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600km a bordo do Mercedes-Benz Classe S

600km a bordo do Mercedes-Benz Classe S
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“Os 600km mais calmos da minha vida”

Qual a melhor maneira de descobrir um automóvel, do que fazer uma longa viagem de forma a conhecer todas as suas potencialidades? Nós não conhecemos, e pelos vistos a Mercedes também não.

Mas desta vez a tarefa era diferente, e o modelo um velho conhecido para quem gosta de automóveis: o Mercedes-Benz Classe S. O pináculo da marca da estrela queria mostrar-nos a sua tecnologia a bordo, mas principalmente o Intelligent Drive, ou seja, a sua condução semiautónoma.

O plano passava por uma viagem até ao “coração” da Costa-Vicentina, um dos locais mais agradáveis do nosso país, mas até lá passaríamos por vários tipos de estradas, ótimos para dar a conhecer um dos automóveis mais avançados do mundo. Um bom plano para os próximos dois dias.

Mas o início do dia parecia não ajudar – “Sintra a fazer das suas” – com um tempo ventoso e umas nuvens que ameaçavam acabar por estragar um dia de primavera, que desde o início da semana prometia ser solarengo. Os Classe S, cinco, todos iguais, estavam lá fora à nossa espera, mas antes, um pouco de teoria…

Para começar, o Classe S é um líder do seu segmento, incontestável. Seja em Portugal ou no resto do mundo, este é o modelo de luxo mais escolhido pelos clientes: para se ter uma noção, este modelo, desde o seu lançamento em 1972, já vendeu mais de 4 milhões de unidades… o que é muito para um carro de luxo!

Para ajudar a essa escolha (ou a torná-la mais complicada), o Mercedes-Benz Classe S é agora também um automóvel com mais silhuetas, havendo seis variantes diferentes: Limousine e Limousine Longa, para um uso mais executivo; Coupé ou Cabrio, para quem pretende todo o luxo, de uma forma mais lúdica e individualista; ou para os mais exclusivos: Maybach e Pullman. Hoje, seríamos executivos, a bordo de um Classe S Limousine, com o novo motor 400d de 340cv, uma das muitas novidades deste renovado modelo.

“Quem vê caras não vê corações…”

Sim, o Classe S foi renovado. Olhando para ele, parece igual, mas com maior atenção é visível a nova grelha dianteira de lamela dupla, e os novos farolins traseiros, com um interior que ganhou novos e (ainda) melhores materiais, com a inclusão de um novo volante de três braços, mais elegante e desportivo, que inclui os touchbutton que ajudam a navegar nos grandes ecrãs multimédia. No campo da tecnologia para conforto do condutor, destaque para o carregamento por indução para smartphones, bem como a iluminação ambiente que pode assumir 64 tonalidades distintas. Basicamente, são 6500 novos componentes neste mega restyling debaixo da pele, um caso de “quem vê caras, não vê corações”.

Foi precisamente no coração que as diferenças foram mais abundantes. O novo propulsor que estava montado nesta unidade (S400d) é inteiramente novo, e é o motor diesel mais potente da história da marca (340cv e 700Nm), e incorpora neste seis cilindros novas tecnologias que lhe dão uma melhor eficiência. É o caso da injeção direta common rail e injetores piezo elétricos que funcionam a uma pressão de 2500bar, e o mais importante: a desativação de cilindros de forma a garantir um menor apetite por combustível.

Vamos para trás do volante? Tem mais piada lá!

“Aberta a mala, postas as bagagens para dois dias, não hesito e escolho a porta do condutor, conduzir nunca é dúvida. Ou achavam que eu ia usar aquela expressão “gasta” de: conduzir ou ser conduzido?” 

Olho para ele, é imponente, com a linha AMG a dar-lhe um dinamismo que consegue ser sóbrio, e uma cor negra que o torna ainda mais impactante. A linha não segue outras propostas da marca, mas sim um estilo clássico e bem conseguido, com compromissos claros para o cliente-alvo. Ainda assim, este jovem podia ter um, na sua vasta garagem imaginária.

Aberta a mala, postas as bagagens para dois dias, não hesito e escolho a porta do condutor, conduzir nunca é dúvida. Ou achavam que eu ia usar aquela expressão “gasta” de: conduzir ou ser conduzido?

O interior negro, integralmente em pele, funde-se com a nova madeira porosa que reveste muitas das superfícies do habitáculo. Esta unidade, tal como as outras quatro que nos acompanharam, tinham todas elas a mesma configuração, com um maior equipamento opcional para os bancos traseiros, mas a isso já lá vamos.

O motor liga, e o som diesel praticamente não existe. Os seis cilindros rosnam baixinho, e depois de confortavelmente instalado (o que não é difícil), partimos para uma tirada de 200km até Beja, onde nos espera um almoço. Confesso: nunca tinha conduzido um Classe S. Estava algo ansioso por isto, leveza é a palavra de ordem para mim e uma “necessidade” num carro. De qualquer forma, um ícone como este merece ser conduzido, nem que seja uma vez na vida.

A forma como tudo funciona é orquestral, tudo está “oleado” a pensar em incomodar o mínimo possível o seu condutor e passageiros. A suspensão AirMatic “engole” as irregularidades, graças ao seu funcionamento pneumático e dedicado a cada rota, que garante, em conjunto com o sistema de tração integral 4Matic, uma superior capacidade de aderência.

Saídos da coroa citadina, é altura de começar a acionar todos os sistemas de ajuda à condução e que são o propósito desta viagem. Vão começar as experiências…

“Não é preciso tocar nos pedais durante todo o caminho…” 

Para começar, o Distronic Plus é um sistema de alerta à condução que faz parte de um pack de assistência à condução, que consiste em sistemas tais como o Steer Control e o Stop & Go Pilot. Ligado o assistente de direção que nos faz a leitura das faixas, o cruise-control é selecionado, e logo aqui temos uma novidade: pode ser selecionando por nós, à velocidade pretendida (até 250km/h) ou então seguir tudo o que os sinais nos dizem. Este último evita todas e quaisquer multas, contudo, pode tornar a viagem algo “demorada”. Optámos pelo primeiro, a uma velocidade justa. O seguimento pelo carro da frente, a uma distância por nós selecionada dá outra segurança, se não for ninguém, o Classe S consegue mesmo “ler a estrada” e reduzir a sua velocidade antes de uma curva mais apertada, ou na aproximação e passagem pela praça das portagens. Virtualmente, não é preciso mexer nos pedais durante todo o caminho!

Já as mãos, essas têm que permanecer no volante. Ele assume algumas curvas, mas não permite um “no hands”, tem que sentir lá o toque, o que deverá permanecer durante um longo tempo, se a condução autónoma for mesmo avante. Para ultrapassar, este Classe S não conta com o sistema do Classe E, que já o faz de forma mais independente, mas ainda assim conta com o assistente de ângulo morto e não demora muito a voltar a uma velocidade superior.

“Tomei uma decisão inusitada… vai ser complicado ver o Alentejo de olhos abertos!”

Sem dar conta, chegámos a Beja, à Herdade do Grou, uma propriedade com mais de 1000 hectares, bastante calma, onde se sente uma grande ligação com a natureza e a agropecuária. Exploração vinícola bem perto do Alentejo, embora bastante jovem já é muito premiada. O almoço deu para descansar, perdão, não estávamos cansados… Depois de uma volta pela propriedade, que produz mais de 500.000 garrafas de vinho/ano, a direção agora era Vila Nova de Milfontes, e aqui tomei uma decisão inusitada:

Não te importas que eu agora vá sentado atrás? – disse eu para o meu (até agora) co-piloto.

Até eu fiquei impressionado com a minha reação, mas as poltronas traseiras “pediam-me” que as aproveitasse. Portanto, tudo o que tinha como ideia de conforto, passou a outro patamar. Multirregulações, cortinas, aquecimento, arrefecimento, um frigorífico central e até uma almofada para a cabeça. Depois de um almoço tipicamente alentejano, vai ser complicado apreciar o resto do caminho de olhos abertos. Pois, assim foi…

O banco estava inclinado, perfeitamente ajustado, à temperatura que deve ser, e mesmo em estrada em mau piso, com muitas curvas, consegui “passar pelas brasas”. Não tive outra hipótese. Pela ausência de trepidações, ruídos e tudo o que nos pode incomodar, comparei a viagem deste Mercedes-Benz Classe S com uma viagem de avião…, mas na classe executiva, já que aqui posso levar as pernas comigo!

O certo é que depois de acordar, reparei que o meu “antigo” co-piloto estava a divertir-se ao volante.

Vila Nova de Milfontes, chegámos, e connosco chegou a comitiva de Classe S de cor preta, que mais parecia uma visita de Estado. Tanto parecia que a aldeia perto de nós ficou em algum alvoroço. Não fizemos um inquérito, mas arriscamos que 90% da população achava que o presidente Marcelo iria distribuir selfies nas próximas horas!

A Herdade do Amarelo, Natura & SPA, é um hino ao sossego. Tanto sossego nas últimas horas! Inserida no Parque Natural da Costa Vicentina e sua vasta vegetação, a Herdade do Amarelo não é um hotel, é um Alojamento Agrícola que funciona ativamente, mas que conta também com quartos, com seis tipologias diferentes, inspirados em destinos como Marrocos ou Bali. Vale a pena visitar, tem o nosso selo de qualidade! Para melhorar ainda mais a experiência, a proximidade às praias tornam-na numa proposta apetecível.

Num instante, o dia cai e é altura de jantar um repasto típico da zona, num dos melhores restaurantes de Milfontes, a Tasca do Celso. Este é daqueles locais que acabamos sempre por passar uma vez na vida, e que tal como conduzir o Classe S, deve ser feito. Mais uma coincidência, tal como o Mercedes, devemos voltar a experienciar. Ouviram senhores da Mercedes? Esta foi dirigida a vocês…

“Não fizemos um inquérito, mas arriscamos que 90% da população achava que o presidente Marcelo iria distribuir selfies nas próximas horas!”

Uma volta a pé, e é agora nesta noite escura, no meio do Alentejo, que vamos testar outra das ‘coqueluches’ do Classe S: Intelligent Light System, ou seja, luzes LED que se adaptam às circunstâncias do ambiente que nos rodeia, e que nos transformam a noite, em dia. Bem, não literalmente, mas quase. Os máximos adaptativos podem mesmo ficar ativos de forma permanente, sem perigo de encadear os outros condutores. Já contamos com mais de 300km de estrada, e cansaço nem vê-lo.

Na chegada, mais umas fotos, testar todas as cores do interior até o sono chegar. Acho que não é isto que os donos de Classe S fazem, mas foi uma espécie de “contar carneiros” mais dispendioso. Funcionou. Até amanhã.

Dia a raiar, hora de acordar, mais comida… perdão, quilómetros pela frente. Pegamos no fotógrafo, claramente impressionado com o Classe S, e vamos à procura de umas curvas para umas fotos mais dinâmicas. Sim, porque embora este seja um automóvel de proporções generosas e o peso de um Rinoceronte Indiano (sim, fui pesquisar), consegue ter uma aceleração dos 0 aos 100km/h em menos de 6 segundos, e uma dinâmica em curva sem mácula. Great Job, Mercedes!

Vamos para Sines! Assumo o volante, nunca irei trocar esta posição de comando. Mais uma hora de caminho por estradas nacionais, em mau estado, e chegada ao Cais. Não é um “cais” qualquer, é o Cais da Estação, que se orgulha de ter um dos melhores Arroz de Ligueirão, que pensava não gostar. Olho pela janela e lá está ele, com um ar usado, mas imponente, pronto para mais quilómetros.

Depois de conversar, segue-se a partida para a despedida. Os últimos 140km são percorridos com o desejo de existir uma Autobahn em Portugal, o único esfoço aqui é ter a velocidade no limite legal, ou perto dele. Em suma, este é um verdadeiro representante do luxo, da segurança e da tecnologia (embora o novo Mercedes-Benz Classe A seja o “jovem inteligente da família”). A facilidade de cruzar distâncias, o conforto e a segurança sentidos estão noutro patamar.

Um contacto mais longo? Não sabemos, o certo é que se existir, será sempre relaxante e um enorme gosto. Foi um prazer, Mercedes!

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!