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Alpine A110 Légende

Alpine A110 Légende
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“Rédélé ficaria feliz”

Falar da Alpine é um assunto sério, isto porque estamos a falar de uma “instituição” para quem aprecia automóveis, e “desenterrar” um nome tão importante como este, é tarefa difícil, ainda para mais com honestidade para com os seus antepassados. Ainda para mais quando este modelo, para além de ser Alpine, é também o A110, o modelo que tornou a marca efémera, desde o momento em que surgiu em 1969, até às múltiplas corridas de que foi vencedor.

A marca, infelizmente, “pousou as suas ferramentas” em 1995, após já não ter o talento de outrora. Mas em 2017, em Genebra, foi apresentado este automóvel, o Alpine A110, o verdadeiro sucessor da Berlinette, desenhada por Giovanni Michellotti e pensada por Jéan Rédélé.

E este automóvel tem muitos pontos de: “como conquistar o coração de um apaixonado de automóveis”. Primeiro, pelo seu aspeto.

Claramente, este pequeno automóvel usa a tendência de estilo retro, mas com toques modernos, com muitos elementos que fazem lembrar o A110 original, seja nas suas proporções, ou na frente com as quatro luzes redondas (agora em LED, um sinal de modernidade), são inegáveis as semelhanças entre ambos. Depois, todos os vincos da carroçaria, que lhe conferem a personalidade necessária, sem asas ou elementos exagerados. A traseira é “descaída”, e conta com o generoso vidro que presta também tributo ao modelo original. Desta vez, esconde o motor, que é central, mas que antes era montado atrás do eixo traseiro…

O mais curioso são mesmo as suas dimensões, ligeiras, com apenas 4,18 metros de comprimento, 1,79m de largura e uma altura de somente 1,25m, ainda assim 12cm mais elevado do que a tradicional Berlinette. Outros tempos…

Tudo isso dá-lhe um peso superbaixo, de apenas 1104kg, graças sobretudo à construção inteiramente em alumínio, e que vai provar mais para a frente que menos, é mais.

Antes de explicar isso, o interior também merece nota de destaque. Isto porque, mesmo com dimensões pouco generosas, o seu espaço para os apenas dois ocupantes são bastante satisfatórias. Porém, não é apenas esse o seu ponto de destaque. O interior está cheio de detalhes, com uma montagem que até surpreendeu, mesmo que muitos dos seus comandos venham de diferentes gerações/modelos da marca Renault. O painel de instrumentos é 100% digital e muito completo, e pode ter três configurações diferentes, dependendo do modo de condução empregue (Normal, Sport ou Track), selecionado no muito bem desenhado volante deste Alpine. A posição é, por isso, excelente, com os bancos Sabelt (que segundo a marca pesa metade dos Recaro, usados no Megane R.S.) que conferem um bom apoio, e até generoso conforto, para este automóvel, que no modo mais “dócil” consegue mesmo ter faceta de GT.

O resto do habitáculo tem muitos elementos em pele e carbono, assim como um sistema de som da Focal que, mesmo com poucas colunas, consegue fazer maravilhas. O sistema de infotenimento não é o mais fácil de operar, sendo, ainda assim, suficiente. Conta com a grande vantagem de ter o sistema de telemetria, que nos deixa acompanhar tudo o que se passa com o novo Alpine A110, deixando mesmo ter acesso aos tempos de arranque, cronómetro ou temperaturas da água, óleo, transmissão ou do motor.

Mas, obviamente, o que mais me importou foi mesmo a condução, e “sim senhor”, os Franceses finalmente têm um automóvel desportivo, como há muito não tinham!

Eu pensei se ia usar a palavra “brilhante” para caracterizar este automóvel, mas sem dúvida que ele a merece. Foi dos poucos automóveis que já ia com uma expectativa alta, mas conseguiu superar.

E explico o porquê…

Lembram-se da leveza? Pronto, ela tem grande importância aqui, ao juntar-se ao motor 1.8 Turbo de 252cv, que transmite a sua potência para as rodas traseiras, graças a uma (muito competente) transmissão de dupla embraiagem Getrag, com sete relações. A relação peso/potência é de apenas 4,6kg/cv, e isso faz uma enorme diferença num automóvel que tem um chassis invejável, com uma repartição de peso que não é perfeita, de 44:56.

A suspensão de triângulos duplos também é responsável por um importante papel, deixando a suspensão manter a roda sempre com uma boa dose de contacto com o asfalto. Mas é o peso que faz mesmo a diferença.

O carro sente-se móvel, quase telepático. A “ausência” de peso na frente faz maravilhas, e a direção, ainda que não tão rápida como tem sido apanágio na indústria (felizmente), é bastante direta e informativa, algo leve, mas nada de grave, já que o chassis nos informa bem do que se passa na frente. O motor tem força desde muito baixas rotações, assim como um som (em modo Sport e Track) que entusiasma, com este 4 cilindros a soar muito bem, com doses generosas de ‘pops and bangs’ nas reduções, que raramente se mostraram lentas, ou hesitantes.

Os travões têm boa mordida, fácil de dosear e gerem bem o calor, também graças ao baixo peso (mais uma vantagem), enquanto as acelerações são bem rápidas. O arranque até aos 100km/h é feito em apenas 4,5 (medimos 4,4s), e as saídas de curva permitem algumas derivas, perfeitamente controláveis.

Claro que a condução de um automóvel de motor central requer alguma habituação no limite. As travagens, quando feitas de forma mais brusca, acabam por “soltar” um pouco a traseira, e ajudam a entrar na próxima curva, mas isso é parte do jogo… e da diversão!

É isto que este automóvel é: uma verdadeira diversão. Que para além disso consegue ser efetivamente rápido, é mais divertido de conduzir que alguns dos seus concorrentes diretos, e a redução de peso faz “milagres”, tornando tudo mais imediato e sensitivo, para além de melhorar em tudo, seja a travagem, a sensação de confiança em curva, aceleração ou mesmo, os consumos!

Sim. Um cliente Alpine, quando acalmar a sua veia de piloto dos primeiros quilómetros, vai ver que este 1.8 Turbo não irá pedir mais de 7,5l/100km em ciclo misto. Porém, nós com apenas 4 dias, “abusámos” um pouco mais fazendo o computador de bordo chegar aos dois dígitos, ainda assim: “bendita gasolina que mereceste ser queimada”!

Para finalizar, achamos que o novo Alpine A110 tem tudo para ser um automóvel desejado na garagem da maioria dos amantes de automóveis. O seu desenho segue o A110 “original”, com o modernismo do século XXI. O interior é confortável e tem boas doses de espaço, tornando-se no local ideal para desfrutar de uma condução genuína e com poucos filtros. Uma tentação de guiar depressa!

Deixou saudades ao entregar o “cartão” que esteve no bolso durante os passados dias. Volta depressa!


Alpine A110 Légende

Especificações:
Potência combinada – 252cv às 6000rpm
Binário – 320Nm às 2000rpm
Aceleração dos 0-100 (oficial): 4,5s
Velocidade Máxima (oficial): 250km/h
Consumo Combinado Anunciado (Medido) – 6,4l/100km (7,8l/100km)

Preços:
Alpine A110 desde : 63.247€
Preço da unidade ensaiada: 72.473€


Clica nas fotos, e vê a “jóia francesa” da atualidade: 

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!