
“A arte de bem viajar”
A Mercedes-Benz sabe muito bem o que é preciso para tornar uma carrinha – ou Station como lhes chamam – num sucesso. Desde 1946 que a marca de Estugarda produz estas soluções mais familiares a par com as tradicionais berlinas, somando mais de 16 milhões de Station produzidas.
Assim, regressámos ao Mercedes-Benz Classe E para testar a terceira geração do All-Terrain, uma solução que está presente na sua gama desde 2017 e que prova ser uma alternativa (muito válida) face aos SUV.
O estilo importa, o recheio também
No exterior deste Mercedes-Benz Classe E, encontramos uma mistura entre a elegância da proposta de segmento E da marca de Estugarda com a imagem mais “rugged” digna de um fora de estrada.
Isso é possível graças aos pormenores específicos desta versão, como é o caso das várias proteções em plástico que percorrem todas as zonas inferiores e cavas das rodas, com os para-choques a contarem com elementos cromado brilhante, o que contribui para conferir ao modelo uma imagem mais robusta. As cavas das rodas escondem umas jantes (específicas deste modelo) com umas benignas 19” polegadas, ou seja, com pneu suficiente para aguentar trajetos fora de estrada.
No capítulo da estética, contamos igualmente com uma grelha dianteira específica, com duas lamelas e com a estrela da marca ao centro, ladeada por pequenas estrelas que compõem o padrão. A cor Cinzento Verde da unidade em teste assentava muito bem no perfil aventureiro desta unidade, que pode ter uma altura ao solo até 46mm superior, graças à suspensão pneumática Airmatic.
Mas se o estilo mais robusto do exterior deixa um amante de “carrinhas aventureiras” agradado, o interior cuidado e bastante tecnológico convence praticamente qualquer um.
A feliz junção de cores desta unidade, interior e exterior, ajuda muito a que o resultado global seja ainda melhor.
Este interior apresenta-se espaçoso, como seria de esperar de um automóvel que mede quase cinco metros de comprimento (4,950mm), mas demonstra igualmente um elevado nível de digitalização, sobretudo na unidade em teste que contava com o Superscreen, o opcional (1504€) que oferece ao passageiro a possibilidade de contar com um ecrã próprio, que em conjunto com o central (multimedia) e o painel de instrumentos, totaliza 39’’ polegadas de ecrã.
Na prática, o sistema funciona bem, não sendo demasiado intrusivo quer a nível estético, quer a nível funcional, já que em andamento o ecrã fica “invisível” para o condutor, enquanto o passageiro se atualiza na internet ou vê uma série ou filme. E existe também a possibilidade de fazer reuniões Zoom durante as viagens, graças à camara montada no topo do tablier.
E sim, o Classe E All-Terrain é um ótimo sítio para fazer tudo isso, já que o conforto é uma verdadeira realidade, mesmo estando parado. Os bancos contam com um apoio suficiente para uma proposta familiar como esta, com a posição de condução a ser perfeita graças aos múltiplos ajustes possíveis. Atrás, o espaço é também generoso, embora o túnel de transmissão roube um pouco de espaço para o “5º passageiro”, sendo ideal para dois adultos. Aqui o conforto não foi igualmente descurado, sendo tão confortável para quem vai atrás, como para quem tem o privilégio de ir à frente.
Em termos de bagageira, esta unidade estava equipada com a motorização 300de, de que falaremos mais à frente. Devido a ser híbrido plug-in, a posição das baterias obriga a que a volumetria seja inferior às versões térmicas, contando com apenas 460l de capacidade, menos 155l que a versão Diesel Mild-Hybrid. No entanto existe sempre a possibilidade de rebatimento na proporção 40:20:40, que facilita a gestão de carga.
Estradista profissional, ‘offroader’ nos tempos livres
A equipar esta unidade em teste, contámos com o conjunto 300de, composto por dois motores, um Diesel e um elétrico, que em conjunto somam 313cv de potência e um generoso binário de 700Nm. O que na ficha técnica se traduz numa aceleração dos 0 aos 100km/h em 6,7s e uma velocidade máxima de 223km/h. Mas, mais importante do que isso, temos disponível uma autonomia elétrica que supera os 100km graças a uma bateria de 19,5kWh, o que é mais do que suficiente para muitos condutores cumprirem os seus percursos diários.
Isso traduz-se num consumo, nos primeiros 100km, que pode ser nulo. No entanto, testámos num percurso misto e o valor nos primeiros 100km ficou em 0,4l/100km. Após “esgotar” a bateria, o motor Diesel ajuda a que os consumos se mantenham reduzidos. Numa viagem de mais de 300km, o valor ficou fixado em 6,2l/100km, o que é bastante positivo tendo em conta a dimensão, peso e a tração integral desta proposta.
E foi durante essa viagem que também explorámos tudo o que poderíamos ter explorado deste Mercedes-Benz Classe E All-Terrain. Primeiro, em autoestrada, o terreno de eleição do modelo da marca germânica voltou a comprovar que não é exceção nesta variante com cariz mais aventureiro. Acima de tudo, é um familiar, diria este Classe E se pudesse comunicar connosco.
O pisar confortável é absolutamente livre de reparos, com a suspensão Airmatic a fazer um excelente trabalho neste alcatrão (mais) livre de imperfeições, não deixando, no entanto, de informar o condutor para que não se torne demasiado “desligado”. Quando as estradas mais encadeadas chegam, já fora desta via mais rápida, conseguimos ainda ter alguma agilidade, com a “tração às quatro” a demonstrar-se capaz de manter esta carrinha com dimensões generosas “nos carris”.
Contudo, o melhor é mesmo aproveitar o caminho a um ritmo despachado, mas não agressivo, até porque não foi para isso que ela foi pensada, tanto porque vamos contra a sua filosofia. O conforto volta a ser primordial, onde só em cidade, nas demasiadas lombas que temos, a suspensão por vezes não reage tão rapidamente fazendo-se sentir mais do que o normal.
Mas, o que mais queremos saber é como se comporta fora de estrada. Obviamente que neste teste não quisemos testar os seus limites, ou seja, não fomos para caminhos demasiado severos para esta All-Terrain. Optámos antes por estradões de terra, assim como um terreno onde a aderência não era ideal, bem como umas subidas (e descidas) fora de estrada.
A verdade é que o conforto volta a ser presença assídua mesmo aqui. A suspensão fica mais alta no modo fora de estrada, o que nos dá alguma paz de espírito para enfrentar algum trajeto mais acidentado, sem correr o risco de ter contacto com a parte inferior da carroçaria. O All-Terrain conta ainda com um modo específico no painel de instrumentos (ou em qualquer um dos ecrãs) que nos informa de tudo o que é necessário saber quando estamos em condução off-road.
Em subidas, o Classe E All-Terrain não revelou quaisquer dificuldades, conseguindo entregar bem a potência com o sistema 4Matic a não a desperdiçar na hora de a colocar no chão, com o mesmo a acontecer nas descidas, com o Hill Descent Control a facilitar bastante a tarefa para quem não está tanto à vontade nestas aventuras. A ideia que nos dá é que este Classe E é capaz de bem mais do que podemos esperar.
O seu terreno preferido são os longos estradões de terra, onde se mostra na sua plenitude, com conforto e segurança. Basicamente, a única desvantagem do Classe E All-Terrain é que temos de o lavar mais vezes do que o normal…
Em conclusão, este é um exemplo de que um automóvel pode assumir várias facetas sem penalizar nenhuma. Com um perfil mais baixo que um SUV, consegue oferecer uma melhor dinâmica e consumos mais reduzidos, ao mesmo tempo que oferece um espaço interior bastante confortável e espaçoso. Apenas a bagageira nesta versão Plug-in sofre um pouco. No entanto, essa desvantagem consegue ser facilmente compensada por consumos que podem muito bem, para muitos, ser de “zero”, no que diz respeito a combustível fóssil durante a semana. Por fim, o conforto sentido em estrada pode aqui ser constatado também fora dela, com um sentido de aventura mais enraizado.
Tudo isto tem um preço, obviamente. A gama Classe E All-Terrain começa nos 78.250€, mais 7.100€ que um Classe E Station convencional com o mesmo motor (220d mas sem tração 4Matic), enquanto a variante Plug-in começa nos 84.900€. Já a nossa unidade pedia em troca 94.650€, onde não faltava praticamente nada.