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Ensaio à Honda CRF1100L Africa Twin

Ensaio à Honda CRF1100L Africa Twin
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“A Aventura não tem hora nem lugar”

 

Desde que tenho memória, adoro os primeiros dias do ano, não por ser um novo começo, já que na realidade apenas temos um novo calendário e não ligo muito a isso, mas sim por ser altura de assistir ao Rally Dakar. Sempre acompanhei esta que é a mais dura prova de Rally-Raid do mundo, e hoje tenho o prazer de ter aqui comigo uma das heranças que esta competição trouxe para a estrada. Um verdadeiro caso de um modelo nascido na competição: a Honda Africa Twin.

Foi em 1988 que a Honda decidiu lançar para o mercado uma moto desenvolvida para celebrar os seus sucessos, nesta prova que, na altura, partia de Paris e terminava junto ao Lago Rosa, em Dakar, na capital do Senegal. Assim, pelas mãos de Cyril Neveu e Edi Orioli, a Honda vencia, com a NXR750V e NXR800V o duro Rally nas edições de 1986, 1987 e 1988, com a sua primeira vitória a ter acontecido anteriormente, em 1982, também com Neveu.

Este mito, chamado de Africa Twin, existe há tanto tempo que nem eu próprio era nascido. Quando eu cá cheguei, já este mundo assistia a um domínio de Stephane Peterhansel. Dessa feita, tive de esperar até à edição de 2020 para ver de novo a marca de Hamamatsu no lugar mais alto do pódio com a sua CRF 450, pelas mãos de Ricky Brabec.

Após várias edições desta moto, chegou agora a minha vez de (finalmente) testar a Honda CRF1100 Africa Twin, que tal como já tinha dito na altura ao ensaio à X-ADV, era algo que já queria fazer e que serviu de preparação para testar este nome respeitável no que toca a motos Adventure.

 

Então, que comece a Adventure!

Nesta edição, lançada em 2020, a Honda tornou a Africa Twin mais “compacta” e mais leve, comparativamente ao modelo anterior com um motor de 998cc. Assim é fácil entender que as performances aumentaram, tendo em conta que pela primeira vez a Africa Twin é uma “1100”, o que lhe garante prestações de respeito.

No capítulo estético, a Honda dotou a Africa Twin de três diferentes pinturas: o Branco Pérola Tricolore, que nos faz relembrar das cores originais das Africa Twin e da HRC; o Vermelho Grand Prix, aqui presente e que nos remete igualmente para o mundo da competição; assim como o Preto Ballistic Mate, que torna a Africa Twin numa proposta mais sóbria.



Mas falar de sobriedade é complicado numa proposta com uma imagem tão impactante como a que esta Honda Africa Twin apresenta. Assim, a Africa Twin tem dois “sabores”: a Adventure Sports, mais pensada para uma utilização a “piscar o olho” às viagens mais longas, e esta versão Africa Twin, mais pensada para enfrentar o fora de estrada. As diferenças são basicamente encontradas no seu equipamento, assim como um desenho mais compacto, graças a um depósito mais pequeno desta versão, comparativamente à Adventure Sports, e uma proteção aerodinâmica mais compacta.

Em termos de equipamento, o que salta logo à vista mal nos aproximamos desta proposta, é, sem dúvida, o painel de instrumentos digital, que traz consigo uma melhor visibilidade quando estamos na estrada, assim como uma possibilidade mais intuitiva de alterar (e personalizar) os diferentes modos de condução. Para além disso, este sistema torna a Honda Africa Twin numa proposta bem mais conectada, com a possibilidade de espelhar o telefone no ecrã através do sistema Apple CarPlay, com o telefone a ser ligado numa ficha USB colocada junto ao ecrã. No punho esquerdo, contamos com um elevado número de botões, algo que requer habituação para navegar nos menus por exemplo, mas para alguém como eu, vindo do mundo das “quatro rodas”, isso acontece rapidamente. O painel também pode ser controlado através do próprio ecrã, até com luvas… mas apenas com a moto parada, como é óbvio.



Com 1,74m de altura, sinto-me confortável no novo assento da Africa Twin, mais estreito, como disse acima. Conta com duas posições, e escolhendo a mais baixa é fácil chegar com os pés ao chão, aumentando a confiança. A posição relativamente ao guiador é confortável, pronta para vários quilómetros de aventuras.

Ligando a CRF1100L, “sou recebido” com um som forte, vindo de um motor que se mostra, desde os baixos regimes, com um bom “pulmão”, que permite circular mesmo às 2000rpm (o que para uma moto é muito pouco), mostrando muita vitalidade. Quando o regime aumenta para lá das 7 mil rotações, o som de escape torna-se mais forte chegando a altura de mudar para a relação acima. Nesta unidade em ensaio, contei com a versão de transmissão manual, que contava mesmo com um quickshifter, que funcionava melhor em velocidades mais elevadas e que se revelou mais “certo” nas subidas do que nas reduções. Porém, tudo muito fácil de conviver, com a Africa Twin a comportar-se como uma verdadeira Honda, ou seja, parece que a conduzia “há anos”.

Mesmo com um peso de respeito (226kg), a Africa Twin é suficientemente ágil para curvas encadeadas, ainda que esta unidade viesse com pneus de tacos, que me fizeram ter de testar o modo off-road da moto japonesa, numa estreia para mim.

Mesmo com pouca experiência (prometo que irei melhorar), a Africa Twin mostrou que poderia passar o dia inteiro a fazer estradões de terra, com um modo de controlo de tração e ABS específicos para quando o alcatrão acaba. A confiança aumenta e o ritmo também, até um nível em que claramente a moto poderá fazer bem mais do que eu próprio imagino. Aqui, demostra uma vez mais o que esta Africa Twin pode ser: Tanto podemos usá-la no limite e descobrir os nossos próprios limites, sem que existam queixas mecânicas, como podemos utilizar esta moto de forma tranquila, sem nunca sentirmos que a estamos a subaproveitar.



Em termos de andamento, os seus 75kW (101cv) foram mais do que suficientes, durante os mais de 400km que fiz nesta japonesa criada nos desertos, com um consumo que ficou cravado nos 4,8L/100km. O preço de 14.550€ desta proposta está ajustado face à concorrência, que ora tem cilindrada inferior ou superior a esta “mil e cem”. A Honda Africa Twin surge como uma proposta lógica, com um equilíbrio entre esse sentimento e o emocional, que a proposta Adventure da marca nipónica também consegue (e bem) oferecer.

Quando o sol voltar a brilhar e o frio deixar de se sentir, marcaremos de novo encontro com a Africa Twin Adventure Sports, com transmissão DCT, mas desta vez para o relato de uma viagem mais longa, feita por alguém que ainda está muito habituado a duas rodas a mais…

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!