Home Carburadores Suzuka 2014, o G.P que demorou 9 meses…

Suzuka 2014, o G.P que demorou 9 meses…

Suzuka 2014, o G.P que demorou 9 meses…
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Jules Bianchi: 1989 – 2015

Desde que soube da notícia da morte de Jules Biachi, fiquei a pensar o que teria de ser dito. Mas não é só desde esse momento, mas sim desde o dia 5 de Outubro de 2014, quando vi o acidente e senti aquele arrepio quando vemos que não há volta a dar.

Não me considero pessimista, mas sim realista, e consegui ver que nenhum ser humano conseguiria ter condições minimas de vida após aquele impacto violentissimo. Não fui daqueles que ao longo do tempo foi partilhando hastags #Forzajules.

Não o fiz, porque não o achava possivel, mesmo que fosse o que mais desejava.

Esta é uma história que envolve vários factores, sejam eles desportivos, pessoais ou de negócio. Este último factor tem sido a realidade da Formula Um, que é, ainda, a categoria máxima do desporto automóvel. Mas faço aqui a questão: até quando?

Até quando um desporto que era adorado por muitos, vai continuar a ser um negócio que só move cifrões e vontades de pessoas que muito provávelmente nem ligam a este mundo das quatro rodas? Para já não falar que de desporto já lhe resta pouco…

Mas aqui o que me preocupa mais é a questão pessoal, a questão de pessoas que eram ligadas a Jules Biachi. Pensar no sofrimento da família do Francês é algo que me perturba imenso, porque realmente este falecimento durou nove longos meses! Ainda à cerca de duas semanas, o pai do piloto, Philip Biachi veio falar do sofrimento que sentia por ver o seu filho assim, todos os dias, e por ter medo dele acordar e ver que não seria mais o mesmo…

Preocupa-me a falta de respeito. Foi aberto um inquérito acerca do acidente em Suzuka, em que logo antes deste mesmo ter começado, Bernie Ecclestone veio logo directamente à imprensa afirmar que não teria qualquer responsabilidade acerca do sucedido.

Ou seja, o patrão não se responsabiliza por um erro? Mas no entanto todos os louros são dele, não é?

A morte voltou 21 anos, 2 meses e 17 dias após o acidente de Ayrton Senna em Imola, durante o grande prémio de San Marino.

E agora vou tocar num ponto que pode incomodar, mas vamos ser realistas e deixar o humanismo para trás das costas, tal como Berlie Ecclestone já o fez várias vezes.

Imagine que naquele fim-de-semana de Imola, apenas Roland Ratzemberger teria morrido, Ayrton Senna não teria sofrido nenhum acidente. Acha que os efeitos seriam os mesmo do que com o falecimento do Brasileiro tri-campeão mundial?

Sou um fã incondicional de Ayrton Senna, e claro que preferia esse desfecho, mas o papel de Senna na Fórmula Um passou um pouco por isso, por uma espécie de mártir. Estupidamente, foi preciso uma grande imagem desaparecer para serem feitas inúmeras alterações, não só na F1, mas em todas as categorias. Não deveria ter sido necessário…

Mas sinto que com o acidente de Bianchi, não se passou o mesmo. O Francês era um piloto brilhante, e quem o conhecia dizia que era uma pessoa formidável, sendo recatado e muito diferente dos pilotos actuais. Bianchi conseguia lutar sempre com o seu carro, mesmo que fosse um dos monolugares mais fracos de todo o pelotão.

Mas Bianchi, numa equipa de fundo do pelotão, cheia de problemas financeiros, não era muito filmado durante as provas, a maioria dos espectadores poderia nem se lembrar dele enquanto via as corridas, mas sim de Vettel, Alonso, Hamilton e companhia, por isso, e como a Morte não foi em pista, não foi tão impactante para a maioria das pessoas.

Não digo que seria melhor outra pessoa. Seria melhor nem ter acontecido nada!
Pouco, ou nada foi feito após este acidente. Um acidente que foi culpa pura e simplesmente da organização que permitiu que entrasse uma grua numa das curvas mais desafiantes do circuito de Suzuka (curva Dunlop), conhecida por pouca aderência num dia de chuva intensa, como o que estava naquele dia.

Não se sabe, nem nunca se virá a saber o que Jules Biachi poderia ter atingido. O Francês era um piloto promissor que não dava muito nas vistas, mas que creio que de futuro, ao ser integrado numa equipa com mais capacidades, poderia brilhar como brilhou naquele fantástico 9º lugar atigido no Monaco, nesse mesmo trágico ano de 2014.

Agora, espero, sem muitas esperanças, que algo mude. O desporto automóvel será sempre perigoso, terá sempre imprevistos, mas há situações que devem ser aprendidas e nunca mais repetidas, em que as responsabilidades devem ser também assumidas.

Todo o nosso apoio vai agora para a família e amigos de Jules Biachi, durante este momento dificil, e esperamos que momentos como este não se voltem a repetir…

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!