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FIAT 500e: “A democratização do elétrico”

FIAT 500e: “A democratização do elétrico”
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“Choque emocional”

Aconteceu. Já partilhei com vocês que certos automóveis me deixam ansioso de expectativa de os testar, mas até hoje isso nunca tinha acontecido devido a um elétrico. Sim, até hoje. Isto porque o FIAT 500e fez-me sentir assim na noite anterior a ir recolhê-lo.

Será que tive razões para isso?

A renovação de um modelo com tanto sucesso quanto o FIAT 500 não é uma tarefa nada fácil, ainda para mais quando o modelo que vai substituir continuará em produção, e com um sucesso que parece não querer abrandar.

Confusos? Não estejam, que até é bastante fácil de entender.

Pois bem, a FIAT optou por continuar a comercializar a geração do 500 que todos conhecemos, integrando esta “Nuova” geração como uma opção 100% elétrica. O que é lógico, já que as vendas parecem não ter sinais de abrandamento, servindo de “desmame”, visto que os elétricos ainda não são, para muitos de nós, uma alternativa válida. Não vale a pena começarem a encher o porquinho mealheiro para comprarem um destes se quiserem continuar a usar uma mangueira que enche um depósito, já que não haverá outra hipótese de ter um destes, a não ser que seja alimentado a kilowatts.

Antes que digam que é o mesmo automóvel, enganem-se. Obviamente, a marca não ia revolucionar um modelo lançado originalmente em 1957 e que recriou tão bem em 2007. Portanto, este novo 500e tem 96% de peças novas e apresenta agora umas dimensões mais generosas graças a uma plataforma nova. Sendo assim, podem largar as fitas métricas, os moldes ou as opiniões pré-concebidas, este é mesmo um 500 novo.

Mas os detalhes foram catapultados para um outro nível. Na dianteira, o 500 aparece no lugar onde se deveria situar o logo da marca, uma verdadeira prova de orgulho na insígnia. Ainda na frente, os novos grupos óticos “Inifinity” LED direcionam este Nuovo 500 para o futuro, exemplo dado também pelos puxadores elétricos das portas, que garantem igualmente linhas mais simplistas e limpas no exterior.



No entanto, é obvio que a FIAT não se ia esquecer de continuar a dar toques vintage ao modelo, sendo isso conseguido tanto pelo seu formato, que faz de imediato lembrar um “piccolo” 500, mas também por elementos como os piscas inspirados no modelo original (que estão acima das cavas das rodas dianteiras), assim como um friso cromado que percorre toda a lateral deste citadino elétrico. Por ser o La Prima, contamos com a placa comemorativa deste modelo limitado a 500 unidades por país, jantes de 18 polegadas, e a possibilidade de escolher entre uma de três cores, inspiradas nos três elementos: Ar, Terra e Mar. Este Mineral Grey é o que tem inspiração terrena, e é também a proposta mais sóbria dos três.

O espaço continua a ser para quatro passageiros, enquanto a bagageira não teve alterações na sua volumetria (180L), apresentando ainda assim um espaço abaixo do piso para guardar cabos de carregamento, o que é uma boa solução de organização quando o espaço é mais diminuto.

Sentado ao volante, encontro uma posição de condução mais correta que anteriormente. Continua a ser elevada, mas agora as pernas vão mais esticadas, enquanto os braços podem também ir mais descontraídos, já que o volante é agora regulável também em alcance.

O interior conta agora com mais qualidade dos materiais, apresentando também um ambiente mais moderno e com um melhor cuidado na ergonomia. O sistema de climatização conta com comandos próprios (físicos) que são apresentados no ecrã central UConnect de nova geração. Abaixo, espaço para guardar (e carregar) o smartphone, enquanto o local onde se situava o comando dos vidros passa a ser o local onde selecionamos a marcha, através de botões em vez de um seletor.

Cá dentro também existem pequenos pontos que importam falar, como é o caso da abertura das portas através de um botão (existindo uma alavanca manual mais abaixo, se necessário), assim como “easter eggs” como o 500 original no interior das pegas das portas com a inscrição “Made In Torino”, assim como a panorâmica da cidade no local de carregamento por indução.



Mas é altura de falar sobre como se comporta este FIAT 500e.

Na unidade em teste, a La Prima, o 500e equipa com o motor mais potente (118cv), com uma bateria com 42kWh de capacidade, o que é capaz de oferecer 320km de autonomia combinada, ascendendo a valores ainda mais elevados se for praticada uma condução citadina. A suavidade é claramente o primeiro ponto de destaque, normal num elétrico, mas o novo FIAT 500e mostra que melhorou muito a sua rigidez (com menos vibrações principalmente com capota aberta) e um melhor pisar, o que ajuda a uma dinâmica e agilidade mais aprimorada, graças a uma distribuição de pesos quase perfeita, com um rácio de 48% de peso à frente e 52% na traseira.

Este motor elétrico não é o mais potente do seu segmento, mas oferece, ainda assim, uma boa entrega quando premimos o pedal da direita com mais vontade, graças a um binário de 220Nm, que garante uma aceleração dos 0 aos 100km/h em 9 segundos. Para evitar que se use todo o sistema elétrico sem ser com preocupação na eficiência, o 500e conta com mais dois modos para além do “Normal”.

O “Range” é aquele que propõe um equilíbrio, com a possibilidade de conduzir com apenas um pedal; largando o FIAT 500e trava. Para quem procura ainda mais autonomia, o modo “Sherpa” limita a velocidade a 80km/h e desliga tudo o que não é necessário, como o Ar Condicionado.

Neste teste usei 99% do tempo o modo Normal, com um consumo que ficou abaixo dos 14,0kWh/100km, que poderia ter sido bem melhor caso este 500e não tivesse feito longas tiradas em autoestrada. Em cidade, é fácil fazer com que os valores desçam para a ordem dos 11kWh/100km, o que oferece uma generosa autonomia real.



Importa ainda falar nos sistemas de tecnologia a bordo, como é o caso do sistema UConnect 5, que é uma verdadeira evolução face ao anterior, assim como sistemas de ajuda à condução, com cruise-control adaptativo, manutenção de via, reconhecimento de sinais de trânsito que para graças à travagem ativa, e lhe garante o nível 2 de autonomia.

Obviamente, o FIAT 500e Cabrio “La Prima” não é o mais acessível. Para isso, a gama começa abaixo dos 24 mil euros com a linha Action. A Passion oferece já este motor de 118cv, com preços a ficarem abaixo dos 30 mil euros. Já esta unidade ascendia aos 36.900 euros, o que está em linha com os seus concorrentes diretos (Mini Cooper Eletric e Honda e) em termos de equipamento, com este 500e a oferecer mais autonomia.

Em suma, o FIAT 500e é um verdadeiro sucessor do seu conceito original. Agora, numa nova realidade, a missão é semelhante, ao querer “democratizar” o automóvel elétrico, oferecendo uma gama completa para ir ao encontro da necessidade dos clientes. A versão Cabrio é a mais emocional de todas, e é também o primeiro elétrico descapotável de quatro lugares à venda. Isso também vale de alguma coisa.

Prova que dentro de pequenos embrulhos, podem vir grandes surpresas.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!