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Mazda MX-5 (NA vs ND): Duelo de irmãos (Parte 1)

Mazda MX-5 (NA vs ND): Duelo de irmãos (Parte 1)
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“Conhecendo o Herói”

Como é possível eu considerar-me um entusiasta automóvel e nunca ter conduzido um MX-5 da primeira geração? Foi muitas vezes o que me passou pela mente naqueles momentos mais contemplativos, ou quando calhava em conversa com amigos, ou apenas numa das 25 horas diárias que passo a ver classificados automóveis. Que falha enorme no meu ser, que já conduziu tanta coisa, excepto o desportivo mais popular de sempre. Incongruências…

Mas tal constrangimento pessoal acaba hoje! Sim, hoje! Isto porque vou com o Rodrigo até à Mazda Portugal buscar o “meu” MX-5 NA. Enquanto o Rodrigo se babava para o seu ND 2.0, eu mal o olhei de relance, pois ali estava ele, um dos MX-5 NA mais brilhantes, bem conservados e original que já tive o prazer de ver. É, eu sou assim, esquisito. Num hipotético Real Madrid – Rio Ave, eu torceria pelo Rio Ave. Aproveito para dizer que não ligo patavina a futebol. Não me consigo conter e não paro de andar em volta do concessionário para tentar que o tempo passe mais depressa. Pouco depois, são cumpridas as formalidades necessárias e está na altura de ver se o NA é realmente o nirvana da condução, ou, horror dos horrores, uma desilusão embrulhada em muita nostalgia e mediatismo.

Após entrar no habitáculo e regular a minha posição de condução, reparo em dois pormenores que não me agradam. O banco está demasiado elevado e o volante, não regulável, roça-me no joelho ao travar, consequência não só do primeiro ponto, como também da dimensão do volante em si, que é um valente trambolho de “borrachoplástico” como só os anos 90 souberam fazer. Alguns MX-5 saíram com um lindíssimo Momo Monte Carlo com a capa da buzina removível, o que só me deixa ainda mais desiludido.

A pedaleira permite a execução do ponta-tacão sem nenhum entrave e o curso e qualidade de engrenamento da caixa de velocidades é um exemplo académico daquilo que um destes sistemas deve ser num desportivo.

Visto que são 12.30h num dia solarengo de finais de Julho, opto por deixar a capota para cima. A ideia de andar descapotável no Verão pode ser bastante romântica, mas a realidade é que só torna qualquer pele exposta numa demonstração da eficácia de um qualquer creme hidratante para queimaduras e todo o corpo numa máquina de produzir suor.

Rodo a chave do “On” para o “Start” e o motor de 1.6 litros irrompe com um trabalhar sereno, mas rouco. Após percorrer as primeiras centenas de metros, fico ainda mais aborrecido com este volante, visto que é sem dúvidas o elo mais fraco num direcção directa, precisa e com muito feedback.

Depois da paragem para almoço, é altura de tirar as primeiras fotos ao MX-5 e apreciar as suas linhas. E tão graciosamente que elas envelheceram! Inspiradas claramente na primeira geração do Lotus Elan, possuem um equilíbrio de formas exemplar e extremamente limpo, sem floreados desnecessários. A proporção frente-traseira é perfeita e apenas o obrigatório (na Europa) farol de nevoeiro belisca um pouco a harmonia do MX-5. Os pequenos puxadores cromados e à frente os faróis escamoteáveis emprestam o toque de nostalgia tão querido dos clássicos, ao mesmo tempo que permitem que a frente tenha sido desenhada o mais baixa possível.
No interior temos apenas o essencial e neste dia quente, apenas falta o ar condicionado. A visibilidade é boa para todos os lados e os comandos fáceis de operar e “ali à mão”. Também num habitáculo reduzido como este, é natural que assim seja.

Depois de encher o rolo de 32GB de fotos, é altura de conduzir realmente o MX-5. Após as primeiras curvas mais “a sério”, fiquei logo com a sensação que o MX-5 é um carro bastante benigno, até para alguém como eu, que está habituado a conduzir carros maioritariamente de tracção frontal. Devido à distribuição ideal de pesos, a traseira nunca se sobrepõe à frente sem que o condutor trabalhe ativamente para tal, algo que devido à modesta potência disponível, não é muito fácil.

O MX-5 é extremamente ágil e a frente reage com precisão aos comandos do condutor, tudo isto acompanhado por um som de admissão a fazer lembrar os clássicos roadsters ingleses, especialmente quando acertamos aquele belíssimo ponta-tacão, facilmente proporcionado pela caixa curta e directa e pela pedaleira exemplarmente bem definida.

Agora percebo o porquê de tanto “hype” à volta da primeira encarnação do Mazda MX-5. A sua pureza de linhas, a sua simplicidade reconfortante e a sua condução destilada, simples e extremamente gratificante que nos relembra a cada momento que não precisamos de 627 modos de ajuste, caixas de 9 velocidades e inúmeros sistemas para tudo e mais alguma coisa para atingir o ponto mais básico de todos: o verdadeiro prazer de condução.

Alexandre Figueiredo Apaixonado por tudo o que tem quatro rodas e um motor desde tenra idade, aprecia qualquer género de automóvel, no entanto é junto de mecânicas clássicas, automobilia e peças gordurosas que se sente em casa. Prova disso é usar diariamente um automóvel de 1986... Responsável nesta nova geração MotorO2 pela secção "Carburadores", apoio logístico e reportagem.