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Teste Completo: Audi e-tron GT Quattro

Teste Completo: Audi e-tron GT Quattro
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“Admirável mundo novo”

 

Este é o caminho que vamos seguir no futuro, o que no caso deste Audi e-tron GT Quattro, pouco me deixa a temer dos tempos que se avizinham. Em teste a versão mais “soft”, mas não muito, do elegante coupé elétrico da marca alemã, que com 530cv nos mete o coração a palpitar mais rápido.

Sim, este é mais um daqueles automóveis que me deixaram ansioso nos momentos antes de o recolher, daqueles que tenho receio que exista algum contratempo nos dias anteriores ao seu levantamento. E isto, que poderia não ser nada demais, tem uma importante relevância devido a ter sido o primeiro automóvel elétrico com o qual tenho este tipo de sentimento.

Será o início de um admirável mundo novo para mim?

 

Exterior

Olhar para o Audi e-tron GT através de uma foto ou ao vivo são experiências completamente distintas. Se em foto este Audi impressiona, ao vivo essa sensação multiplica-se. Com dimensões generosas, o modelo apresenta proporções verdadeiramente desportivas, sendo muito largo e baixo (apenas 1,41m). É um verdadeiro coupé, com “portas extra”.

Ainda identificável como um Audi, é muito diferente dos modelos com os quais partilha a gama, um “Halo Car” para a marca, para ser um chamariz para a gama e-tron que não parará de crescer nos anos que se avizinham.

Esta imagem distinta e bastante emocional não é garantida apenas pelas suas proporções, mas também pelas superfícies bem vincadas, “ancas” bem delineadas e uns elementos luminosos que se destacam, principalmente na traseira. A dianteira longa não esconde um motor, mas dá a este modelo “pontos extra” na estética, onde a grelha Single-Frame surge fechada, já que não há necessidade de refrigeração como nos modelos de combustão.

A aerodinâmica tem um papel predominante na concepção deste modelo, com uma resistência de apenas 0,24Cx, que pode ser visto em pormenores como as passagens de ar desenvolvidas especificamente, nomeadamente a colocada atrás das rodas dianteiras. A secção traseira, com um desenho bastante descendente e, no meu ver, o ponto mais elegante para ser olhar para este Audi, aposta numa asa controlada eletronicamente que se ascende em duas posições, primeiro a 90km/h e depois quando ultrapassamos os 170km/h.

As jantes, de 20’’ nesta unidade, ganham pontos por um desenho sóbrio, que não precisa de “esforçar” para se evidenciar num automóvel como este.



Interior 

Ainda não foi referido, mas este Audi e-tron GT Quattro é “primo” do Porsche Taycan, o primeiro modelo 100% elétrico da marca de Estugarda, algo que importa referir, o que significa ter um “parentesco” com boas famílias.

Mas, ao contrário do Porsche, o Audi opta por um interior mais “sóbrio”, mas sem perder com isso uma elevadíssima dose de qualidade. Ou seja, tudo está disposto de forma mais “natural”, com mais comandos físicos e menos ecrãs táteis, algo que o ajuda na vertente de ergonomia e facilidade de utilização.

O ambiente interior opta então por mesclar o dinamismo com a elegância, graças às bacquets em pele que são confortáveis para longas viagens, bem como uma posição de condução verdadeiramente desportiva (e correta) com as pernas bem esticadas, evitando aquele “problema” dos automóveis elétricos, de conduzirmos muito “em cima”. Isso é possível graças à exclusiva plataforma J1, específica para automóveis elétricos de elevada prestação (e-tron GT e Taycan), que resolve precisamente esse problema, assim como reduz o centro de gravidade e oferece outras possibilidades ligadas à performance, como por exemplo o sistema de quatro rodas direcionais.

Mas voltemos ao interior. O uso de botões facilita muito a utilização do e-tron GT, ou seja, contamos com botões “convencionais” no volante, assim como para o sistema de climatização, algo que é muito positivo. O sistema multimedia que encontramos é igual ao presente em outros Audi e-tron, mas com esta unidade a contar com sistema de som Bang & Olufsen, excelente companhia nas viagens mais longas. A superfície vidrada (sem cortina, mas com proteção solar) não incomoda e torna a experiência de viajar ainda mais especial, principalmente para os passageiros traseiros.

Lá atrás – por pouco tempo – encontramos três lugares. Sim, o Audi e-tron GT Quattro tem cinco lugares, embora o “lugar do meio” seja algo estreito e não muito confortável para viagens médias/longas. No entanto, nos outros dois lugares, encontramos um relativo conforto, ainda que não seja uma proposta tão espaçosa como um A6 ou A8, algo que era expectável. Ou seja, espaço para a cabeça suficiente e um ângulo muito reto para as costas, mas que nunca deixa quem vai atrás queixar-se em demasia, razão que vamos entender durante o capítulo da dinâmica.

Quanto à bagageira, contamos com 405l de capacidade, assim como 81l extra no porta-bagagens dianteiro (ou “frunk”), ideal para guardar os cabos de carregamento ou algo a que não necessitemos de aceder com tanta regularidade.



Condução

Sendo um GT, a melhor maneira de o testar é fazer-nos à estrada, numa tirada de mais de 700km num dia. Pode parecer demasiado, mas é a “prova de fogo” ideal para entender as capacidades deste Audi 100% elétrico.

Por ser a versão GT (existe a RS mais “hardcore”), conta com 476cv (530cv em Boost) assim como um binário de 640Nm. Graças a esses números e somando um peso que ultrapassa os 2300kg, o valor de aceleração dos 0 aos 100km/h demora apenas 4,1s, até atingir uma velocidade máxima de 245km/h.

O percurso ligou duas Serras, a da Arrábida até à Estrela, que distam mais de 340km. Para testar este e-tron GT Quattro, preferimos a autoestrada de forma a entender, num cenário mais normal possível, qual o consumo deste modelo e assim entender a sua autonomia real.

A primeira sensação que temos após começar a viagem, é a de um conforto acima do que estariamos à espera, graças à suspensão pneumática que muda o seu “carácter” consoante o modo de condução elegido: Effiency (o mais usado durante a viagem), Comfort, Dynamic ou Individual (o que permite ajudar vários parâmetros à nossa maneira).

Tal como o nome indica, é no Comfort que este Audi e-tron GT Quattro mais se nota confortável, digerindo bem as irregularidades do piso, permanecendo sem demasiadas oscilações, com um bom ajuste global. Entenderam o porquê de os passageiros traseiros tolerarem o espaço traseiro mais apertado?

O tato da direção é leve, com uma direção que comunica, mas que se preocupa mais em oferecer conforto em longas viagens como esta, do que em atacar as curvas com maior ferocidade. Algo que no RS será, certamente, diferente.

Em autoestrada, o e-tron GT Quattro rola sem esforço, com um elevado nível de insonorização e uma “leveza” que não sentimos a bordo de um SUV, graças a irmos mais perto do chão, com outro tipo de reações. Demonstra-se um verdadeiro GT a cruzar território, mas…

Os consumos. A bateria conta com 85kWh de capacidade útil. Graças a uma tecnologia mais evoluída, é possível carregar a velocidades de até 270kW, algo que se traduz como 22 minutos para passar dos 0 aos 80% da carga. Mas como encontrar um posto desses, é mais difícil do que encontrar o último cromo que falta para terminar a caderneta, pudemos testar uma velocidade de carregamento de 194kWh (o máximo registado na viagem) que ajudou a que as paragens fossem o mais curtas possível.

Mas sim, os consumos. Até à Torre (com uma subida que é sempre algo animada, onde “desbloqueamos” o modo Dynamic), o valor assustou com uns 26,4kWh. Mas isso foi mesmo graças à subida, já que de volta “cá abaixo”, ao ponto de partida, o valor regressou aos 22,4kWh/100km, o valor final que se traduz numa autonomia (em autoestrada) de 380km, antes de ter de parar novamente para “atestar”.

As patilhas do volante servem para regular a intensidade da regeneração durante a desaceleração, disponível em três níveis, embora não tão notório como, por exemplo, no Audi Q4 e-tron. No entanto, contamos ainda com o modo automático, que “lê” o trânsito e o percurso, fazendo o Audi a sua própria gestão de regeneração.

No campo da técnica, importa referir que este Audi e-tron Quattro conta com uma transmissão de duas velocidades, o que torna a “escalada” de velocidade mais intensa, com a segunda velocidade a “sentir-se” entrar, voltando a despachar este Audi com uma rapidez frenética sem quebras… até valores proibidos.

E sim, voltemos ao modo Dynamic. Mesmo que este não seja o RS, com 530cv este Audi continua a ser um desportivo. A tracção Quattro garante elevados níveis de aderência, o que aumenta a confiança do condutor. À saída das curvas, o Audi e-tron GT “crava” todo o seu binário no asfalto, sem esforços, com a traseira a exibir um maior protagonismo, garantindo um maior controlo e agilidade.

O sistema de travagem aguenta, mas num pendente descendente não há milagres, mais ainda quando a balança acusa um peso elevado (culpa das baterias). No entanto, este e-tron GT apresenta um excelente tato do travão, mesmo quando é levado mais perto do limite, algo difícil nas estradas nacionais.

Em resumo, a condução deste e-tron GT Quattro pode ser descrita como suave, mais confortável e fácil do que se poderia esperar. Controlado em curva para oferecer performances (bem) acima da média, mas suave o suficiente para garantir conforto aos passageiros.



Conclusão

O Audi e-tron GT Quattro é um carro para os novos “electrohead”, enquanto a mim fez-me ter esperança no futuro. A sua estética é arrebatadora, difícil de igualar pelos seus concorrentes (só o Taycan pode jogar de igual para igual); o interior exibe uma excelente qualidade, sem se esquecer da vertente prática, tanto para usar os comandos como para o espaço a bordo. A condução é sublime, não sendo um verdadeiro desportivo, mas um GT com “salero”. A autonomia poderia ser superior, mas isso acrescentaria ainda mais uns quilos à balança. Com preços desde 110.543€, o Audi e-tron GT Quattro é um automóvel dispendioso, é certo, mas não parece exagerado para um automóvel tão distinto, confortável e agradável de conduzir, assim como avançado tecnologicamente. Tão agradável que liguei as duas serras e regressei… no mesmo dia.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!