Home Carburadores Emissões vencem (uma vez mais) as emoções

Emissões vencem (uma vez mais) as emoções

Emissões vencem (uma vez mais) as emoções
0
0

“Capacidade de decisão”

 

Hoje foi apresentado o novo Nissan Z, o mais recente membro da histórica família Z da marca nipónica, um modelo histórico que atravessou gerações, perdurando na mente de avós, pais e filhos. Mas e os netos?

Pois é, corremos o risco desta geração já não vir a saber o que era a família Z, ou o que é este “400Z”. Pelo menos, se essa geração residir na Europa. E tal como a “família Z”, a Geração (também) Z não vai saber isso sobre muitos outros automóveis. A culpa? A culpa é do sistema.

Sim, pareceu algo “velho do restelo”, eu sei. Mas é a verdade. Existe uma “demonização” dos desportivos, dos automóveis “poluentes”, de tudo o que não seja minimamente “verde” ou tenha uma bateria. Tudo bem, sou apologista de criar um mundo melhor, mas estamos a chegar a extremos, onde a lógica se distancia da realidade.

Imaginem uma sala, com uma mesa grande onde se sentam vários ministros e supostos conselheiros. Nessa mesa, sentados nessas cadeiras, tomam decisões que impactam o setor automóvel europeu, aquele que dá fomento a muitas famílias, um dos mais importantes setores financeiros e que tem muitas das mais importantes marcas sediadas neste que é o nosso velho continente.

É também nessa mesa que se pensa de forma utópica, ou até de forma irrealista e sem mínima noção da realidade e da capacidade dos construtores, ao obrigar a uma redução de emissões tão grande, onde a coisa tem de ser “atalhada” para ser efetivamente atingida.

95 é o número alvo, 95g CO2/km. Número médio que uma gama tem de atingir, de forma a não ser multada. A multa é elevada, são 95 euros por cada grama a mais acima dessa meta.

Então a solução foram obviamente os elétricos, algo que tem lógica nas cidades, assim como para quem têm hipótese de os ter. Eu agora, resido numa moradia, consigo colocar o meu automóvel elétrico à carga, mas até há bem pouco tempo morava num apartamento, num prédio onde mais 7 famílias residiam; como é que carregaria? Pois, nos postos de carregamento que, felizmente, estão a ficar melhores, mas longe da eficiência necessária, face à massificação de vendas de automóveis elétricos que a UE quer, à força, que os seus cidadãos adquiram.

Depois existem os Plug-In Hybrid, solução que tem tudo para dar certo, mas que infelizmente não dá. Aqui as marcas fizeram o tal atalho, conjugando um motor elétrico (ou dois) com um motor a combustão. Assim, pelo WLTP, conseguem níveis de emissões baixos, já que contabilizam os primeiros 100km onde a bateria está cheia, conseguindo valores em torno dos 49g CO2/km. Maravilha, dizem vocês.

É verdade, efetivamente é. Mas e quantos dos seus condutores os usam bem? Poucos, muito poucos. Muitos deles apenas viram os 100% de bateria uma vez, quando o foram buscar à marca. Isto porque muitos desses clientes são frotistas, e é obvio que tendo um plafond é sempre melhor ter o modelo com 300cv PHEV do que ter mais um diesel com 150cv. Embora a tal “pegada”, no papel, seja mais baixa no PHEV.

Na prática não é, isto porque não carregando um PHEV, usando-o apenas como um térmico, é como fazer sprints (300cv) com uma mochila pesada as costas (baterias e motores auxiliares). Consumos? Exorbitantes! Emissões? Mais do que se fossem apenas um automóvel banal…

Depois há a questão que a nós tanto importa, a da paixão. As marcas automóveis têm de evoluir com o passar dos anos, isso é certo e sabido. Mas os desportivos, os modelos de culto, fazem muito por uma marca.

A Nissan por exemplo, tem os seus clientes que adoram o Leaf é claro, e é com a venda desse modelo que ainda conseguem comercializar o GT-R, mas o Z já era demais e desequilibraria as contas. Depois temos grupos quase inteiros que não têm um desportivo, e temos marcas como a Peugeot que perderam a sigla GTi devido a este mesmo “papão”.

A Toyota, no espetro oposto, conta com o GR Yaris, que causou um verdadeiro Hype nos últimos tempos, e que conta com uma gama de desportivos onde não falta um “revival” do Supra ou mesmo um futuro GR86, mesmo que conte com um bloco 2.4L a gasolina.

Precisamos de preencher aquelas cadeiras com verdadeiros conselheiros, indivíduos que sabem do que falam, com dados concretos e não apenas encher de teoria e de falso moralismo. Porque na verdade, ainda que a pandemia tenha arrasado esse sector, os cruzeiros turísticos estavam em crescente e esses sim, poluem e não é pouco. Que fizemos nós? Nada. Construímos portos de desembarque para as nossas “cidades verdes”, pouco adaptadas a um futuro que quer ser imediato.

Correr antes de andar não dá, meus senhores.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!