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Ensaio by MotorO2 – Peugeot RCZ R

Ensaio by MotorO2 – Peugeot RCZ R
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“Piéce de Resistance”

Em qualquer grupo, equipa ou conjunto, existe um elemento determinante, emblemático, que se destaca dos demais. Quer seja pelas suas capacidades físicas e tácticas, como no futebol, ou por talento e genialidade, como na música, sendo muitas vezes eles que dão coerência e fortalecem o colectivo.

Já imaginaram o Real Madrid sem o Cristiano Ronaldo? Os U2 sem o Bono Vox? Ou a Madeira sem Alberto João Jardim ? Bem, esta ultima não é propriamente o melhor exemplo…

Outro exemplo é visto na industria automóvel, que necessita dessas “estrelas” na suas gamas, embora que ao contrário do Ronaldo não marque tantos “golos” no que toca a vendas, mas que ajudam a vender bastantes “camisolas” , porque quem sabe, se a pessoa que entrou no stand da Peugeot para observar o esguio coupé e com sorte, trazer um catálogo para casa, não “engraçou” até com o 308, que já está mais dentro das suas possibilidades?

A paixão e o orgulho dos proprietários sobre as suas marcas tem-se vindo a perder ao longo dos anos, mas nota-se agora por parte dos construtores o esforço para reavivar esse sentimento. E a Peugeot já precisava à algum tempo desse renascimento, já que a sua herança desportiva andava meio perdida, só sendo retomada muito recentemente pelo 208 GTi.

O RCZ R tem por base o modelo do qual o seu nome deriva eque já ensaiamos, mas neste ensaio, é o segundo “R” que importa. Este acrescenta muitas coisas que tornam este belo coupé num autêntico e muito especial devorador de curvas!

Isto acontece porque a Peugeot Sport arregaçou as suas mangas num veículo de estrada, coisa que não fazia desde o 205 T16. O motor 1.6 THP que debitava atéagora 200cv sofreu uma transformação. O bloco foi reforçado, tal como o turbo e os colectores de escape. As bielas são também mais fortes e os novos pistões foram desenvolvidos pela Mahle (que é só quem tem fornecido estes componentes aos últimos 20 vencedores de LeMans).

Por culpa de todas estas alterações, a potência subiu até aos 270cv que nos chegam às 6600rpm e um binário de 330 Nm das 1900 às 5500rpm.Apesar de um número espantoso de 170cv/litro e do arranque dos 0 aos 100km/h consumado em 5,9s, o RCZ R que perdeu 17kg face ao RCZ “normal”, apresenta baixos valores no que toca aos consumo e emissões poluentes, retribuindo 6,3l/100kme 145g/km respectivamente.

Chamei-lhe devorador de curvas, porque neste modelo, o condutor (ou deverei dizer piloto?) consegue explorar muito bem este motor, graças às novas ligações ao solo.

O RCZ R está agora 10mm mais perto do chão e a suspensão 14% mais rija à frente e 44% atrás. As rodas são também mais largas, enquanto o ângulo de sopé e convergência foram melhorados. Dentro das jantes 19″ que estão envoltas por pneus Goodyear Assimetric, estão tambémos enormes discos de travão de 380mm que são mordidos por maxilas da Alcon. Tudo isto é complementado por talvez a peça mais essencial de todas, odiferencial Torsen de deslizamento limitado, que ajuda a encaminhar estes cavalos para onde mais interessam, a estrada.

Esta sensação confirma-se novamente quando abrimos a porta para entrar no habitáculo, algo que torna este RCZ R numa experiência sensorial. Achou estranho?

Eu explico, sentimo-nos especiais, porque o seu interior é exclusivo pelas bacquets muito angulares, com um desenho quase prototipado em couro e alcântara, que nos “abraçam” firmemente. Extra inesperado, o RCZ R mostra-nos também quando estamos em boa forma física, já que para entrar e sair dos bancos, os quilinhos a maistêm de ir embora…
O volante tem as dimensões ideais e tudo está bem posicionado, a manete da caixa é igual à do 208 GTi e encontramos a sigla R espalhada por vários pontos do habitáculo. Como que a preparar-nos para o queai vem…

Rodamos a chave e o som de escape invade os nossos ouvidos,ainda para mais se tal como eu, ligaram pela primeira vez o RCZ R num espaço fechado…

Já na estrada, mas ainda em cidade, o RCZ R mostra que foi nele feito um bom trabalho no que à suspensão diz respeito, sendo claramentemais rija mas ainda assim adaptada para um uso no dia-a-dia. O amortecimento está a um bom nível, ainda que embora cada buraco seja sentido, este é absorvido imediatamente, evitando as irritantes sacudidelas típicas destescarros mais desportivos. A caixa tem um tacto suave, mas mecânico, com um escalonamento de relações curto.

Saindo da cidade e dirigindo-me para uma estrada mais deserta e minha conhecida, aproveito para experimentar um pouco melhor o RCZR.  De notar desde logo o melhoramento nos travões, com uma boa mordida e com um excelente curso de pedal, que nos faz dominar qualquer travagem de forma quase milimétrica. A direcção ainda hidráulica, é mais pesada do que estamos normalmente habituados, no entanto engana-se que tal seja um defeito, porque neste caso dá um óptimo feeling e transmite bem oque se passa com as rodas dianteiras, incutindo assim uma maior confiança ao condutor.

O motor impressiona, tal como já disse, logo nos seus números. Mas na prática, ainda se torna melhor. O binário está sempre disponível desde as rotações mais baixas, mas para aproveitar o que o 1.6 oferece de melhor, tem de se elevar o tacómetro até às4500 rpm, regime em que se alcança o melhor equilíbrio motor-chassis, ideal para navegar de curva em curva.

Temos ainda de nos habituar a outra particularidade, algo que ao condutor menos habituado a automóveis perfomantes, pode criar alguma confusão. Falo do diferencial autoblocante, já que graças ao mesmo podemos acelerar mais cedo à saída das curvas, mesmo quando não parece possível o RCZ R curvar mais depressa. Aí, mantendo o pé direito para baixo, o diferencial actua e encontra tracção onde pensamos ela não existir. Existe portanto a necessidadede uma pequena re-calibração do condutor “piloto”.
É uma sensação incrível,sentir toda a aderência a ser canalizada para onde é preciso, sendo tal ainda mais notório nas curvas mais longas, onde parece que se falhar alguma coisa será a traseira e não a frente, essa está bem agarrada ao chão.

Sim, é preciso tudo isto para se notar as diferenças dinâmicas face ao RCZ “normal” que por si só já é um carro bastante equilibrado. Mas depois do seu irmão extrovertido, nada se torna igual, o RCZ R é algo à parte. O seu comportamentoé irrepreensível, e fica a vontade de entrar por uma pista adentro e ver realmente o que este automóvel é capaz…

Refreando os ânimos, aproveito para fazer o reset aos consumos, e aproveitar a faceta mais pacata do RCZ R. Após fazer algumas centenas de quilómetros em todo o tipo de estradas, constatei que são possíveis números que os mais sépticos não irão acreditar. Se andarmos normalmente, sem arranques bruscos e numa faixa de rotação fixa, é possível ter o RCZ R a fazer menos de 7l/100. A sério, é mesmo possível!

O R torna-se portanto no RCZ mais rápido e mais poupado de todos. Razão, também não estás a ajudar nada à emoção…

Em jeito de conclusão, se vale a pena? Claro que sim! Se tem em mente a compra de um desportivo, a linha sedutora do RCZ R vai puxar olhares, mesmo que ande apenas a fazer consumos. Mas já sabe, se precisar de fugir desses olhares, tem 270cv prontinhos a usar, e abusar…

 

 

Peugeot RCZ R 

Especificações: 
Potência – 270cv às 6000rpm
Binário – 330Nm às 1900rpm

Consumo Anunciado (Medido) – 6,3l/100km (7,2l/100km)

Preço:
Gama Peugeot RCZ a partir de 31.680€
Versão ensaiada: 46.785€

Texto e Fotos: Rodrigo Hernandez

Rodrigo Hernandez Fundador e Director Editorial, criou o MotorO2 em 2012 devido a uma tremenda vontade de escrever acerca da sua grande paixão: os automóveis! Paixão essa que existe mesmo antes de falar, já que a sua primeira palavra foi a de uma conhecida marca de automóveis. Sim, a sério!