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“Será uma solução?” – Teste ao Renault Kangoo Equilibre TCe 130

“Será uma solução?” – Teste ao Renault Kangoo Equilibre TCe 130
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“Assunto sério”

Lembro-me bem, ainda muito jovem, de ver a primeira geração do Renault Kangoo nas ruas, a primeira impressão que me dava é que era um Twingo mais “crescido”, graças a um aspeto diferenciado e de existirem várias unidades com cores mais vivas. Ainda assim, a “loucura” não o coibiu de ser uma verdadeira proposta de sucesso. Agora a Kangoo está na sua terceira geração e tanto ela quanto eu estamos mais sérios e com outras preocupações.

O Renault Kangoo parece ter feito um retiro espiritual – se os automóveis tivessem algo parecido – e surgiu agora mais sério, com uma nova filosofia “de vida”. A proposta francesa foi desenvolvida em colaboração com a Mercedes-Benz, o que pode ter algo a ver com toda essa seriedade. Aqui não falamos da comercial, mas sim da versão de passageiros, uma verdadeira (e séria) solução para transportar cinco passageiros adultos com espaço, assim como bastante espaço para as bagagens. O Kangoo é uma resposta à extinção dos monovolumes? Parece que sim…

Olhando para a terceira geração do Kangoo, conseguimos entender que estamos perante um modelo Renault que já precisava de substituto, visto que a anterior geração já estava no mercado desde 2007, algo que a primeira geração só teve 10 anos. Em conjunto, as duas gerações venderam 4 milhões de unidades!

Agora, a proposta está mais elegante, incluída de melhor forma na gama da marca gaulesa, com elementos mais cuidados, como as jantes de 17’’ polegadas, opção gratuita desta versão Equilibre. Os grupos óticos em LED (em todas as versões) conferem uma atratividade superior à proposta, o que igualmente com a cor Castanho Terracotta consegue fugir um pouco da sua herança comercial, conseguindo assim ser mais atraente.

As suas dimensões de 4,486mm são compactas, comparativamente com o espaço a bordo. Um Renault Austral, por exemplo, é mais longo 24mm, ainda que o Kangoo seja mais longo na distância entre eixos (49mm). Mas é na altura que esta Kangoo ganha muito do seu formato (e espaço a bordo); com 1,838mm é um automóvel alto. Utilizando novamente o recém-lançado Austral, o Kangoo é 220mm mais alto que o SUV médio da marca francesa. Mas essas dimensões irão trazer-lhe muitas vantagens no interior.



O acesso ao habitáculo é fácil, com uma boa altura ao solo. Entrar no Renault Kangoo “é dar um passo em frente”, com uma abertura de 90º das portas dianteiras. Já atrás, utiliza as duas portas deslizantes (manuais) que ajudam em lugares mais estreitos (ou em saídas mais rápidas). Iniciando sentado num dos dois bancos dianteiros, encontramos um habitáculo que deu um salto bastante evidente face à anterior geração, com um arranjo mais correto dos comandos e um aspeto perto de um automóvel “convencional”, ou seja, que não é baseado num comercial. Isso abre a porta para o cliente que procura uma proposta espaçosa, sem perder em outros campos.

No topo, contamos com o sistema multimédia, não tão avançado quanto as outras propostas da gama, mas completo, contando já com Apple CarPlay e Andoid Auto. Abaixo, os comandos individuais da climatização, junto com a alavanca da caixa de velocidades, colocada em posição mais elevada para uma superior ergonomia. Os espaços de arrumação são abundantes, seja no topo do para-brisas, seja na parte superior do tablier. O porta-luvas é do estilo gaveta, enquanto na consola central encontramos uma plataforma de carregamento por indução, dois porta copos e uma arrumação fechada sob o apoio de braços.

Antes de avançar para os bancos traseiros, importante referir que os materiais empregues não são tão cuidados, não existindo no habitáculo plásticos moles. Mas a sua apresentação é boa, fator aumentado graças a faixas decorativas que aumentam essa sensação, assim como uma montagem que não apresentou ruídos, mesmo em piso degradado.

Abrindo as portas deslizantes encontramos três verdadeiros assentos, ainda que estejam repartidos na proporção 60:40 e não contem com ajuste longitudinal. De qualquer maneira, o espaço é irrepreensível, principalmente em altura. As mesas tipo avião nas costas do assento do condutor e passageiro ajudam a passar o tempo durante as viagens, enquanto a saída de ventilação própria faz com que todos estejam a uma temperatura mais agradável. Destaque para o revestimento debaixo dos tapetes ser plástico e não alcatifa, o que facilitará a limpeza, assim como a abertura convencional das janelas traseiras.

A bagageira conta com um enorme portão; aqui podia contar com a abertura só do vidro para acesso mais simples em lugares apertados. Depois de aberto, são 775l de capacidade, um valor verdadeiramente líder face aos adversários SUV, com os quais este Renault Kangoo de passageiros concorre. Destaque ainda para as barras de tejadilho, que podem passar de longitudinais para transversais, em pouco mais de 2 minutos.



Passando para a condução, contamos com cinco diferentes propulsores para animar a Kangoo, nesta versão Equilibre: três diesel dCi (75, 95 ou 115cv) e dois gasolina TCe (100 ou 130cv), contando ainda com a hipótese de escolher entre a transmissão manual de seis velocidades ou manual de seis. Para este ensaio, contámos com o TCe de 130cv ligado à transmissão manual.

Em termos de performances, não é preciso mais para uma proposta como esta, com os 130cv a servirem bem para puxar o Kangoo “cheio” de passageiros e carga, mesmo que este seja um bloco “pequeno”, com 1333cm³. A transmissão de seis velocidades explora bem o motor, ainda que a EDC seja mais “confortável” para a condução em cidade, mas com um custo de quase 3 mil euros, faz voltar a pensar.

A suavidade é notória, com este Kangoo a não se sentir como um “comercial”, com um bom nível de insonorização seja do motor, seja pela filtragem do ruído de rolamento. O seu pisar também está num bom nível, podendo até confundir um passageiro que não tenha notado – por alguma razão – que não está a bordo de um SUV, mas sim de um Renault Kangoo. Essa afinação da suspensão, melhora tanto a condução, dando mais confiança ao condutor, como também oferece um bom nível de conforto aos ocupantes.

Em termos de consumos, o dCi sairia vitorioso, mas ainda assim, este Renault Kangoo TCe de 130cv acabou o ensaio com uma média de 7,3l/100km, num ciclo combinado e com percursos em autoestrada no limite previsto na lei. Não se pode considerar que seja mau, mais ainda quando em termos de aquisição, o dCi de 115cv (-15cv que o TCe) custa mais 4200€ sensivelmente.

A diferença pagará muitos quilómetros.

Mas quanto a preços, esta versão Equilibre TCe de 130cv pede, sem opcionais, 30421€, um preço competitivo tendo em conta o que este Kangoo oferece. Com os opcionais desta unidade, o valor ascendia para os 35.167€, longe ainda de “ofender” o cliente particular.

É verdade que os SUV “piscam” o olho, mas para quem pretende verdadeiramente espaço a bordo e capacidade de transportar (quase) tudo sem pensar em deixar um membro da família em casa, propostas como este Renault Kangoo são muito difíceis de combater. A sua dinâmica de condução nada tem a ver com os comerciais de outrora, o equipamento é vasto e até o seu aspeto que, mesmo que não consiga esconder totalmente a sua origem, não ofende.

É verdade, respondendo à questão que coloquei acima: Sim, este Kangoo é a resposta à extinção dos monovolumes.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!