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Caterham 275S

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“Ficamos cá fora, ou vamos lá para dentro?” 

Iniciamos este ensaio especial com a questão do título. Sim, essa é uma questão pertinente para quem tem a risonha possibilidade de possuir um dos automóveis novos mais fantásticos, puros e cheios de carácter que o dinheiro pode comprar:

“Ficamos cá fora, ou vamos lá para dentro, para a pista?”

O Caterham, seja qual for o modelo que o seu proprietário escolher, desde o 165 (80cv) ao radicalíssimo 620R (310cv), é um exemplo para quem ama o automóvel. Este pequeno, baixo e astuto automóvel de dois lugares, é a prova “viva” da luta entre a mecânica e a tecnologia, e, acima de tudo, a batalha do excesso de peso, contra a potência. Mas antes de vos contar como é a inesquecível sensação de guiar um Caterham, permitam-me contar-vos a “humilde” história deste modelo que, na verdade, nasceu como Lotus, em 1957.

Em 1952, Antony Colin Bruce Chapman criou a Lotus, este até agora ex-piloto da Royal Air Force passaria a ser conhecido apenas por Colin Chapman, alterando tudo o que poderíamos entender como Fórmula 1. Este Britânico chegou mesmo a participar numa corrida do campeonato a bordo de um monolugar Vanwall, desenhado por si, em 1956, no grande prémio de França, que tinha lugar no circuito Reims.

A corrida não correu de feição, com o britânico a abandonar devido a um acidente (com o colega de equipa), mas a partir daí, nada mais foi igual. Com a criação da sua “escuderia” e de modelos icónicos para a Fórmula 1, como o Lotus 72, Chapman conseguiu levar o desporto a novos patamares, ainda para mais quando conseguiu a possibilidade de fazer um grande negócio com patrocínios, primeiro com a Gold Leaf (branco e vermelho), conseguindo depois uma das mais memoráveis combinações de cores de todos os tempos: o preto e dourado, da icónica associação feita com a John Player Special. Ao todo, a sua equipa venceu 7 campeonatos mundiais de construtores na F1.

Voltando atrás, em 1957, Chapman apresentava aquilo que é hoje o “avô” deste belíssimo Caterham 275S, que podem ver nas imagens, e que estava pintado com as cores que representavam a nação na altura. O Lotus 7 era o exemplo de que a leveza poderia bater a potência, ou como Colin diria: “ Simplify, then add Lightness”…

Foi assim, que tudo começou. Em 1972, a Lotus deixou de produzir o “Seven” e vendeu os direitos à Caterham Cars, que o produz até aos dias de hoje, continuando com a premissa de baixo peso e motores competentes, criando valores de relação peso-potência impressionantes.

Portanto, vamos lá!

Chegados ao pé do Caterham conseguimos ver desde logo o porquê do seu baixo peso, a sua leve concepção com alguns componentes em alumínio, bem como as pequenas dimensões deste chassis SV: 3,300m de comprimento, 1,446m de largura e apenas 1,015m de altura são o testemunho dos apenas 540Kg de peso total marcados pela balança. A sua frente é baixa, a fazer lembrar um F1 dos anos 60, a sua cor que conjuga os Catherham Green e Yellow é uma homenagem ao passado e um dos melhores esquemas que podem ser aqui usados.

A versão em ensaio foi a S, a que apresenta alguns “luxos” como o pára-brisas, tecto e “portas” em lona, aquecimento do vidro dianteiro, bancos em pele pretos, piso com carpete, instrumentação, chave e manete específicas, tampa de combustível Aero, chassis SV, volante em pele Momo, uma tomada de ligação de 12v… e é tudo! Aqui o que importa é a condução, a experiência, e isso, começa logo na entrada para dentro deste mito sobre rodas.

“Dois pés lá para dentro, uma mão no túnel central, outra na beira da porta e escorregamos pelo acento até ficarmos perfeitamente encaixados”. 

É assim que chega ao baixo posto de condução. Vamos mesmo bastante baixos, para se ter uma ideia, a cabeça passa a estar ao nível de um puxador de porta de um automóvel normal. Cá dentro (se tivermos as portas montadas), deparamo-nos com um interior espartano, como assim deve ser, com um pequeno volante Momo, uma alavanca de caixa de velocidades mais elevada que o expectável devido ao túnel de transmissão que passa acima dos nossos cotovelos, o que obriga a alguma adaptação. A posição dos pedais é irrepreensível, ajudando nas reações rápidas e na execução do “ponta-tacão”. Se tem menos de 1,65m, tem problemas, pois não vai chegar aos pedais…

A bonita chave feita num bloco de alumínio maquinado, que apetece ficar a contemplar, entra na fechadura. Depois do zumbido da bomba de combustível e de todos os sinais luminosos se acenderem no painel, carregamos no “botão da felicidade”, ou seja, o botão vermelho, o starter, que acorda o motor 1.6 SIGMA, de origem Ford e que debita cerca de 140cv de potência.

O interior estremece, o som invade-nos e sentimos logo o espírito de competição a sair pelo escape lateral do lado direito, com um borbulhar interessante. A caixa de velocidades conta com um curso extra-curto e é bastante decidida, ficando, com o passar dos quilómetros mais suave, sim, porque aqui, no Caterham, importa aquecer a mecânica, como se estivéssemos numa pista. Aqui debaixo, é também interessante ver as rodas e o funcionamento da suspensão Bilstein, que surpreendentemente não é tão desconfortável como poderíamos esperar, a direcção não assistida é óptima, a escolha certa, já que não eleva o peso do conjunto e não danifica a sensação pura da condução, sendo fácil de apontar para onde queremos.

Outro ponto, que requer habituação, é a inexistência de um servo-freio, ou seja, o pedal é muito mais pesado do que estamos habituados, não tendo igualmente alguma assistência. Sim, esqueçam os ABS, ESP e controlos de tracção, este Caterham não tem estas “modernices”, aqui é pureza máxima!

O 275S mostra-se sempre bastante disponível, ou não fosse a sua relação peso-potência, cerca de 3kg por CV, digno de um super-carro. Isto faz com que o Caterham 275S acelere dos 0 aos 100km/h em apenas 5,0s, com umas recuperações de fazer colar as costas ao banco!

Em condução, é simplesmente telepático. Conseguimos sentir tudo, cada movimento das quatro rodas. Vamos praticamente sentados sobre o eixo traseiro, com o longo capot à nossa frente, as trajetórias são limpas, com uma frente bem leve, mas que podemos confiar, graças à própria aderência, mesmo que estes não sejam os melhores pneus, mas também graças à direcção. A potência do motor, em conjunto com o baixo peso provoca algumas vezes a traseira quando abusamos do acelerador e, quando o fazemos, a nota de escape aumenta, o som torna-se mais forte e cada vez mais cativante. Um verdadeiro regalo para os apreciadores do automóvel!

Mas no final, o Caterham, que tal como outros pode ser guiado de uma forma calma, sendo também fácil de apreciar, pede é que quando decidimos atacar um pedaço de estrada, seja muito mais atento, porque a linha entre o salvo e o perdido, é muito ténue. Qualquer que seja a escolha, estamos certos que sairá sempre do “interior” do Caterham com um sorriso de orelha a orelha!

Caterham 275S 

Especificações:

Potência – 137cv às 6800rpm
Binário – 165Nm às 4100rpm
Consumo Combinado Anunciado – 6,5L/100km
Aceleração 0-100km/h (oficial): 5,0s
Velocidade máxima (oficial): 196km/h

Preços:
Gama Caterham desde: 29.950€
Preço da versão ensaiada: 43.261€

Agradecimentos: Rodrigo Inocêncio/João Dimas (Fotos)

 

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!