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“Personalizar e esperar, ou aceitar o padrão?”

“Personalizar e esperar, ou aceitar o padrão?”
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“Não é tarefa fácil”

 

Escolher um automóvel nunca foi uma tarefa muito fácil, e agora é ainda mais complicado. Não apenas porque atualmente temos tipos de propulsão como nunca tivemos; a escolha há muito que deixou ser “gasolina ou gasóleo”. Agora existem os elétricos, os híbridos, o mild-hybrid e os Plug-In, passando mesmo pelos GPL (que já existiam) ou propostas de gás natural, embora que de forma muito envergonhada. Até temos um modelo a hidrogénio…

Bem, mas o que venho falar não é bem sobre isso, é mais uma mutação da indústria derivada de uma “pequena” crise de chips que assolou o “mundo dos automóveis” durante a pandemia. Se alguns acham que o problema termina este ano, com 2023 a voltar a uma normalidade, outros são mais pessimistas – ou talvez realistas – de que a tormenta só passará em 2024. Até lá, os clientes têm de aguardar tempos de espera mais do que legítimos para poder estacionar o seu automóvel na garagem.

As marcas automóveis têm feito um grande esforço para conseguir, no entanto, minorar o problema. Um dos exemplos pode ser apresentado através da Renault, que oferece uma espécie de “Envio Expresso” do seu modelo Arkana. No entanto, isso tem algumas limitações…

Se de há uns anos para cá a personalização era mais um dos atributos para escolher um modelo, para conseguir contornar este problema dos prazos de entrega agora a escolha vê-se mais limitada, de forma a fazer “fluir” as linhas de montagem. No caso do Arkana é “simples”, basta que escolha a versão R.S. Line, com a tecnologia E-Tech Hybrid de 145cv. A paleta de cores vê-se diminuída para três: Branco, Cinzento ou Preto. Aceitando essas condições, a Renault garante o novo automóvel em 30 dias. Caso queira um Laranja, Azul ou Vermelho, terá de aguentar um muito maior tempo de espera.

E isso é aceite pelos clientes?

Sim, é, com a marca a ter 50% das suas vendas em junho nestes moldes, no seu mercado doméstico, o que prova que os clientes aceitam esta diminuição da escolha graças a um prazo de entrega (bem) mais aceitável. Ainda no Grupo Renault, a Dacia estreou o Up & Go no Duster, alargando agora esse plano para outros modelos, diminuindo a escolha de motores e opcionais.

Mas obviamente isto é seguido por outras marcas, como por exemplo a Tesla. Nesse caso, no Model Y, a marca permite uma entrega mais rápida do modelo produzido em Berlim para os clientes europeus (apenas três meses). A condição? Tem de ser Branco… ou Preto.



Caso o cliente pretenda outro tom, a Tesla aceita no seu “livro de encomendas”, contudo o modelo será produzido em Xangai e não na nova Giga-Factory de Berlim, não chegando ao cliente antes de Março de 2023.

Até a Peugeot, que se prepara para lançar o novo 408, irá disponibilizar, não se sabe se apenas numa altura de lançamento, apenas as versões mais equipadas. O que simplificará a produção e a escolha do cliente.

Um facto curioso, graças a um estudo da J.D. Power realizado em 2020, é que 98% das combinações possíveis num modelo garantem 25% das vendas totais, enquanto os outros 2% são responsáveis por três quartos das vendas de um modelo.

O que importa agora saber é se a cultura da personalização – como conhecíamos – voltará depois desta crise, ou se regressará de uma forma mais comedida, visto que os clientes são capazes de se adaptar a menos escolhas, conseguindo maiores margens e uma logística e planeamento mais fácil para os fabricantes. O que importa saber é “onde cortar… ou não.”

Podemos recuar mais de 100 anos e relembrar a mítica frase de Henry Ford na altura da produção do Model T: “Pode escolher qualquer cor, desde que seja preto.”

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!