de automóveis testados, há umas propostas que chamam mais a atenção do que outras, mas o Honda e está no “top” de automóveis que mais chamaram a atenção. Foram muitos os que apontaram, os que comentaram, não de forma pejorativa, acredito que alguém o tenha feito, mas provei que os elétricos não têm de ser (todos) aborrecidos. Este virou cabeças.

É normal que isto tenha acontecido, o Honda e parece um concept-car que apanhou uma porta aberta de um salão, “roubou” duas chapas de matrícula e foi descobrir a cidade. As suas proporções, a silhueta clean e a falta de espelhos, fazem muito por isso.

A sua inspiração é retro, vinda dos concept que a marca apresentou nos últimos anos. O Urban EV e mais recentemente o ‘e concept’, este último, praticamente decalcado para a unidade que aqui podem ver nas fotos. Um ar “vintage”, inspiração que tão bem resultou no FIAT 500, e que a marca quis aqui fazer prestando homenagem ao original Civic.

Os grupos óticos são outro dos pontos de destaque, graças a dimensões bastante generosas, feitos para impressionar, tanto na dianteira como na traseira, graças à mesma inspiração circular. O Honda e quer impactar, não se quer “perder” no trânsito. As suas cinco portas estão “camufladas” por um puxador escondido no pilar C, enquanto os homónimo da frente estão embutidos na carroçaria, revelando-se quando nos aproximamos. Coisas que não há muito tempo eram de… concept.



Estilo Interior. 

Mas se o exterior “grita” por revivalismo, o interior liberta a tecnologia, de uma forma que mais me faz lembrar um lounge de aeroporto para a classe executiva. Mas à boa maneira japonesa, ou seja, tudo de forma mais… compacta.

Uma verdadeira cascata de ecrãs, é o que temos no topo do tablier, linhas horizontais que juntam o normal plástico negro a uma bem conseguida imitação de madeira, e com o tecido que poderia ser o de um confortável sofá onde me sentaria no final de um dia de trabalho. Mas, na verdade, é isso que um automóvel tem de fazer, não é? Acomodar-nos e reconfortar-nos no final de um dia movimentado.

A sensação de espaço é bem conseguida, tanto pela superfície vidrada, como pela ausência de túnel central (à frente e atrás), criando um piso totalmente liso. Os espaços de arrumação encontram-se espalhados e são suficientes para o que temos nos bolsos neste século XXI, enquanto o teto panorâmico de série dá ainda mais luminosidade a este ambiente high-tech.

Os ecrãs, são na verdade seis. Ou seja, dois para os espelhos exteriores, um para o espelho retrovisor e depois três grandes para a informação. Um para o painel de instrumentos, fácil de ler, e mais dois de 12,3’’ para personalizar ao nosso gosto. Seja para colocar uma paisagem tipicamente nipónica, ver os consumos e gestão da bateria, ou ligar uma consola enquanto esperamos pelos carregamentos, é tudo uma questão de escolha.

Sim, o Honda e tem uma ficha HDMI e uma tomada de 230V, portanto as escolhas são ilimitadas. Netflix? Pode ser. Uma cafeteira? Também dá!

Quanto ao espaço, no banco traseiro cabem dois passageiros, enquanto a bagageira é onde as coisas começam a não correr tão bem para o Honda e, com apenas 171L. A justificação da marca é a de que este automóvel tem de ser visto como um citadino, mas ainda assim é algo limitado para um carro que mede 3,89m de comprimento…

A verdadeira culpa disto é a disposição de “tudo atrás”, com o Honda e a ter a tração e o motor colocados em posição traseira.



  Questões Práticas e condução.

Geralmente diz-se: quando está bom, não se mexe. Eu até gosto de fazer o contrário, mas neste caso, acho que o ditado é aplicável.

A falta de espelhos no Honda e dá-lhe caráter, é verdade, mas acho que se os tivesse também não lhe retirava a piada. Digo isto porque os espelhos são algo que ainda funciona no século XXI; a sensação de profundidade dada por estes será sempre melhor do que a de qualquer ecrã, assim como a liberdade de movimento que proporcionam quando queremos “espreitar” algo fora do nosso normal alcance, sem termos de andar a mexer em mais um comando. Ainda assim a posição escolhida pela Honda foi feliz, ao contrário de outras marcas que já tentaram o mesmo.

A Honda também colocou linhas de auxílio sempre que fazemos o pisca, de forma a ajudar-nos na medida da profundidade. De qualquer maneira, a habituação foi feita logo no primeiro dia, já que nas manobras de estacionamento, a visão 360º e o zoom de câmara até ajudaram. A luminosidade à noite está bem conseguida, com o “granulado” só a aparecer quando está mesmo muito escuro lá fora.

Isto tudo só para dizer que talvez não fosse preciso esforçarem-se tanto neste campo dos espelhos…o mais simples neste caso funcionava muito bem.

Passando para a condução. O Honda e abre-se quando me aproximo, sento-me e já está ligado com um “jingle” tipicamente japonês, mas elegante. Debaixo do piso estão as baterias de iões de lítio, com 35,5kWh, capazes de fazer o Honda percorrer 215km (ciclo WLTP). Um pouco limitado, mas a marca justificou essa escolha da mesma forma que a bagageira, com um: “O Honda e foi pensado para a cidade…”

Pois bem, compreendido. Mas quando os concorrentes apresentam mais, é complicado esquecer esta lacuna.

A condução deste pequeno Honda e é divertida, muito divertida! Graças não só aos seus 113kW (equivalem a 154cv) e um binário de 315Nm, mas também ao seu pisar decidido, que transparece a sua disposição (tudo atrás).. A frente é assim mais leve e o centro de gravidade baixo, ajudando o condutor a ganhar confiança. Conta ainda a suspensão independente, que a juntar à correta taragem mola/amortecedor faz com que apesar de toda esta diversão o Honda e não tenha esquecido o conforto, mesmo em mau piso.

E onde é que há esse mau piso?
Em cidade, pois claro…

E é em cidade onde se nota uma das mais impressionantes características do e, a sua agilidade. Com um raio de viragem recordista que quase faz este Honda e “rodar” sobre ele próprio. Muitas vezes uma inversão de marcha pode ser feita sem qualquer manobra.

Ainda assim, importa referir que existem dois modos de condução, Normal e Sport, e que a aceleração dos 0 aos 100km/h é feita em 8,3s. A velocidade máxima em autoestrada é de 145km/h (limitada), mas é ao circular por lá sem cuidados que a média do WLTP passa a ser apenas uma miragem…

Por isso, resolvi fazer isto das duas formas. Uma utilizando o Honda tal como todos os outros elétricos que experimentei até hoje: em autoestrada e cidade, num misto que se torna mais simples de comparar. E outra como a Honda “quer”, ou seja, em cidade, onde o Honda e deverá ser maioritariamente utilizado.

Na primeira, o consumo ficou em 18,3 kWh/100km, um valor não muito longe do prometido e que nos dá uma autonomia de 193km. Algo limitado, caso se queira fazer vida numa margem e trabalhar na outra e o objetivo não for carregar todos os dias.

Já em cidade as coisas correram ligeiramente melhor, com uma média a ficar nos 16,8kWh/100km, garantindo assim uma autonomia de 211km. Ainda assim, não se consegue esquecer o que os concorrentes apresentam a mais, bem como o seu temido e principal rival (que fala italiano).

Aqui o pensamento é que este Honda e é uma proposta de carregamento diário e que, tal como os seus ecrãs querem fazer entender, este é mais um gadget. Portanto chegam a casa, colocam o vosso smartphonesmartwatch e… o Honda a carregar.



Carregamento, preço e final feliz?  

Para carregar, o Honda e utiliza aquela porta preta que se vê no topo do seu “capot”, construída em vidro. É dali que o condutor pode optar por um carregamento até 100kW, mas que em 50kW demora apenas 31 minutos a garantir 80% da “pilha”. Numa Wallbox ou em carregamento público, em corrente alternada, esse valor aumenta para cima das cinco horas, enquanto em casa, numa ficha normal, é preciso mais de 18h para que se chegue dos 0 aos 100% de carga.

Mas também nunca se chega a esvaziar as baterias e quem possuí um elétrico certamente não o carrega em casa numa ficha normal de 2.3kW. Certo?

Quanto ao preço, é em conjunto com a bagageira e a autonomia, o terceiro “elefante na sala”.

Ainda que o equipamento seja muito completo, com mais ecrãs do que aqueles que pedimos e bancos e volante aquecidos, os 38.500€ pedidos por este Honda e Advance podem assustar os mais sensíveis, mesmo que a marca ofereça uma garantia de sete anos sem limite de quilómetros para a bateria.

No fim de tudo, é um final feliz?

Ora bem, a ideia que tenho é a mesma de quando vi pela primeira vez o Honda e. É um caso emocional, e esses casos podem “cair em graça” e serem um verdadeiro sucesso, ou resultarem num coração destroçado.

Na verdade, quem não quer ter escolhas emocionais na sua vida?

Tiro o chapéu à Honda por ter feito algo tão fora da caixa e também ter criado algo com um ar mais “retro” e menos complicado, como nos tem apresentado até agora. O seu interior futurista não deixa ninguém indiferente, local onde podemos desfrutar de um carregamento a jogar Playstation, ou onde também é possível atacar as ruas da cidade com total diversão, sem ruído.

Eram apenas mais uns 50km de autonomia e eu estaria rendido, desculpava-lhe o preço elevado e a bagageira limitada. Mas no final de contas, custa-me vê-lo partir daqui da porta de casa…


Honda e Advance

Especificações:

Potência – 113kW (154cv)
Binário – 315Nm
Aceleração do  0-100 (oficial): 8,3s
Velocidade Máxima (oficial): 145km/h
Consumo Anunciado – 18,0kWh/100km
Consumo Medido (condução cuidada) – 16,7kWh/100km
Consumo Medido (condução normal em percurso misto) – 18,3kWh/100km

Preços:
Honda e desde: 36.000€
Versão ensaiada: 38.500€

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!