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Ensaio by MotorO2 – Honda Civic Type-R

Ensaio by MotorO2 – Honda Civic Type-R
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“Formula H”

O dia amanhece nublado uma vez mais, com a chuva forte que marcou toda uma semana a voltar a ameaçar cair. Mas hoje não pode ser, não pode. Hoje espera-me algo especial e quero um dia à altura!

Entro no Honda HR-V e faço-me ao caminho para o deixar “em casa” e ir buscar o seu “primo delinquente”, o Honda Civic Type-R. O seu regresso foi muito esperado tanto pelos fãs da marca, como por todos os entusiastas em geral, tal é o peso desta sigla mágica.

O último Civic Type-R, lançado em 2006, foi injustamente achincalhado por um famoso programa automobilístico, tanto é que a Honda ainda hesitou em lançar o “H” vermelho para mais uma geração. No entanto era apenas mais civilizado que o completamente focado e hiperactivo Type-R EP3 de 2001, o que muitos assumiram como um defeito.

Trânsito é o que se segue, muito trânsito mesmo! Começo a entrar em stress pela ansiedade de querer chegar, afinal de contas, o breve contacto com o Civic em Castelloli abriu-me o apetite como o cheiro a pão acabado de cozer, mas penso também que a pressa é inimiga da perfeição, algo que por certo a Honda teve em conta durante a longa “gestação” que este Type-R teve.

Finalmente chego a Sintra, a casa destes dois Honda, e entrego a chave do Crossover, para pegar na do desportivo…

E impressiona-me uma vez mais, mesmo depois de já o ter visto algumas vezes. A sua silhueta fortemente inspirada no carro tripulado por Tiago Monteiro, no campeonato do mundo de turismo (WTCC) tem na sua asa traseira o ponto de maior destaque, não deixando para trás os generosos para-choques, com o difusor traseiro a integrar as quatro saídas de escape. Todo este efeito cénico, tem um outro, o chamado efeito solo, já que este é o primeiro Type-R com sustentação negativa.

Uma coisa é certa, este Civic não irá agradar a “gregos e troianos”, pois se gosta de manter o low-profile, este carro não é o mais indicado para si. No entanto, não pare de ler, pois só assim fica a saber tudo aquilo que perde…

Respiro fundo e entro para o seu interior, encaixando-me perfeitamente nas bonitas bacquets vermelhas. O interior está cheio de detalhes que o demarcam da restante gama Civic, desde o seu volante perfeitamente dimensionado com pormenores e “H” vermelhos, não esquecendo a “obrigatória” marca central, até à placa de numeração da unidade, que nos confirma que estamos aos comandos de algo realmente especial. Os meus pés assentam nos pedais em alumínio que estão perfeitamente posicionados para uma condução de ataque, juntamente com a manete em alumínio escovado que comanda a transmissão de seis velocidades. Uma unidade tipicamente Honda, com um curso curto, decidido e uma qualidade de engrenamento que nos faz trocar de mudança só para a sentir mais uma vez.

O sol começa timidamente a brilhar, e a chuva a evaporar-se do alcatrão. É altura de carregar no botão vermelho, “Engine Start”. O ronco grave e possante emanado pelo escape passa para o interior do ainda espaçoso habitáculo, um som rouco que nos faz logo sentir que esta é uma maquina sensorial. Saio do meu lugar e faço-me à estrada.

Bastam duas ou três curvas para sentir que este não é apenas mais um automóvel. A resposta milimétrica do acelerador é uma revelação atendendo aos dias de hoje, a direcção alerta e directa quase que é uma extenção de nós, possuindo um rácio perfeito para as capacidades do conjunto. A relação homem-máquina dá os seus primeiros passos…

Não posso desperdiçar nem um segundo, e dirijo-me até uma estrada minha velha conhecida. Até lá, consigo verificar que o motor turbo ajuda e bem numa das questões menos importantes de um desportivo, os consumos. O computador de bordo calculou uma média de pouco menos de 6 litros a cada cem quilómetros, um valor verdadeiramente impressionante, tendo em conta as capacidades do Type-R.

Chego à serra e dou uma primeira volta de reconhecimento, tanto ao traçado como à máquina. Aproveito para o conhecer, para sentir a ligação que se forma entre nós, uma sensação de competência, solidez e lealdade. Noto a perfeita sensibilidade do pedal do travão que acciona os Brembo de quatro pistões, a morder discos perfurados na frente. A confiança aumenta em proporção com o som que entra no habitáculo, com as imediatas reacções da carroçaria a contracenarem com o prazer absoluto que é manusear esta caixa de velocidades.

Aqui, neste território que tão bem conheço e respeito, e já com o piso bem seco é altura de explorar mais uma parte das potencialidades deste Civic exclusivo. Relembro o que o Tiago Monteiro me disse em Barcelona, algo deste género: “Este carro na estrada, não tens a noção da besta que é…”. Respiro fundo e pressiono o botão que está à minha esquerda, o “+R”.

Os manómetros tingem-se de vermelho, o acelerador atiça os cavalos do motor através de um mapeamento mais agressivo, a suspensão torna-se significativamente mais rija e o som de escape fica mais rouco. Quase tudo muda e o Civic Type-R transforma-se na tal “besta” que me avisaram. Assim, neste modo, quase que se torna desnecessário terem-me entregue o livrete, já que o Civic se assemelha mais a um carro de pista do que de estrada!

E aqui fazem-se realmente sentir os 310 cv, que sinceramente parecem mais. Este 2.0l VTEC Turbo como foi denominado tem um funcionamento curioso, já que apresenta um “lag” benigno, quase que a alertar-nos se é mesmo isto que queremos fazer, ou seja, andar muito, muito rápido.

Esta personalidade também nos leva de volta a um lado mais nostálgico em que os turbos eram violentos e apenas catapultavam um monte de potência desmesurada quase sem controlo. Mas mal nos encontramos com uma sequência de curvas esse pensamento esvanece-se, e estas mais parecem um autêntico royal flush, tal é a facilidade com que o Civic Type-R as descreve, umas atrás das outras. O diferencial autoblocante gere toda a potência de forma irrepreensível, enquanto as rodas traseiras travam independentemente para fazer um efeito de torque vectorial, ajudando ainda mais a ter confiança na altura de esmagar o acelerador, antes da saída de curva, a pedir que a borracha dos Continental Sport Contact 6 desenvolvidos especificamente para este modelo, se agarre ao alcatrão com unhas e dentes. São um atributo fundamental e um parceiro à altura.

E agora é altura para acalmar os puristas em dois assuntos: O som “Type-R” não se perdeu. Está diferente, mas continua característico, metálico e agressivo, e o VTEC continua a sentir-se, embora aqui tenhamos mesmo de ter duas mãos firmes para o segurar devidamente! Não que o Type-R possua “torquesteer”, mas a potência é entregue de forma avassaladora.

Desligo o modo +R, que embora funcione muito bem, é melhor deixado para a pista. Na via pública onde o alcatrão não é da melhor qualidade, o modo “normal” continua rápido e eficaz, mas mais benigno, fazendo com que a suspensão não reaja tão violentamente a depressões do asfalto, que poderiam perturbar o carro de maneira irreversível.

Quando apenas queremos circular normalmente, o Type-R é um Civic como os restantes. O espaço e versatilidade conservam-se e embora se note uma maior firmeza, tanto devido à suspensão, como às fabulosas backets, o Type-R mantém-se perfeitamente cómodo e confortável para podermos fazer o nosso dia-a-dia ou uma viagem mais longa. E como já referi, nem o teria de fazer com peso na consciência, já que médias de consumo num andamento descontraído, em torno dos 6l/100km são alcançáveis. Mais uma vez, em andamento descontraído…

E por falar em economia, falta mencionar um atributo importante, o preço. É possível ter um Civic Type-R com 310cv, mais rápido que muitos exóticos e um dos mais avançados “tracção à frente” de sempre por menos de 40 mil euros… uma autêntica pechincha, não?

Este Civic Type-R faz-me lembrar um pouco o seu congénere Lexus LFA. Pode ter tido um desenvolvimento demorado, mas o produto final faz esquecer de sobremaneira a espera. Devido à sua performance avassaladora, o seu enfoque na técnica mais apurada, a sua condução que é um delírio para os sentidos e ainda uma polivalência tão necessária nestes dias, este Civic merece sem dúvida o “selo de qualidade” que é o H vermelho orgulhosamente exibido na sua frente. Este é mais um dos automóveis que me relembra o porquê desta minha paixão e comprova uma vez mais que estamos a viver numa das melhores épocas de sempre do mundo automóvel!


Honda Civic Type-R GT

Especificações:

Potência –310cv às 6500rpm
Binário – 400Nm às 2500rpm
Consumo Anunciado (Medido) – 7,3l/100km (7,9l/100km)

Preços:

Honda Civic Type-R desde: 39.400€
Preço da versão ensaiada : 41.900€

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Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!