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Jeep Wrangler 2.2 Multijet Sahara

Jeep Wrangler 2.2 Multijet Sahara
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“Deserto de saudades”

Depois de testar o Jeep Wrangler Rubicon na primeira metade do ano, que deixou excelentes impressões, e me conseguiu “tranquilizar” quanto ao mítico modelo não ter a sua receita estragada com uma modernização excessiva, foi agora a vez de testar durante uns dias a sua variante mais “atinada”, a Sahara. Mas a palavra “atinada” está entre aspas porque essa palavra não existe no dicionário de “Jeepês-Português” …

Ora bem, o que muda neste Sahara relativamente ao Rubicon?

Se não conseguiram ver, provavelmente estão a precisar de óculos. Primeiro, esta é a versão longa, que conta com duas portas extra, e por isso, melhores acessos, e acima de tudo, três lugares extra; para além disso, as cavas das rodas passam a contar com a cor da carroçaria, assim como uns pneus mais estradistas, como que a mostrar os caminhos por onde ele andará na maior parte do tempo. Basicamente é assim: Rubicon é para quem não conseguia deixar de saltar nas poças ou subir às árvores quando era criança; Sahara é mais para aquela criança que se mantinha na linha, mas que não conseguia deixar de, de vez em quando, ir por maus caminhos com o seu amigo rebelde!

Pegando na fita métrica, são 55 os centímetros a mais no comprimento face à versão de duas portas, enquanto em euros, esta versão longa é 9000€ mais dispendiosa que o Sahara de dois lugares. No exterior, podemos continuar a apreciar a sua “beleza bruta” que não se perdeu, graças ao seus ângulos quase retos e dobradiças expostas, assim como a grelha de sete barras, que também evoluiu, mas que nunca se deixa de caracterizar como a de um verdadeiro Jeep.

Subindo para o interior, encontramos um habitáculo bem diferente da anterior geração, que era repleta de plásticos rijos, e luzes interiores tipicamente americanas (aquelas esverdeadas, estão a ver?). Agora temos um interior que continua a ser muito prático, praticamente vertical, mas que junta a isso alguma classe, como por exemplo o facto de algumas superfícies serem revestidas a pele, incluindo grande parte do tablier.

Ao centro, o destaque vai para o sistema multimédia UConnect, muito completo e fácil de operar, com os comandos de climatização a estarem dispostos no ecrã de 8,4’’ ou nos botões dedicados, logo abaixo. É também aqui nesta parte central que encontramos a primeira diferença no interior do Sahara face ao Rubicon: a inexistência de bloqueios dianteiro e traseiro de diferenciais ou do comando da Sway Bar, o que prova que este Sahara está pronto para a aventura graças às suas redutoras e bons ângulos de ataque e de saída, mas não para aventuras tão radicais como no Rubicon.

Ainda no interior, realce para a posição de condução, obviamente elevada, mas com uma boa posição, onde podemos ver também o novo volante de três braços e o painel de instrumentos (agora do século XXI), com todas as informações necessárias, incluindo um inclinómetro. Aqui, apenas peca por não ter apoio para o pé esquerdo que vai a descansar, já que o Wrangler, agora, está apenas disponível com transmissão automática…

Passando para os lugares traseiros, cabem perfeitamente três adultos, seja em altura, largura ou comprimento (espaço para as pernas). Apenas achámos que a base do assento poderia ser um pouco maior, para dar um maior apoio, já que havia espaço para isso. A bagageira é de 548L, com acesso através da abertura lateral da porta, em duas partes, primeiro o vidro e depois a porta e a roda, e conta com uma divisória de carga que, espante-se, não se pode retirar…

Mas a culpa não é da Jeep, mas sim da nossa política de impostos.
Ou seja, a marca “viu-se” obrigada a colocar isto de forma a tornar o Jeep Wrangler longo numa pick-up, reduzindo assim a carga fiscal, por isso, “bendita rede que estás por detrás dos bancos, que se não fosses tu, este Wrangler estava condenado…”

Mas vamos passar para a condução, aquele que é o melhor momento a bordo de um Jeep Wrangler, e confesso-vos: já tinha (muitas) saudades.

Isto porque estamos atualmente num mundo de “falsos jipes”, ou seja, muitos crossover que acreditam ser capazes de escalar mais coisas do que apenas passeios, e o Wrangler é o tipo Americano que diz: “Hold my beer”, e mostra-nos o que um verdadeiro Jeep é capaz de fazer. Está preocupado apenas com isso e, pelo meio, lá faz as suas tarefas mundanas, e diga-se de passagem: melhor do que nunca!

Porquê?

Porque conduzir um Jeep Wrangler nunca foi tão agradável e fácil, o motor está com o mesmo nível de potência, mas está mais suave (mas não em demasia) e a sua transmissão ZF de 9 velocidades é rápida e bastante certa nas passagens. Um conjunto de luxo, que se junta a uma direção que em alcatrão não é direta, e um movimento de chassi que mostra que a construção monobloco ainda não é coisa que se fale na sua linha de montagem em Ohio, onde preferem, e muito bem, a montagem sobre longarinas. Mas isso quer dizer que foi desagradável de conduzir de alcatrão? Nada disso!

Obviamente, quando se entra num Wrangler adota-se um tipo de condução diferente, mais calmo e não tão brusco, porque sempre são 2119kg e 4,88m de comprimento. Posso mesmo dizer que em autoestrada se mostrou bastante capaz no seu segundo terreno preferido, não fosse o fora-de-estrada estar em primeiro. É aí que ele brilha, e onde tudo faz sentido de forma total!

Trepar tudo?
Sim, quase tudo.

Temos sempre de nos lembrar que os pneus do Sahara são praticamente de estrada, mas o Wrangler mostra que maus caminhos é para serem ultrapassados. Apenas temos de nos lembrar que o ângulo central não é dos melhores, já que são mais de três metros de distância entre eixos, e não convém ficar “de barriga” com um automóvel que pesa mais de duas toneladas.

Havendo essa precaução, é um prazer explorar novos caminhos, e ainda mais se optarem, como nós, por tirar o teto completamente, e viver aventuras a céu aberto (ainda que seja possível retirar as portas e “deitar” o para-brisas, embora que não deva ser legal).

Para além disso, o Wrangler está mais poupado, pedindo no final dos mais de 600km que fizemos ao seu volante, 8,9l/100km, um valor justo tendo em conta o percurso misto sem muitas preocupações, e, claro está, os seus condicionamentos “físicos e aerodinâmicos”.

De qualquer maneira, ainda que melhorado em muitos pontos tais como o conforto, propulsor, equipamento e segurança, o Jeep Wrangler continua a ser um automóvel que se compra mais com o “coração” do que com a razão (a não ser que se precise mesmo de um Jeep deste tipo).

Eu, possivelmente, arranjaria maneira de ser necessário ter um.


Jeep Wrangler JL 2.2 CRD Sahara 4×4 AT

Especificações:
Potência – 200cv às 3500rpm
Binário – 450Nm às 2000rpm
Aceleração dos 0-100 (oficial): 9,6s
Velocidade Máxima (oficial): 180km/h
Consumo Combinado Anunciado WLTP (Medido) – 9,5l/100km (8,8l/100km)

Preços:
Jeep Wrangler Sahara 4P desde: 67.500€
Unidade Ensaiada (c/campanha): 67.961€


Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!