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Abarth(s) à prova! – 500e Scorpionissima e 695 Competizione

Abarth(s) à prova! – 500e Scorpionissima e 695 Competizione
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“Feliz de qualquer maneira”

 

O exercício é fácil: colocar frente-a-frente as duas soluções (por enquanto) da Abarth. O mais “tradicional” 695 Competizione, juntamente com o mais recente elemento da marca, o 500e 100% elétrico na versão Scorpionissima. Aqui não há vencedores nem vencidos. Este artigo foi feito para demonstrar que é possível ser feliz de qualquer maneira, seja ela alimentada a octanas ou a kilowatts.

 

Por fora

Esteticamente falando, é notório que o 500e é uma evolução do 695 que aqui temos em teste. As dimensões não mudam muito caso peguemos na fita métrica mas, à vista desarmada, o 500e parece mais robusto e bem maior do que os números nos indicam.

Assim, o Abarth elétrico é 13mm mais comprido, 55mm mais largo (onde mais se nota), bem como 38mm mais alto. A distância entre eixos é igualmente superior no 500e, sendo 22mm mais comprido neste campo, com o mesmo a acontecer nas vias: +66mm na dianteira e +63mm na traseira, duas medidas que contam muito, seja no plano estético, como na altura de passar para a estrada.



Em termos estilísticos, ambos seguem a mesma inspiração vintage, bem conseguida em qualquer um deles. Os grupos óticos redondos têm agora uma imagem mais “clean” no novo modelo, enquanto o 695 Competizione se demonstra bem mais musculado quando comparado com um normal Fiat 500.

O “calçado” também influencia. O 695 Competizione montava uma jantes de 17’’ polegadas, com pneus Michelin Pilot Sport 3 na medida 205/40 R17, enquanto o 500e utiliza umas jantes de 18’’ polegadas, revestidas por pneus Bridgestone Potenza com a mesma pegada 205/40.

Atrás, obviamente a agressividade do 695 Competizione é garantida pelas quatro saídas de escape “Sovrapposto” com uma colocação curiosa. Tanto um como outro, contam com spoilers de dimensões generosas.

 

Lá dentro

Começando pelo Abarth 500e Scorpionissima, encontramos uma habitáculo mais moderno mas disposto de forma lógica, mais fácil de utilizar e com materiais de melhor qualidade. A visibilidade é boa, assim como a entrada e saída do habitáculo, mesmo que este modelo conte igualmente com bacquets, que oferecem bom apoio e suporte. As decorações estão bem conseguidas, dando um ambiente especial a este elétrico desportivo, com um volante igualmente mais espesso, com boa pega e o “ponto zero” ao topo.



Passando para o 695 Competizione, sentimos que este já conta com alguns anos de mercado, ainda que continue a ter a sua “elegância própria”. Os materiais não são tão agradáveis à vista, mas os pontos de toque estão certos: volante revestido a Alcantara e pega da transmissão manual em alumínio escovado. As bacquets, também assinadas pela Sabelt, são um exemplo de elegância desportiva e de suporte, não sendo, no entanto, tão confortáveis quanto as presentes no 500e Scorpionissima. Neste interior, sentimo-nos igualmente mais apertados, seja pela menor iluminação de luz exterior (o 500e conta com tejadilho panorâmico), seja pelo próprio espaço disponível.

Qualquer um dos dois modelos consegue transportar quatro passageiros, com as bagageiras a contarem com a mesma capacidade: 185l.

 

Os corações e a balança

Com a mesma filosofia de oferecer diversão ao volante, vimos até aqui que estes Abarth são bastante diferentes. Mas é neste ponto que a situação se diverge ainda mais.

Começando pelo mais experiente, o 695 Competizione conta com os préstimos do conhecido 1.4 T-Jet de 180cv e 250Nm de binário, o que é um valor bastante generoso para um automóvel com estas dimensões e com um peso de apenas 1130kg. A aceleração dos 0 aos 100km/h demora 6,9s e a velocidade máxima é de 230km/h. Não haverá queixas de andamento.



O 500e Scorpionissima conta com um motor elétrico, com 114Kw (155cv para melhor compararmos) e um binário de 235Nm. Números inferiores, mas com a ressalva de estarem sempre disponíveis, sendo essa a principal vantagem do elétrico. Em termos de peso, este é mais pesado em 355kg, totalizando um peso de 1485kg. Em aceleração, o 500e demora mais 0,1s (7,0s), mas tem uma velocidade máxima bastante inferior: 160km/h limitados eletronicamente.

Em termos de travagem, o 695 Competizione utiliza um sistema Brembo com uma dimensão de 305mm na dianteira (perfurados e ventilados) e 240mm no eixo traseiro. O 500e Scorpionissima utiliza na frente discos ventilados com 281mm e de 288mm na traseira.

 

Tirar as dúvidas na estrada

Como dito desde início, o objetivo deste artigo não é descobrir qual é o melhor destes dois Abarth, mas sim partilhar a experiência de cada um deles. Começamos pelo mais novo 500e Scorpionissima.

Mesmo com um peso que se aproxima dos 1500kg, o Abarth 500e não se sente “pesado”, sendo fácil de inserir em curva e dando desde cedo muita confiança ao condutor, igualmente na altura de colocar a potência no chão. O eixo dianteiro segue bem as nossas indicações, com uma direção direta, não muito desmultiplicada. A suspensão é firme, sem ser demasiado “irrequieta” , dando mais confiança e aproveitando da melhor maneira as vias mais largas do modelo, conferindo-lhe assim uma boa estabilidade.

O ser elétrico dá-lhe vantagem na saída das curvas, sendo mais rápido a reagir, sem ser preciso aguardar pelo melhor regime (ou pela ajuda do turbo), com os pneus Bridgestone Potenza a garantirem a aderência necessária, o que nos permite ir rapidamente em busca da próxima curva. A outra vantagem reside no facto do peso estar no chão, reduzindo o centro de gravidade e ajudando a uma maior confiança nas transições mais rápidas.

Mas o “ser elétrico” tem também pontos menos positivos. A travagem, embora suficiente, nota-se que tolera com um maior peso. Ainda que a regeneração ajude, no modo Scorpion Track (um dos três disponíveis), o Abarth não a usa, “pendurando-se” quase por completo nos quatro discos. Ou seja, passado algum tempo num ritmo mais elevado, aconselha-se a um “momento de descanso” para evitar fadiga. O som artificial criado pela Abarth é um “gimmick” interessante, mas que optámos por deixar desligado. Ainda assim, ajuda numa condução mais empenhada.

Passando para o mais tradicional 695 Competizione, andamos uns anos para trás. O que não é negativo, é apenas diferente.



Para entrar é preciso mais ginástica e a posição de condução não está tão bem conseguida quanto no 500e Scorpionissima que ficou a descansar. Mas mal ligamos o motor, somos brindados por um som rouco, que está muito acima do que o 500e tenta emular.

A primeira coisa que notamos é a leveza, num automóvel que pesa pouco mais de 1100kg, onde a diferença de 355kg é bastante notória. A agilidade nota-se, embora o volante precise de mais rotação para entrar dentro da curva, o “mergulho” é mais rápido e temos que nos relembrar que aqui há que esperar pelo melhor regime para ter a melhor saída, cumprindo o acordo de “entrada mais lenta para saída mais rápida”. O motor 1.4 T-Jet não é um exemplo de disponibilidade, já que tem uma faixa máxima de exploração não muito grande, no entanto, quando nos habituamos é viciante explorar este 695 Competizione.

É basicamente uma experiência mais sensorial, onde podemos até não ser tão rápidos quanto o 500e em alguns momentos, mas que ganhamos em sensações. No entanto, o elétrico vence em algumas saídas de curva, onde o ESP (que não é possível desligar) decide “cortar a festa” no 695 Competizione, assim como na confiança em curvas mais rápidas, graças ao peso que está mais “em baixo”.

No entanto, na altura de travar o 695 Competizione é mais mordaz e eficaz, pedindo no entanto alguma preparação em travar direito, já que a traseira gosta de “brincar” um pouco. A transmissão não é mais mecânica ou justa de utilizar, mas é ideal para um andamento mais rápido.

A suspensão, comparativamente com o 500e é mais firme, o que o torna igualmente mais irrequieto nas suas reações, ainda que informativo, torna a sensação de velocidade ainda mais evidente, em conjunto com o som dos escape Record Monza… que se torna mais audível quanto mais subimos o regime, altura em que este é também bem mais rápido que o 500e, que ficaria só nos 160km/h.

 

Cada qual a seu dono

A “jogada” da Abarth foi de mestre. O 500e Scorpionissimo não se preocupou demasiado em seguir as pisadas do 695 Competizione. É um automóvel elétrico desportivo, numa nova realidade, assim como aquela que encontramos sob os pequenos capot deste dois italianos.

O 500e Scorpionissimo é mais fácil de conviver no dia-a-dia, por uma larga distância. Mais fácil de entrar e sair, habitáculo mais agradável, mais tecnologia e maior conforto, assim como consumos comedidos para um elétrico.

O 695 Competizione é uma “máquina de guerra” que tem que nos transportar do ponto A ao ponto B; é um automóvel com mais compromissos, mas que pede mais de nós na altura de o explorar perto dos limites.

De qualquer das maneiras, estes dois modelos conseguem oferecer boas doses de diversão aos seus proprietários. Se o elétrico é mais fácil de conviver e de explorar quando assim desejamos, fazendo-o muito bem, com um comportamento divertido e bem mais eficaz do que muitos esperariam, o 695 Competizione é uma espécie em vias de extinção que quer apenas diversão pura, mesmo que nos faça “agitar” mais no resto do tempo.

Em termos de preços, a diferença também não é muita. O 695 Competizione era o mais barato, disponível por 40.016€ na unidade ensaiada; já este 500e Scorpionissima pedia em troca 43.000€, que para cliente empresa fica por 32.869€ (s/IVA).

O melhor que podemos ter é escolha, e a Abarth está a oferecer isso. Para além de diversão. Sempre.

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!